Saiu no site FOLHA DE S.PAULO
Veja publicação original: Um passo além do empoderamento feminino: a equidade como alavanca para os negócios
.
Por Renata Truzzi
.
Há décadas organizações sociais e governos de todo o mundo vêm tentando empoderar as mulheres, ajudando-as a ocupar lugares antes restritos aos homens.
.
Para estudiosos e curiosos é possível ver muito avanço em relação aos direitos das mulheres e aos espaços que ocupam. Suas vozes passaram a ser ouvidas, suas ações reconhecidas e seus empreendimentos considerados para investimentos.
.
Mas para todas nós, que estamos nessa luta há tantos anos, os resultados não parecem ser tão animadores assim.
.
Indicadores dos quais não temos nenhum orgulho foram lembrados no evento Ganha Ganha – Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios, promovido pela ONU Mulheres em São Paulo. O seminário visa promover o financiamento inovador através do investimento inteligente em gênero.
.
.
Indicadores mais positivos nos inspiraram a continuar a reflexão em busca de soluções para mudanças mais rápidas e efetivas em relação à equidade de gênero e diversidade.
.
É fato que mulheres em liderança ampliam o market share da empresa e aumentam a lealdade do consumidor com a marca e geralmente trazem junto suas famílias e comunidades, e mulheres como clientes de investimentos aumentam os KPIs (indicadores de performance) dos instrumentos financeiros.
.
Além disso, as mulheres estão guiando a economia global: US$ 1,5 trilhões em crédito estimados serão demandados por mulheres donas de pequenas e médias empresas nos países emergentes nos próximos anos; 870 milhões de mulheres irão participar da economia de seus países pela primeira vez em 2020; US$ 20 trilhões gastos em consumo são controlados pelas mulheres.
.
Os experts presentes no evento confirmaram que os casos de sucesso aumentam a cada dia. Mas há certo desconforto em reconhecer que as mulheres ainda não são alvos dos principais instrumentos financeiros existentes no mercado global.
.
Nesse contexto e, em busca de respostas, surgem outras perguntas: por que as mulheres ainda não se sentem atendidas por bancos e instrumentos financeiros tradicionais?
.
Por que até mesmo os investidores, que já utilizam um critério de gênero, enfrentam dificuldades em captar recursos para seus fundos?
.
.
Os presentes do Ganha Ganha, quase que em uníssono, afirmaram que precisamos deixar de tratar do tema de gênero como caridade, problema, barreira, um nicho.
.
Precisamos enfatizar os resultados dos casos de sucesso, mensurar e compartilhar as métricas dos negócios liderados por mulheres e dos investimentos em mulheres, promover soluções aliadas a investimentos femininos.
.
É preciso tratar do tema pela ótica da riqueza e não da pobreza, da solução e não do problema.
.
As mulheres são potenciais clientes e sócias, e não beneficiárias. Ao posicionarmos esses casos como negócios —e não caridade—, certamente avançaremos a resultados ainda melhores e mais ágeis.
.
O networking é algo em que os homens estão bem mais avançados. O mundo precisa de mais mulheres apoiando outras em todos os espaços.
.
Ficou claro também que ao deixar de acreditar nesses mitos não quer dizer que estamos falando de mulheres versus homens, mas sim de mulheres e homens melhorando seus negócios em busca de maior produtividade, impacto social, ambiental e maior lucro.
.
Em 2019, a NESsT iniciou um trabalho com o seu portfólio global de negócios socioambientais investidos, visando num primeiro momento mapear o estado da questão de gênero entre empreendedores, suas equipes e seus beneficiários para que depois possamos ter um plano de ação para melhorias visando maior equidade.
.
Visamos influenciá-los positivamente na agenda de gênero para que melhorem também seus outros indicadores: impacto social, performance, lucratividade. No futuro olharemos para gênero desde a nossa seleção de negócios para investimento.
.
Felizmente, organizações como a ONU Mulheres têm trabalhado fortemente na busca e promoção de instrumentos financeiros focados nas mulheres, assim como instrumentos de referência para que investidores como a NESsT possam aprimorar sua metodologia em busca de um mundo com maior equidade.
.
Não poderíamos concordar mais com a fala de Khetsiwe Dlamini, chefe de gabinete da ONU Mulheres. “As mulheres não precisam ser empoderadas, mas o mundo, sim, precisa ser empoderado pelas mulheres.”
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.