Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Vencedora do Masterchef relembra “dose de discriminação” na França
A chef de cozinha viveu por três anos na França, onde aprendeu as técnicas de gastronomia em alguns dos melhores restaurantes do país. Em entrevista a Marie Claire, Elisa revelou que nem tudo são estrelas, batalhou para conquistar seu espaço, abordou sobre o machismo na cozinha, e contou sobre os planos de abrir seu próprio negócio no Brasil
lisa Fernandes ganhou o primeiro título de Masterchef do Brasil e desde então tem se dedicado à vida de chef de cozinha. Aos 27 anos, ela volta ao país depois de morar três anos na França, onde estudou na renomada escola Le Cordon Bleu – cortesia do programa para o vencedor – e trabalhou no restaurante Alain Ducasse au Plaza Athénée. O estabelecimento alcançou o 13º lugar no ranking dos melhores restaurantes do mundo, além de três estrelas no guia Michelin.
Mas não pense que é tarefa fácil conquistar espaço. Elisa precisou ralar bastante. “Rola um clima de competição entre os funcionários e uma dose de discriminação por eu ter sido nova na área, mulher e estrangeira. Mas, pouco a pouco, conquistei meu respeito e aprimorei minhas habilidades”, disse em ntrevista a Marie Claire.
Em seguida, a chef foi convidada por Alain Ducasse a trabalhar na cozinha do La Bastide de Moustiers, onde foi chef de partie, responsável por cozinhar as guarnições, molhos e pela cocção de carnes e peixes. Sua experiência fez com que Elisa criasse coragem para abrir seu próprio negócio no Brasil, e segue firme nesse objetivo. “Senti que era hora de arriscar no Brasil uma cozinha simples e verdadeira, modelada pelo aprendizado dos últimos anos”.
Em bate-papo com a revista, a ex-participante do reality show da Band contou mais sobre sua experiência durante e após o programa, sobre seu período em solos franceses, comentou sobre seus planos e abordou o machismo ainda latente nas cozinhas. Confira:
Masterchef
“Eu sempre terei um carinho e uma enorme gratidão pelo Masterchef e por todas as portas que se abriram a mim graças à exposição na televisão. É graças ao programa que consegui mudar de carreira e viver uma trajetória de realização profissional. Mas, como minha vida deu uma virada enorme depois de ganhar a primeira edição, acabei me distanciando de tudo que me relacionava ao programa. Não intencionalmente, mas porque era hora de focar na carreira na cozinha e colocar em pausa na parte mais “TV” da vida. Hoje em dia participaria do programa de novo, mas apenas pela diversão de rever os colegas.”
Temporada na França
“O trabalho em uma cozinha profissional e, especialmente no restaurante estrelado como é o caso do restaurante do Alain Ducasse – um dos chefs mais prestigiados da França, tem um ritmo um pouco “militar”. São de 12 a 16 horas de trabalho por dia, muitas vezes sem pausa durante a jornada, que você não pode sentar, nem descansar por um minuto. O ambiente é quente, trabalhamos com materiais cortantes e a dinâmica é fisicamente muito pesada.Psicologicamente também. É um pouco estressante, pois é baseada numa hierarquia bem inflexível, onde levam meses ou anos até poder tocar numa panela. Rola um clima de competição entre os funcionários e uma dose de discriminação por eu ter sido nova na área, mulher e estrangeira. Mas, pouco a pouco, conquistei meu respeito e aprimorei minhas habilidades. Durante a minha estada na França, além de ter trabalhado no Plaza Athenée e na La Bastide de Moustiers, pude também fazer um bom tour entre os restaurantes estrelados e descolados – tanto em Paris quanto no sul do país e em Mônaco – durante um rápido estágio de férias no Louis XV. Pude participar do evento gastronômico social promovido por Massimo Bottura durante os Jogos Olímpicos, na companhia do chef Ducase. (Refettorio Gastromotiva). Além de conhecer muito bem Paris, durante minha estadia no sul, pude conhecer alguns dos mais belos cartões postais da França, como os campos de lavanda, os gorges du verdon e a côte d’azur.”
Retorno ao Brasil
“Vivi muita coisa na França e me sinto muito privilegiada por poder aprendido através das oportunidades com o chef Ducasse. Mas senti que era hora de arriscar no Brasil uma cozinha simples e verdadeira, modelada pelo aprendizado dos últimos anos. Uma cozinha que privilegia os vegetais e cereais cozinhados de maneira natural, porém técnica e refinada. Graças a Deus, me mantive sempre de olhos abertos na cozinha que tem sido feita no Brasil e fiquei muito tentada a voltar para cozinhar e mostrar um pouco das minhas preferências e forma de trabalhar. Seria arrogante dizer que a minha cozinha é isso ou aquilo, porque acredito que a carreira de um cozinheiro se faz pelo desenrolar de uma vida, e eu estou apenas me munindo de técnicas pra cozinhar o que eu realmente gosto. Mas, resumidamente, posso dizer que minha cozinha é eclética, valoriza o ingrediente e dá destaque aos legumes. Esse ano farei jantares privados em São Paulo, que poderão ser comprados pela Internet com antecedência, num formato aberto ao público. As primeiras datas são 15, 16 e 17 de março, são 24 couverts por dia, e a divulgação de maiores informações será feita pelo meu Instagram pessoal e mídias convencionais.”
Machismo
“Eu acho que o machismo permeia todos os aspectos da nossa cultura e não tem nada que escapa dele. Mas acho que a sociedade, de um modo geral, está tomando uma consciência sobre e acredito que a tendência é de mudança. No Plaza Athenee, vi isso acontecer porque quando cheguei, eu era única mulher dentro da cozinha, mas quando deixei de trabalhar lá, um ano e três meses depois, tínhamos uma brigada metade homem, metade mulher. Isso porque o chefe executivo do Plaza é um cara bem “para frente”. Ele quis implementar essa mudança. Então, sim, eu acho que está mudando. Ainda temos muito o que lutar para desconstruir o cenário majoritariamente masculino da cozinha, mas estamos no caminho.”
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