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Violência: “A quarentena foi uma lua de mel para o agressor”

 

Saiu no site DELAS – PORTUGAL

 

Veja a publicação original:  Violência: “A quarentena foi uma lua de mel para o agressor”

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Por Carla Bernardino

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Com o terceiro período de desconfinamento em marcha e com as pessoas a regressar paulatinamente ao trabalho, ainda é demasiado cedo para começar a fazer todas as contas relativas à violência doméstica em tempo de quarentena. Ao Delas.pt, o psicólogo e responsável da Associação Portuguesa De Apoio à Vítima (APAV), Daniel Cotrim, revela que o número de pedidos recebidos em maio último “é superior aos meses anteriores, mas está abaixo do comparado em igual período do ano passado”.

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E se, durante o isolamento social, as autoridades e associações revelaram que números de denúncias tinham baixado, justificando-se tal com o facto de vítima e agressor estarem obrigados a viver sob o mesmo teto, agora é tempo de perceber o que está a justificar esta ainda quebra nos dados. “Pode ser já um prenúncio da crise económica a afetar as mulheres”, antecipa Daniel Cotrim. Por isso, o especialista volta a falar de um período de “alegada tranquilidade” que tem de ser olhado com particular atenção.

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“Sabemos que as crises prejudicam os mais valoráveis e as crises económicas prejudicam muito as mulheres. Na última (2011-2013), as denúncias por violência doméstica tinham diminuído, o medo das pessoas em sair de casa pelas questões económicas era muito grande. E esse período vai-se viver outra vez. Por isso é que importante a prevenção, redes articuladas e integradas, com diferentes olhares e multidisciplinares”, antecipa o especialista.

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Antes do final do ano crê que será difícil fazer as contas a esta realidade. Porém, o psicólogo lembra que vêm aí períodos duros para as vítimas sobretudo porque o regresso ao trabalho, a saída de casa, vai fazer com que os agressores voltem a estar mais desconfiados e com maior necessidade de controlo. “Não nos podemos esquecer que grande parte destes agressores é movida pelo ciúme, com a vítima em casa a quarentena foi um momento de lua-de-mel para o agressor. Ele podia controlar-lhe todos os passos, com quem a vítima falava. Agora, a vítima vai voltar a escapar-lhe ao controlo”, teme o psicólogo. “Até acredito que possa ter havido menor violência física nesse período, mas houve uma maior violência sexual e psicológica”, diz Cotrim, evocando a possível cedência da vítima em muitos aspetos para evitar a escalada de conflito.

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Os vizinhos e a rede de casas para a pandemia

Recorde-se que foram, para lá das redes que continuaram a trabalhar e a acompanhar os casos já identificados, criadas estruturas para receber e acolher novos casos, inclusivamente uma linha telefónica anónima para denúncias e cujos efeitos foram logo notados.

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Ao Delas.pt, a APAV diz ter registado outras oscilações dignas de nota: “Nos nossos dados, o número de contactos de terceiros, como vizinhos e amigos, para fazer denúncias aumentou. Percebemos que houve alguma solidariedade, cidadania ativa, tudo isto foi mais evidente e obrigou a gerir todos estes contactos com cuidado”, conta Daniel.

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Quanto às cerca de cem vagas criadas para receber vítimas, uma das casas ficou a cargo da gestão da APAV e a pedido da Secretaria de Estado para. Cidadania e Igualdade. Esta estrutura, antecipa o psicólogo, “já encheu pelo menos duas vezes, desde o princípio de abril”, refere o especialista. Que descreve: “O grosso de situações que temos acolhido nos centros de emergência são marcadas pelo stress emocional e ambiental dos tempos que vivemos, casos oriundos de famílias mais ou menos disfuncionais. Há pontualmente violência doméstica, mas não é encarada nem percecionada pelas vítimas como algo grave.”

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Conta Daniel Cotrim que, na maioria dos casos, “as vítimas diziam que queriam retornar para as suas casas, chegavam mulheres sozinhas, desvalorizando a violência, o conflito e deixando os filhos em casa com a agressor, saíam como prova de resistência”. Um regresso feito geralmente após 14 dias de quarentena.

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Sobre o futuro, o psicólogo não consegue antecipar os resultados desta tendência, mas salvaguarda desde logo que “estas mulheres, quando regressam a casa, não ficam isoladas. Passam a ser acompanhadas de perto.”

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