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Tudo é estatística, até que você ouça

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Veja publicação original:    Tudo é estatística, até que você ouça

 

POR #AGORAÉQUESÃOELAS

Por Nadine Gasman*

“Eu preciso de uma viatura com urgência aqui! O meu marido quase me matou!” Esse é o grito desesperado de uma das mulheres que pediram socorro para a polícia militar de Santa Catarina. Os áudios, cedidos para a Cabine de Reações ElesPorElas, produzida pelo Canal GNT, representam as mais de 220 mil mulheres em situação de violência que receberam atendimento no período de um ano no Brasil.

 

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A Cabine captou as reações de participantes do evento Teia GNT ao entrarem em contato com as tristes e impactantes histórias de violência doméstica contra as mulheres. Com mais de 7.5 milhões de visualizações online, o vídeo produzido na Cabine logo viralizou.

 

 

Os áudios despertam a empatia das pessoas por exporem o sofrimento de mulheres em situação de violência doméstica. Alguns dos depoimentos emocionados diziam não entender o que leva um homem a agredir uma mulher de um modo tão violento. E foi justamente com o objetivo de jogar luz sobre a questão de comportamentos e atitudes nocivas exercidas pelos homens, e como esses impactam negativamente a vida das mulheres, das meninas, e dos próprios homens e meninos, que o movimento ElesPorElas HeForShe foi criado.

 

 

Os números nos mostram a gravidade do problema: 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil, segundo o mais recente Mapa da Violência contra as Mulheres. O Brasil está em quinto lugar no ranking mundial de assassinato de mulheres.

 

 

Apesar das estatísticas, muitas pessoas, em especial os homens, ainda acham que não são responsáveis por acontecimentos tão trágicos. O problema é que a violência contra as mulheres é cultural e é extremamente comum. 1 em cada 3 mulheres sofre violência física ou sexual ao longo da vida. E a maior parte dos agressores são seus parceiros ou familiares.

 

 

A Central de atendimento à Mulher – Ligue 180 – recebe mais de 140 mil relatos de violência por ano, incluindo violência física (50,70%), psicológica (31,80%), moral (6,01%), sexual (5,05%), patrimonial (1,86%), cárcere privado (4,35%) e tráfico de pessoas (0,23%). Foram mais de 3 mil ligações por dia em 2016. E essas são apenas as denúncias registradas.

 

 

Denunciar não é fácil, especialmente nos casos em que as agressões partem de uma pessoa com quem a vítima tem relações de afeto, pois, além de desestruturar o cotidiano e envolver questões diversas (emocionais, dependência financeira, falta de alternativa, falta de acolhimento dos serviços, da família, da comunidade ou mesmo da sociedade), em muitos casos, as mulheres estão sob ameaça de morte.

 

 

As pessoas que fazem a denúncia nem sempre são as vítimas, mas, sim, testemunhas. Mesmo assim, é importante notar que 80% das testemunhas que efetuam essas denúncias são mulheres. Mulheres que se colocam no lugar de outras mulheres.

 

 

Na cultura do “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”, os homens ocupam uma posição de privilégio. Justamente por isso, os números podem soar impessoais para os homens, mas não para as mulheres. Essas mulheres foram criadas numa cultura onde o medo de andar sozinha na rua e o assédio em espaços urbanos é naturalizado.

 

 

Vivemos em uma sociedade que legitima a discriminação das mulheres por meio da divisão estereotipada de papeis de gênero, onde os homens exercem o poder e as mulheres são subordinadas. A cultura machista supervaloriza as características físicas e culturais associadas ao sexo masculino e alimenta uma crença de que os homens são superiores às mulheres. Para cada dominador, existe uma pessoa dominada. Para cada agressor, existe uma pessoa agredida.

 

 

A fim de mudar esse cenário, é necessário enfrentar o machismo e transformar o nosso entendimento de masculinidades. As agressões físicas, morais e, em última instância, o assassinato de mulheres ou o próprio suicídio dos homens, são consequências de uma série de estereótipos e papeis atribuídos aos homens, como a valentia exercida através da violência, as restrições emocionais, a afirmação de sua masculinidade por meio do assédio a da violência sexual contra mulheres, entre outros.  O modelo social de masculinidades que vivemos hoje é tóxico, reprime e limita homens e mulheres.

 

 

Essa discriminação coloca as mulheres em uma situação de vulnerabilidade. São comuns os casos em que a violência sequer é reconhecida como violência, seja pelo agressor, pela vítima ou mesmo por profissionais responsáveis pelo cuidado. Ainda mais comuns são os casos em que a vítima é silenciada.

 

 

Desnaturalizar esses padrões e construir uma cultura de igualdade entre homens e mulheres requer um novo entendimento social de que as masculinidades podem – e devem – ser positivas e plurais.

 

 

Como na Cabine de Reações, o movimento HeForShe coloca os homens em contato com as consequências nocivas dos estereótipos de gênero. Sem o envolvimento dos homens, não será possível fazer uma transição para uma cultura em que todas as pessoas são respeitadas, independentemente do sexo, gênero, raça ou etnia. Precisamos que os homens sejam parte desse movimento de reeducação para impedir a perpetuação da cultura de violência contra as mulheres e contra todas as pessoas.

 

 

A nossa sociedade precisa acordar. É preciso reagir. Na ONU, nós trabalhamos sob o princípio de “não deixar ninguém para trás”. A responsabilidade de romper com os estereótipos de gênero para o enfrentamento da violência contra as mulheres é de todas e todos nós, não somente porque poderia ser comigo, contigo, ou com as nossas filhas, mas porque todas as pessoas têm o direito humano de viver livres de todas as formas de violência.

 
Faça parte do movimento ElesPorelas HeForShe pela igualdade de gênero. Assine o compromisso no site www.ElesPorElas.org

 

Por Nadine Gasman é representante da ONU Mulheres no Brasil.

 

 

 

 

 

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