Saiu na TRIBUNA DE MINAS
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Muitos são aqueles que não se deram conta de quão desafiador tem sido para as mulheres viverem e sobrevirem, não somente ao vírus mortal que é a Covid-19, mas também a tudo o que ela trouxe consigo.
Em que pese o fato de especialistas da área apontarem, por ocasião do início da crise sanitária, que documentos da ONU já mostravam que na história da humanidade toda crise social atingiu mais intensamente as mulheres, entendo que nunca pensamos viver algo semelhante ao que estamos a viver neste momento.
Esta pandemia não só aguçou os problemas de ordem nacional e mundial que já possuíamos, como também desencadeou outros tantos, logicamente facilitados pelas desigualdades e vulnerabilidades sociais, principalmente em países como o nosso onde, inegavelmente, a crise sanitária veio a agravar-se de forma abissal em função da mais completa desgovernança.
Desde meados de 2020 a OMS está a alertar a todo instante as necessárias medidas de isolamento social e de higienização como as mais eficazes para contenção e prevenção ao vírus e, em decorrência disso, o tão propalado “FIQUE EM CASA!”, que deveria ser solução, mostrou-se não só um cruel celeiro para o aumento assustador da violência doméstica contra as mulheres, mas também o lugar onde se mantiveram elas assumindo maior carga de trabalho precário e monopolizando os cuidados não remunerados, bem como onde também tiveram sobrecarga com o home office e o homeschooling, provocando exaustão física e emocional imensuráveis, comprovando à toda sorte que casa não é sinônimo de lar e, muito menos, de um porto seguro, até mesmo pelo fato de muitas delas terem passado a ter que viver o isolamento social no mesmo espaço do “inimigo”.
É importante assinalar ainda que as mulheres foram as que mais perderam postos de trabalho e a luta feminina por recolocação no mercado de trabalho tem sido infinitamente mais árdua, pois os postos que restam têm sido ofertados aos homens, representando um claro perigo de retrocesso aos parcos avanços na igualdade de direitos neste setor conquistados nos últimos anos. Outro aspecto doloroso é a inegável perda de direitos sexuais e reprodutivos, provocada pelo confinamento e a crise econômica, além da dificuldade de acesso a clínicas e hospitais, sentida mais em alguns países que em outros, mas não menos dolorosa, já que afronta o próprio corpo feminino.
Em meio a um cenário tão duro, no qual milhares de vidas já se perderam e que incontáveis outras estão afetadas, essa absurda desigualdade de gêneros nos leva a ver de uma forma ainda mais crua, a urgência na mudança dessa ordem de coisas, alterando valores e comportamentos, se quisermos vencer quem está a nos matar a todo instante. E enquanto a mudança não acontece, o desafio cotidiano enfrentando pelas mulheres hoje está posto. Que o encare quem for capaz!