Saiu no site G1:
Veja publicação original: Tarefas domésticas gerariam R$ 580 bilhões ao ano se fossem remuneradas
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Jornal Nacional abre a edição com a conclusão de uma pesquisa sobre a consequência econômica de um comportamento muito comum nos lares do Brasil todo. Se as tarefas domésticas fossem somadas à renda, as mulheres ganhariam, em média, mais do que os homens.
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A casa vive cheia. Eles terminam o café e vão para a sala. Dona Maria de Lourdes tira a mesa, lava a louça, prepara a próxima refeição. Ela também tem que dar conta da faxina, do jardim – é serviço que não acaba mais.
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“Ninguém me ajuda. Tudo eu faço sozinha. Se todo mundo ajudasse um pouquinho seria mais fácil para a gente, a gente ia ficar menos estressada, bem menos revoltada”, desabafa a aposentada Maria de Lourdes Marriel. “A gente vem daquelas épocas antigas em que as coisas eram sempre a esposa fazendo, o homem só assistindo”, admite o marido, José Marriel.
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Um estudo da demógrafa Jordana Cristina de Jesus, uma pesquisadora da população, comprova o trabalho a mais das mulheres. Ela fez o levantamento com base na Pnad, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2013, e verificou que as mulheres gastam, em média, quatro horas por dia realizando tarefas de casa – sem remuneração. Os homens gastam um quarto desse tempo.
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“Os dados nos mostram que, na verdade, independente do nível de escolaridade, os homens fazem, em média, uma hora de trabalho doméstico por dia. Então, mais educação no caso dos homens, por exemplo, não quer dizer mais trabalho doméstico feito em casa”, revela Jordana, que é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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As obrigações são diárias. Sempre tem roupa para lavar, louça suja, panela no fogão. Só que não se ganha um centavo por esse trabalho. Mas e se houvesse remuneração? A pesquisa fez esse cálculo e concluiu que haveria uma inversão no mercado de trabalho no Brasil.
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O cálculo se baseou no salário médio de um empregado doméstico e mostrou que, se as tarefas de casa fossem remuneradas e incorporadas à renda, as mulheres passariam a ganhar mais do que os homens. O total a ser pago por esse trabalho doméstico geraria R$ 580 bilhões, o equivalente a 11% do PIB brasileiro em 2013, ano da pesquisa.
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“Na nossa sociedade a gente tende a valorizar o trabalho remunerado, que é o feito fora de casa, principalmente por homens. E o trabalho doméstico, que é feito dentro de casa, majoritariamente pelas mulheres, não tem valorização nem social, nem econômica. A gente precisa conscientizar homens e mulheres desde a infância que o trabalho doméstico é responsabilidade de todo mundo que está no domicílio. Não só das mulheres”, afirma Jordana.
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No caso do empresário Eduardo Trindade e da estudante Liziane, as tarefas são muito bem divididas. Eles tiveram que dispensar a empregada doméstica e fizeram um acordo: cada um se responsabiliza por uma atividade da casa.
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“A gente não discute. A gente só conversa sobre coisas boas, sobre o que é necessário fazer durante o dia”, diz Eduardo. “É uma sensação de que o controle da nossa casa está nas nossas mãos. A gente tem prazer em servir um ao outro”, afirma Liziane.
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