Saiu no site UNIVERSA:
Veja publicação original: Violoncelista de favela ganha bolsa para estudar nos EUA, mas pode não ir
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Por Helena Bertho
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A violoncelista Kely Pinheiro, de 20 anos, moradora da favela Grota em Niterói, foi selecionada para estudar com bolsa integral em Berklee, em Boston, uma das maiores escolas de música dos Estados Unidos. Mas ela corre o risco de não ir porque não tem como cobrir os custos de vida lá. “Eu fiz um orçamento e são aproximadamente 15 mil dólares por ano”, contou ela à Universa.
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Apesar de parecer algo impossível para ela, Kely ainda não desistiu do sonho. “Eu já não achava que ia nem entrar na faculdade, nem conseguir a bolsa, então fui vendo que esse sonho pode sim se tornar realidade”.
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Começou na música porque a mãe precisava trabalhar
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Desde os cinco anos de idade, a música faz parte da vida de Kely. Filha e neta de domésticas, ela entrou no projeto social Orquestra de Cordas de Grota, porque não tinha com quem ficar depois da escola. Lá vieram as aulas de diversos instrumentos e a menina se encontrou na música. Aos 12 anos, começou a tocar violoncelo e nunca mais parou. Além de tocar, ela também faz arranjos musicais.
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A música foi um fator de transformação na minha vida, foi por ela que eu criei meu caráter, quem eu sou hoje
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Ela passou por diversas orquestras jovens do Rio de Janeiro e, várias vezes, chegou a se questionar se a música era mesmo um caminho a ser seguido. “Ninguém na escola pensava em trabalhar com músico. Todo mundo queria ser médico, engenheiro… Então na época da faculdade, eu fiquei em dúvida”, conta. Mas apesar da dúvida, decidiu seguir o caminho e começou a estudar música na Unirio.
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Foi na faculdade que o sonho de estudar na Berklee começou a surgir. “Tinha vários professores que estudaram lá, que diziam que eu devia ir. Mas, embora isso fosse um sonho, eu nunca achei que iria mesmo”.
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“Não acreditava que tinha sido selecionada”
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No final de 2017, ela conheceu o professor de piano de Berklee Gilson Schachnik em um trabalho com a orquestra na qual toca. Na época, ela fez os arranjos para uma gravação e encantou o professor. Meses depois, ele a procurou para avisar da seleção para a escola de música. “Custa 150 dólares a inscrição, então eu nem ia tentar. Mas ele conseguiu isenção para mim”.
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Como teve apenas alguns dias para se preparar, Kely participou da seleção sem muitas esperanças. “Eu sabia que as pessoas treinam um ano todo para essa prova, achava que não tinha chances”. E foi com grande surpresa que recebeu a carta de aprovação da escola.
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Mesmo assim, ela ainda achou que não iria, porque o custo da mensalidade é de quase R$ 21 mil. Mas, mais uma vez, foi surpreendida com uma nova carta um mês depois, informando que tinha conseguido bolsa integral. “Eu não acreditava, precisei mandar e-mail para o Gilson para confirmar”, lembra. E era, sim, verdade.
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Vaquinha para poder ir.
Depois da euforia com a notícia, veio a realidade e Kely começou a pensar nos custos que teria para morar fora. Foi aí que veio o desânimo e, mais uma vez, o professor foi quem a incentivou. Ele decidiu iniciar uma vaquinha para levantar o dinheiro que ela precisa.
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Juntos, Kely e Gilson estão entrando em contato com artistas e pessoas que possam ajudar. Ela recebe as doações e professor se comprometeu a fazer uma prestação de contas detalhada uma vez que a jovem estiver nos Estados Unidos. Além disso, Kely se comprometeu a dar aulas de música de graça para crianças da periferia quando voltar para o Brasil.
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