Saiu no G1
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Não queria que fosse algo demagogo’, diz catarinense Manuela Tecchio.
Canção já teve mais de 73 mil acessos poucos dias após ser postada.
Ouça bem, mulher/
mude logo sua conduta/
que essa moda feminista/
é um jeito chique de ser p…
A frase poderia estar na boca de um homem incomodado, mas sai da voz afinada de uma estudante de 20 anos, com uma melodia “fofinha” de violão ao fundo. Cheia de ironia, a música tem feito sucesso nas redes sociais desde que foi postada pela catarinense Manuela Tecchio, há quase duas semanas.
Desde o dia 24 de junho, quando foi publicada em um canal na internet, até esta terça (7), a música “A louca” já havia sido ouvida mais de 73 mil vezes. A canção, composta há alguns meses, depois de um papo de bar entre mulheres, traz o ponto de vista de um homem machista.
“A música toda é uma ironia. Eu não queria que fosse uma coisa demagoga, um jingle de campanha. O machismo já é ridículo por si só”, diz a jovem, que integra o coletivo feminista Jornalismo Sem Machismo e está no 6º período de jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Frases como “ela tá achando que eu sou trouxa, se namorando no espelho, de roupa que não cobre a coxa, sorrindo de batom vermelho” e “vou ter que cortar as asas pela honra do meu lar” foram pinçadas da conversa no bar com as amigas e transformadas por Manuela em música.
Primeiro ela gravou um vídeo (veja acima), postado em um grupo interno de uma rede social. A canção fez tanto sucesso entre as amigas que elas incentivaram Manuela a fazer uma gravação mais “profissa”, no estúdio de rádio da faculdade.
“O ritmo dela é meio cômico, meio Clarice Falcão. As meninas todas adoram, cantam e riem muito. Queria mostrar como esse discurso é ridículo”, conta Manuela, que começou a cantar aos 10 anos, em Centros de Tradição Gaúcha (CTGs), e depois migrou para a MPB.
‘Não era coisa de meninas’
Criada em uma cidade pequena no Oeste catarinense, ela conta que sempre teve de lidar com ideias machistas.
“Cresci ouvindo que não deveria jogar futebol, porque não era coisa de meninas. Depois, no jornalismo, ouvi que não podia cobrir determinada pauta pelo simples fato de ser mulher. Nunca tive namorado sério e as pessoas me questionam, como se eu precisasse ter um homem ao meu lado. Sempre gostei de ser livre”, diz a jovem.
Manuela afirma que a maioria dos comentários positivos que ouve sobre a música são de meninas. Mas, segundo ela, é justamente entre mulheres que o machismo se perpetua. “Há uma tendência de julgar as ‘periguetes’. Em vez de aproveitar a liberdade conquistada nos últimos anos, há uma competição. As meninas têm que se ajudar e dar poder uma para a outra”, diz a estudante.
A ideia do título da música, segundo Manuela, foi dada ironicamente por meninos que chamavam as integrantes do coletivo de “as loucas”. “Rolam comentários, mas isso não me afeta de maneira alguma. Espero que a música possa pelo menos inibir essas pessoas”, diz Manuela.
E, já se adiantando aos questionamentos que a letra deve provocar, é do “machista” da canção que vem a pergunta que Manuela não quer fazer calar:”Quem te deu esse direito, moça, quem você pensa que é?”