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SIM, AS MULHERES SÃO MÁS UMAS PARA AS OUTRAS (E O QUE PODEMOS FAZER PARA MUDAR ISSO)

Saiu no site Kill Your Barbies:

 

Veja publicação original:    SIM, AS MULHERES SÃO MÁS UMAS PARA AS OUTRAS (E O QUE PODEMOS FAZER PARA MUDAR ISSO)

 

Sei que falar sobre este tema é como aproximar a mão de um ninho de vespas, portanto permitam-me abrir com uma declaração de interesses: sou feminista e reparo diariamente nos efeitos que uma sociedade de cunho machista e patriarcal tem na perceção das mulheres sobre si próprias, bem como nas relações interpessoais entre mulheres e homens e mulheres entre si. As mulheres são objetificadas, frequentemente desvalorizadas em posições de liderança e avaliadas pela sua aparência física. Calma, não estou a dizer que a sociedade está numa cruzada contra o feminino e o que ele representa (pelo menos, não a sociedade ocidental e não neste momento histórico), mas julgo poder afirmar com confiança que todas as mulheres sentiram, pelo menos num momento das suas vidas, o peso do machismo. Do mesmo modo, não diria que todas as mulheres são, a toda a hora, más umas para as outras – e ainda assim, penso que todas temos alguma experiência a partilhar sobre o assunto.

 

 

Tenho sentido essa mesquinhez de mulher para mulher algumas vezes, desde o início da adolescência, vinda de colegas e amigas. Chega, geralmente, em forma de indiretas proferidas com o objetivo de me fazer saber que não acham que seja tão gira/inteligente/inserir aqui outro adjetivo valorativo como elas julgam que eu penso que sou. E, sim, isto é, na maioria das vezes, uma atitude motivada por algum tipo inveja, que, como bem sabemos, é uma profícua geradora de despeito. Porque gostavam de ser mais confiantes de si próprias numa sociedade cujos padrões de beleza impedem que a maioria das mulheres o seja (e as pessoas mais confiantes não são necessariamente as mais bonitas), porque também gostavam de usar aquele vestido mas não se sentem à vontade por culpa das conceções irrealistas sobre como um corpo feminino deve parecer. Certamente que eu própria não serei imune a reproduzir esse comportamento. Quando vejo uma atriz de uma beleza arrebatadora, o meu primeiro (e segundo, e terceiro, instinto) é detestá-la – e é assim que tenho uma raiva mortal à Margot Robbie. Mas devíamos tentar o nosso melhor para não trazermos essa mesquinhez para a vida real, onde um comentário mal intencionado (sim, porque a intenção desses comentários é sempre desvalorizar a pessoa a quem são dirigidos, permitindo àquela que o emite uma satisfação retorcida) pode realmente afetar alguém.

 

 

Onde é que quero chegar com isto? Se acho que as mulheres conseguem ser mesquinhas umas para as outras? Sim. Se acho que este é um comportamento que resulta de uma estrutura machista que define um conjunto de características desejáveis ao feminino, fazendo com que as mulheres compitam entre si sobre quem é a mais bonita, a mais desejada, etc? Certamente – afinal, já Bourdieu dizia que a dominação masculina (termo do sociólogo) não poderia, no Ocidente, sobreviver sem a conivência do grupo dominado. Se eu acho que a ocasional mesquinhez entre mulheres é o mais grave problema derivado do machismo? De forma alguma. O machismo produz formas de violência – violência doméstica, violência no namoro, violência sexual – que matam mulheres todos os dias. E, no entanto, não acho que esta seja uma questão irrelevante. Que uma colega de escola tenha usado a nossa autoestima como cordeiro sacrificial para aumentar a sua, não nos dá carta branca para fazer o mesmo a outra. E, assim como o “piropo” é produto de uma cultura machista mas cabe a cada homem perceber que não tem o direito de andar na rua a assediar verbalmente as mulheres com quem se cruza, também nós temos o dever de ser melhores umas para as outras. Se acham a vossa amiga bonita, celebrem a beleza dela. Se a vossa colega é a melhor aluna da turma, não menosprezem a sua inteligência insinuando que só o consegue por ser marrona. Se ela consegue comer este mundo e o outro sem engordar, não a chamem de escanzelada. No fundo, é muito fácil: basta que se lembrem que as virtudes e conquistas das outras mulheres não vos desvirtuam. Verão que não precisam de depreciar outrém para serem, também vocês, incríveis.

 

 

 

 

 

 

 

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