Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:
Veja publicação original: Somos todas #VaiMalandra
Na coluna #DonaDeSi desta semana, a atriz Suzana Pires fala sobre o novo videoclipe de Anitta
Para todas as Anittas, Larissas, Jojôs Todynhos, Ludmilas, Valeskas, Gabys Amarantos, Karols Konkás, Marias, Fernandas e mais e mais!
Leitoras queridas! Quantas vezes vocês já não ouviram o comentário: “essa saia não tá muito justa para ir trabalhar?”, “ essa calça jeans não tá marcando muito seu bumbum para pegar o ônibus?”, “melhor ir com uma roupa que não modele muito seu corpo” ou “esse seu biquíni pequeno tá muito vulgar”, etc, etc, etc. Chega a cansar ouvir tanta frase feita, tanto pensamento padronizado, né?!
Não, eu não estou nem falando de machismo, estou me referindo a algo pior, que precisamos ter o máximo de cuidado e sempre lutarmos contra: a CASTRAÇÃO DOS NOSSOS CORPOS. Traduzindo ao pé da letra: a neurose que condena a existência dos nossos bumbuns!
Ontem foi lançado o clipe #VaiMalandra da cantora Anitta e os defensores da “falta de bunda” quicaram! Observando todo o fenômeno, que sim é muito importante e profundo, decidi escrever sobre os nossos bumbuns. E os bumbuns são de cada uma de nós e a polícia da moral da bunda precisa entender que já passou da hora de gritar. Fiquem quietos. Aceitem que nós somos corpo, mente e molejo!
Para eu não ficar aqui filosofando, vou aos fatos, aos números, ao que não se tem como contradizer com opiniões! Vamos entender as mulheres e seus valores em cash! #DonaDeSi.
Nos últimos 14 anos, nós mulheres tivemos um aumento de 34% no número de empreendedoras, algo em torno de 7,9 milhoes de mulheres abriram seu próprio negócio, somando 51,2% de empresas registradas em nomes de mulheres no páis e 04 em cada 10 lares brasileiros são chefiados por mulheres em que 40% delas são donas do próprio negócio. A estimativa é que o faturamento de 75% delas alcance 24 mil reais ao ano, com um perfil de mulheres jovens: 40% com menos de 34 anos concentradas nas áreas de restaurantes, serviços domésticos, cabeleireiros, venda de cosméticos, empreendendo de dentro de casa e 26,6% não tem o ensino fundamental completo.
Agora eu te pergunto minha querida leitora #DonaDeSi: diante desses números, vocês acham que alguém tem o direito de condenar a existência e a exposição do seu bumbum?
Vamos parar de hipocrisia e entender quem são as mulheres que mais movimentam dinheiro nesse país? O perfil dessa #DonaDeSi é: entre 25 e 40 anos, sem ensino fundamental completo, mãe de pelo menos 01 filho, separada do marido (ou abandonada, a maioria), moradora das periferias e das comunidades das grandes cidades, que não tem outra saída a não ser construir a vida da sua família. É uma mulher que tem como motor a missão de colocar comida a mesa para que os seus se alimentem. Após cumprir tal missão é que ela se dá ao luxo de tomar um sol na laje com seu biquíni de pano ou de fita isolante!
Sim, essa mulher gosta de si mesma, sendo que isso não foi sempre assim. Sua auto estima tomou solavancos a vida inteira, mas ela jamais deixou a peteca cair! Se de segunda a sábado, ela trabalha no seu negócio, na sua casa e para seus filhos as quase 24 horas do dia, no sábado a noite ela deseja uma cerveja gelada, um forró, um pagode, um baile funk para se divertir. As opções não incluem restaurantes sofisticados e sim o sacolejar do corpo, a exuberância, a temperatura alta, a vida em movimento! Para no domingo, reunir seus filhos num almoção na laje, na casa da vizinha, dando sua ida à igreja, ao terreiro ou ao culto. Não importa onde, mas ela é uma mulher de fé. No dia seguinte, a batalha recomeça, geralmente pegando ônibus e trens lotados para chegar ao seu destino, passando por inúmeros inconvenientes pelo simples fato de ser mulher e por indelicadezas e grosserias maiores pelo simples fato de ter uma cintura fina e um bumbum bem grande.
Pois, caros, essa mesma mulher que você se sente no direito de importunar por ela ter a ousadia de ser dona de todo esse corpo é a mesma que paga as contas de uma família inteira. Não. Seu bumbum não é entretenimento. Sua dignidade não mora no uso do shortinho ou da saia curta. Ela pode usar o que quiser, desde que se sinta bem, confortável e que carregue sua dignidade nas suas ações de construir sua vida!
Ela tem tudo o que precisa dentro da sua casa. Faz conta. Coloca os filhos na escola, arruma um curso de inglês mais barato, ralha feio quando alguém sai dos trilhos, namora sim, porque está viva! Tem seu coração machucado por um indigno que a abandonou. Portanto, entendam: essa mulher não é fruto da minha imaginação de dramaturga, ela existe e está ao seu lado, dentro das casas da classe média, dos salões de cabeleireiro fazendo sua unha, retocando seus fios brancos, vendendo bijouterias, cosméticos, bolos e tudo o mais que ela inventar. Porque ela inventa. Percebe a necessidade e surge com o que a aplaca. É empreendedora nata, porque precisa viver e sobreviver. Desta maneira eu peço ao mundo respeito com essa mulher! Sororidade a essas guerreiras, que ainda são as que mais morrem vitimas de violências domésticas.
São essas as mulheres que me fazem pensar, que me libertam de tanta hipocrisia, de tanta castração, que me inspiram a ser uma burguesa menos burguesa, a ser maior, a enxergar fora da minha caixinha e a afirmar: eu amo meu bumbum tanto quanto amo ganhar dinheiro com a minha inteligência!
Todo meu amor às mulheres de bumbuns vitoriosos!
Somos todas #VaiMalandra
#DonaDeSi e não é pouco!
Sororidade sempre.
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