Saiu no site G1
Veja publicação original: ‘You’ tem homem perseguindo mulher na internet e fora dela. E fez muita gente ficar obcecada…
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Série do Lifetime, disponível na Netflix, se divide entre polêmicas e elogios. Assassinato, masturbação e violação recheiam os dez episódios deste thriller psicológico.
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Por Thais Matos
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Stalkear a @ nas redes sociais se tornou um vício de muita gente. Mas a prática de perseguir alguém pode levar a psicopatia e morte. Essa é a premissa de “You”, novo thriller psicológico produzido pelo canal Lifetime e disponível na Netflix.
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A série estreou na plataforma no final de dezembro e deixou algumas pessoas obcecadas com a obsessão do personagem Joe (Penn Badgley) pela escritora Beck (Elizabeth Lail).
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Joe Goldberg é um gerente de livraria e usa sua habilidade na internet para fazer a escritora se apaixonar por ele. Seus métodos de stalker são surpreendentes e Joe consegue rastrear gostos, amigos, casa e lugares em que a menina está.
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A perseguição vai ficando mais doentia… Tem assassinato, masturbação e violação. Durante os dez episódios, somos convidados a passear pela mente insana do protagonista. E é viciante porque nos faz perguntar até onde esse cara consegue ir.
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Se você chegar até o final, pode ser que se pergunte: Dá para fazer o que ele fez? A história de “You” é possível basicamente por dois elementos:
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- Uma pessoa que use redes sociais para compartilhar detalhes do trabalho e da vida pessoal
- Uma pessoa com problemas psicológicos
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Alerta de stalker
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Muitas produções atuais têm se debruçado nas consequências da exposição nas redes sociais. E “You” foca, principalmente no começo, em alertar de forma quase debochada sobre os perigos da vida compartilhada.
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Para infernizar Beck, Joe usa técnicas e informações básicas:
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- Geolocalização: As pessoas até fazem check-in em lugares. Mas é possível monitorar onde uma pessoa está em tempo real sem que ela faça isso? É difícil, mas dá para localizar celulares por GPS, pelo sinal do celular e até pelo chip.
- Informações de trabalho: Linkedin está aí para mostrar onde as pessoas trabalham, quem são os colegas….
- Senhas fáceis: Joe consegue adivinhar a senha do computador da melhor amiga de Beck com uma conversa com uma de suas colegas. A obviedade da senha é descarada na série, mas muita gente usa senhas óbvias.
- Exposição de sentimentos: Só seguir a moça não era suficiente para Joe. O personagem usou suas tristezas e inseguranças para manipulá-la psicologicamente. Após ganhar intimidade, é possível conhecer as oscilações de humor do parceiro. Mas antes disso, o personagem soube identificar o estado de espírito dela pela frequência das postagens de fotos e por trechos de músicas e livros postados.
- Hackear: Invasão de celular ou computador e um novo mundo a ser desbravado: o offline, não exposto nas redes e bem mais profundo.
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‘Yous’ da vida real
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Série estreou na plataforma no final de dezembro e deixou algumas pessoas obcecadas com a obsessão de Joe (Penn Badgley) pela escritora Beck (Elizabeth Lail) — Foto: Reprodução/Netflix
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Interesse demais pode até parecer amor, mas não é. Ter senhas das redes sociais, controlar os horários, saber quem são todos os amigos e colegas de trabalho e aparecer nos mesmos lugares são alguns dos sinais de que tem alguma coisa errada.
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Em 2013, um aplicativo tentou profissionalizar o stalking. O app “Rastreador de namorado” permitia que ligações, mensagens de texto e a localização de smartphones com o sistema Android fossem acompanhadas em detalhes por outro celular.
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E não faltam exemplos de “Joes” na vida real. Em 2018, um perseguidor de Taylor Swift invadiu sua casa e dormiu em sua cama. A cantora chegou a instalar tecnologia de reconhecimento facial em show para tentar flagrar ‘stalkers’.
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Stalkers não buscam apenas famosos. Há casos de mulheres perseguidas por ex-namorados, colegas de escola, faculdade e trabalho ou desconhecidos.
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Invasão de aparelhos é crime
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A invasão de aparelhos eletrônicos para obtenção de dados particulares já é crime no Brasil desde 2012, após aprovação da lei conhecida como Lei Carolina Dieckmann.
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Já a perseguição pode se tornar crime. Um projeto de lei que tramita no Senado desde 2012 prevê alteração do Código Penal e inclusão de perseguição obsessiva com pena de dois a seis anos.
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Hoje, o assunto é citado apenas na Lei Maria da Penha, que enquadra perseguição contumaz como violência doméstica e familiar contra a mulher.
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Sucesso e polêmica
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“You” inicialmente se vende como mais um show sobre jovens que usam redes sociais demais. Mas a história vai além disso.
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Penn Badgley é protagonista do thriller ‘You’ — Foto: Reprodução/Netflix
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Joe precisa de uns posts e alguns episódios para vasculhar a vida de Beck. Uma vez conquistada a confiança, “You” se transforma em um thriller psicológico sobre psicopatia, toxicidade masculina e violência contra a mulher.
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Explorar a violação progressiva da privacidade e da vida de uma mulher é um assunto que levanta questionamentos. Na internet, teve quem achasse problemática a maneira como a série mostra o personagem.
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Ele faz coisas terríveis, mas tem momentos de bondade. Para alguns espectadores, essas nuances de Joe podem amenizar suas ações e até romantizarem uma situação de violência e assédio.
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Mas a série foi bem avaliada. No site Rotten Tomatoes, que compila críticas, ela segue com 89% de aprovação de jornalistas especializados e 86% dos espectadores.
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Da comédia ao terror
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“You” oscila entre drama e sátira. Há episódios que são uma comédia romântica perfeita. E outros de puro terror. A instabilidade da condução da história faz valer os elogios.
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Outro destaque é o ator Penn Badgley. A história é contada do ponto de vista de Joe, com narração convincente do ator. Badgley já foi um outsider compulsivo por redes sociais e controle na série “Gossip Girl”. Mas qualquer semelhança com seu Dan Humphrey é coincidência.
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A série, original do canal Lifetime e comprada pela Netflix, é baseada no livro homônimo da escritora Caroline Kepnes. Uma segunda temporada já está em produção e adapta a continuação do livro, “Hidden Bodies” (“Corpos escondidos”).
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