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Pesquisa realizada a pedido da Serasa considera a região Sudeste; no País, 93% das mulheres participam ativamente das finanças de suas famílias
Três em cada 10 mulheres na região Sudeste são as únicas provedoras de renda de suas famílias. Entre as várias funções exercidas, além do trabalho dentro e fora do lar, o público feminino lidera o pagamento das contas básicas, a organização com o dinheiro em geral e a regularização de pendências financeiras, como aponta o estudo realizado pelo Instituto Opinion Box, a pedido da Serasa.
A corretora de imóveis Vanessa Pozo, de 47 anos, de Santa Bárbara d’Oeste, é uma dessas mulheres. Mãe de três filhos, sendo que um já está casado, ela diz que sustenta a casa sozinha há muitos anos. “Sou mãe solo, o pai é ausente e não paga pensão. Desde que são pequenos [o caçula tem 15 anos], a única fonte de renda é minha”, afirma.
Vanessa recorda que no passado, quando ainda não morava em Santa Bárbara, mantinha uma empresa e trabalhava como corretora ao mesmo tempo para dar conta dos gastos. Atualmente, ela diz que tira o sustento dela e dos outros dois filhos só do trabalho como corretora.
“Já tive momentos difíceis, que tivemos que viver com o mínimo necessário. E ainda temos altos e baixos, mas consigo proporcionar uma vida digna para meus filhos, sem luxo, mas sem deixar faltar o essencial”.
A pesquisa ouviu 1.203 moradoras nos quatro estados da região Sudeste: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Para conseguir manter o padrão de vida, 70% das mulheres disseram que precisaram fazer algum “bico” ou trabalho informal para complementar a renda. Os trabalhos de limpeza e revendedora são os mais procurados.
A psicóloga Valéria Meirelles acredita que essa tendência se deve às mudanças no perfil e no comportamento do público feminino, cada vez mais independente sob o ponto de vista financeiro.
“Casadas, solteiras, separadas, com ou sem filhos, hoje as mulheres se lançam sem medo no mercado de trabalho e assumem controle sobre as suas próprias finanças”, diz a doutora em Psicologia Clínica com ênfase em Psicologia do Dinheiro.
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Valéria percebe “maior visibilidade e relevância” das mulheres no aspecto econômico, deixando no passado o tempo em que dinheiro era assunto de homem. “O valor da mulher nas finanças de casa sempre existiu, mas era algo interno, associado ao que chamamos de ‘economia do cuidado’. Mesmo sem gerar renda, elas produziam o trabalho de cuidar da casa e, dessa forma, economizavam em despesas, como alimentação, limpeza e outras”, explica. “Mas não eram reconhecidas como líderes do processo”, completa.
Entretanto, essa independência vem acompanhada de desafios. Segundo o estudo, seis em cada dez mulheres enfrentaram atrasos em pelo menos uma conta no último ano, com dívidas no cartão de crédito e contas de luz sendo as mais frequentes.
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O desafio de gerenciar um orçamento com uma única fonte de renda é significativo, especialmente para mulheres de camadas mais baixas da população, que frequentemente se desdobram em múltiplos empregos para garantir o sustento da família. “Vemos mulheres que limpam escritórios durante a semana e casas aos finais de semana, vendem produtos de beleza ou preparam comida para vender”, detalha Valéria, apontando para a dupla jornada que muitas enfrentam.
Além das implicações econômicas, há também um custo emocional e físico. O trabalho constante e a pressão para equilibrar finanças e cuidados familiares podem levar a um maior desgaste, afetando a saúde das mulheres, alerta a psicóloga.
Moradora de Americana, a técnica de enfermagem Suzel Montemor, de 55 anos, mantém três trabalhos para dar conta das despesas, mas diz que a energia não é mais a mesma e se sente cansada.
Mãe de dois filhos, ela trabalha como técnica de enfermagem e recepcionista em uma clínica médica e como técnica de espirometria para outro médico. “Fazendo malabarismo com as contas para conseguir manter em ordem, mas nem sempre consigo”.
De acordo com Valéria, a gestão financeira familiar, especialmente quando há um único responsável pela renda, requer a participação de todos os membros da família. Essa colaboração, explica, não significa necessariamente a geração de renda, mas envolve o auxílio nas tarefas domésticas e na otimização dos recursos disponíveis, visando evitar desperdícios e maximizar o aproveitamento do que está ao alcance.
Cenário nacional
O levantamento mostra ainda que em todo o País, 93% das mulheres participam ativamente das finanças de suas famílias, com 32% atuando como as principais responsáveis pelo sustento do lar. Além disso, as mulheres constituem a maioria dos consumidores que negociam dívidas através da plataforma Serasa Limpa Nome, com 55,45% das quitações realizadas por elas só em janeiro.