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Violência contra a mulher: na amamentação e durante o sono, vítimas contam detalhes de agressões

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Por Paola Patriarca*, G1 Itapetininga e Região

Três mulheres contam como sofreram agressões em Itapetininga, interior de São Paulo. “Ele queria que eu perdesse a criança e, com isso, me agrediu”, diz uma das vítimas.

Agressão física após o fim do relacionamento, durante a gravidez, na amamentação ou até durante o sono. Esses são alguns exemplos de como aconteceram os casos de violência contra mulheres registrados em Itapetininga (SP) nos últimos quatro anos. Dados da Delegacia de Defesa da Mulher apontam que somente no mês de maio deste ano foram 113 casos registrados de violência contra a mulher na cidade, entre eles denúncia de agressões verbais, lesões corporais e atentado ao pudor. Além disso, foram 34 medidas protetivas requisitadas. Já no primeiro semestre do ano passado, o município registrou 150 casos.

“Tivemos um aumento em relação ao ano passado, certamente. Mas, principalmente, de denúncia também. São muitos casos, entre eles crimes contra a pessoa, não criminais, lesões e até atos infracioanis. O que percebi é que as mulheres estão denunciando mais. Para muitas, a parte mais difícil é chegar até a delegacia”, afirmou ao G1 a delegada Leila Terdelli.

As agressões – verbais ou físicas- registradas no município aconteceram de diferentes formas, porém, as marcas deixadas nas vítimas são as mesmas: a da violência. Uma das mulheres, que preferiu não ser identificada, contou que passou a ser agredida após o namorado descobrir a gravidez.

“Não dá para esquecer e apagar da memória. Ele queria que eu perdesse a filha. É uma ferida que não vai cicatrizar. Ele queria que eu perdesse a criança e essa era a intenção dele. Com isso ele fez várias agressões”, afirma.

Agressão aconteceu durante amamentação, conta mulher (Foto: Reprodução/TV TEM)

Agressão aconteceu durante amamentação, conta mulher (Foto: Reprodução/TV TEM)

Segundo ela, o homem a proibia de usar o celular e o computador para evitar que alguém soubesse o que acontecia dentro de casa.

“Ele me deixava trancada. Me privou de todos os contatos com o mundo externo, família, amigos. Não me deixava usar redes sociais. Ele quebrava meus aparelhos celulares para que eu não entrasse em contato com minha família para não contar o que estava acontecendo. Ele saia para trabalhar à noite e me deixava presa no quarto escuro, sem comida, sem água e sem banheiro. Na época eu estava grávida e precisava ir ao banheiro toda hora, porém só conseguia usar quando ele chegava de manhã. E ficava no quarto escuro, porque ele tirava a lâmpada do quarto para que eu não conseguir ficar na claridade”, relata.

Foi após o nascimento da filha que a moradora denunciou o homem. “Fui levantar para dar de mamar na minha filha e ele me deu um chute na minha cesárea. Me agrediu porque minha filha estava chorando. Fui no hospital e lá, minha mãe e os médicos chamaram a polícia. Me disseram que eu poderia ter perdido a criança, devido à quantidade de agressões. Então para mim, ela ter nascido e não ter nenhum problema, é o que me dá força. Ela e minha família”, conta.

Após o fim do relacionamento

Número de casos de violência contra a mulher aumentou, diz DDM de Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

Número de casos de violência contra a mulher aumentou, diz DDM de Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

Para uma mulher, que também prefere não ser identificada, os problemas com o ex-companheiro começaram após o término do relacionamento. De acordo com ela, o homem falava sobre o as denúncias de maneira negativa.

“Ele falava da Lei Maria da Penha. Me preparava desde o começo, no meu psicológico. Ele falava que a lei era só vagabunda que fazia, era mulher que não tinha vergonha na cara e que queria tirar proveito financeiro para entrar com a lei”, afirma.

Já para outra moradora, as agressões aconteceram enquanto ela dormia. “Eu deitei para descansar e só lembro que ele me puxou pelo cabelo do local onde estava dormindo e começou a me chutar e me ofender. Lembro também que consegui me levantar para pedir ajuda e ele me derrubou de novo no chão”, afirma.

Segundo ela, não foi a primeira vez. “Eu achei que iria morrer. Na verdade eu não conseguia sair das mãos deles, com certeza, o que veio na minha cabeça é que eu ia morrer”, diz.

Vítima relata violência contra mulher sofrida em Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

Vítima relata violência contra mulher sofrida em Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

Denúncia

Delegada Leila Tardelli fala sobre importância de denunciar casos de agressão (Foto: Reprodução/TV TEM)

Delegada Leila Tardelli fala sobre importância de denunciar casos de agressão (Foto: Reprodução/TV TEM)

Segundo dados do estudo de violência contra a mulher, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, uma mulher morre vítima de feminicídio a cada uma hora e meia no Brasil. Em 99% dos casos, a mulher estava em um ciclo de violência que começou apenas com uma discussão. O país ainda ocupa a quinta posição entre os países onde mais se matam mulheres apenas pelo seu gênero.

As três mulheres entrevistadas conseguiram denunciar à polícia a violência. Mas, segundo a delegada da Delegacia de Defesa da Mulher Leila Tardelli, nem todas denunciam. Com isso, as agressões aumentam e o resultado muitas vezes é o feminicídio.

“A mulher precisa desmistificar essa vinda a delegacia. Eu entendo que a violência começa com as ofensas verbais. Nesse momento ela precisa procurar a orientação, porque esperar ser agredida fisicamente para pedir ajuda? Se algo esta errado, se o relacionamento não tem mais aquele respeito, é importante tentar entender qual o mecanismo, de que forma ela vai sair daquela situação de violência”, afirma.

Os casos de feminicídio podem ser registrados em qualquer delegacia, mas a investigação, na maioria das vezes, fica por conta da Delegacia da Mulher. A vítima que procura a polícia civil recebe ajuda de vários profissionais. O problema, segundo a delegada, é que em muitos casos as mulheres acabam retirando a queixa. Isso é possível nos casos de ameaça, injúria e difamação. Elas acreditam que o marido vai mudar, o que quase nunca acontece. Outro mecanismo de ajuda, é a Lei Maria da Penha, criada em 2006. É ela que garante a medida protetiva.

“Eu acho que os dois artigos mais importantes da lei são aqueles que se referem às medidas protetivas de urgência. São medidas que obrigam o agressor até ao afastamento do lar, justamente para prevenir a violência. Então, devemos trabalhar com a prevenção e não esperar que algo aconteça para tomar outras medidas”, diz a delegada.

Delegacia de Defesa da Mulher de Itapetininga registrou mais de 100 casos de violência contra a mulher em maio (Foto: itapetininga, delegacia da mulher, ddm)

Delegacia de Defesa da Mulher de Itapetininga registrou mais de 100 casos de violência contra a mulher em maio (Foto: itapetininga, delegacia da mulher, ddm)

Superação

Samira Albuquerque é coordenadora do projeto “Abrace” em Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

Samira Albuquerque é coordenadora do projeto “Abrace” em Itapetininga (Foto: Reprodução/TV TEM)

Samira Albuquerque é coordenadora do projeto “Abrace”, criado em 2015 para ajudar mulheres vítimas de violência. As que procuram o grupo recebem apoio de vários profissionais e também outras vítimas também.

“Elas são as protagonistas, pois elas estão ali se apoiando, independente de cada situação, com suas peculiaridades. Elas reconhecem entre elas muitas afinidades que elas passaram nesse ciclo de violência, e as que estão mais fortes que já conseguiram retomar suas vidas, dão forças para aquelas que ainda estão vivendo dentro deste ciclo. É uma corrente do bem que tem aumentado cada vez mais”, afirma.

E tentar esquecer tudo o que aconteceu é uma luta diária pra essas mulheres. São feridas abertas, que não cicatrizam. Porém, muitas afirmam que, mesmo depois de anos de sofrimentos, dá para seguir em frente e voltar a viver.

“Eu não tenho medo, não tenho dificuldade em fazer nada que eu quero fazer. Muito pelo contrário. Eu quero aproveitar o máximo do tempo que eu perdi com ele. No meu caso é levantar a cabeça e deixar claro para outras pessoas para ficar de olho nessas mensagens e através de ações que não percebam. Às vezes você acha que ele está com ciúmes que é normal, que ele te ama, mas isso não é ciúmes, é posse”, conta uma das vítimas.

*Com informações de Maria Eliza Rosa e Thiago Vasconcellos/TV TEM

Publicação Original: Violência contra a mulher: na amamentação e durante o sono, vítimas contam detalhes de agressões

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