Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE
Veja publicação original: Sem objetificação da mulher, Calendário Pirelli 2019 é lançado hoje
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Surfando na onda do empoderamento feminino, o Calendário mais famoso do mundo mostra que nada é mais antiquado e previsível do que fetichizar o corpo nu feminino. Marie Claire está em Milão, onde acontece a divulgação oficial da edição 2019
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Por Fernanda Moura Guimarães
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Moderno e relevante. Foi com esses adjetivos que o fotógrafo escocês Albert Watson definiu o Calendário Pirelli 2019, clicado e dirigido pelo próprio. “Colocar modelos magras e bonitas peladas numa praia… o que há de novo nisso?”, questionou durante uma entrevista com a imprensa brasileira, em Milão, na ocasião do lançamento da publicação. O Calendário deste ano, inspirado no cinema, mais conta uma história do que marca a passagem dos meses do ano. São quatro personagens femininas em seus “hábitats naturais”, interpretadas pelas modelos Gigi Hadid, Laetitia Casta, a atriz Julia Garner e a bailarina Misty Copeland.
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“O Calendário tem o objetivo de marcar a passagem do tempo”, diz uma famosa aspa do CEO da Pirelli, Marco Tronchetti Provera. E de fato, o Cal mostrou, mais uma vez, que tem a capacidade de ser um termômetro do momento socio-cultural, No momento em que o empoderamento feminino e disparidade de gênero fazem, mais do que nunca, parte do zeitgeist, o Calendário trouxe, pela primeira vez, mulheres como protagonistas e não objetos do desejo masculino – um traço que marcou boa parte da história do livro fotográfico que é publicado desde 1964 pela gigante de pneus.
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Misty Copeland e Calvin Royal III nos bastidores do Calendário Pirelli 2019 (Foto: Reprodução)
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Mas de uns anos para cá, a narrativa e o formato tem mudado dramaticamente. Prova: nada com cunho sexual nas últimas edições. Em 2016, Annie Leibovitz preferiu vestir a maior parte de suas modelos – um casting que contou com Yoko Ono, Amy Schumer e Serena Williams, por exemplo – com uma estética que priorizava diversidade e “vida real”. Em 2017, foi a vez de Peter Lindbergh retratar atrizes como Lupita Nyong’o e Helen Mirren “cruas” – e todas vestidas, claro. O de 2018 — depois de um ano de ativismo afro-descendente e Black Lives Matter — trouxe um time de personalidades negras sob o tema “Alice no País das Maravilhas”.
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As expectativas para a edição deste ano eram altas, claro. Watson decidiu, ao invés de criar 12 fotos, uma para cada mês, contar histórias, como quatro curtas-metragens. Clicadas em 16:9 – o formato típico cinematográfico – as imagens são como fotogramas que narram quatro vidas femininas, tudo embalado por um tema: “sonho”. Gigi Hadid é uma socialite solitária que vive quase reclusa em sua cobertura nova-iorquina com seu único amigo e confidente, interpretado pelo estilista Alexander Wang. Julia Garner é uma fotógrafa botânica em busca de sucesso e reconhecimento clicando fotos na natureza. Assim como Misty Copeland e Laetitia Casta, esta uma estreante bailarina profissional que trabalha como pole dancer aos olhos do namorado (estrelado pelo também dançarino Calvin Royal III) para pagar as contas, e aquela como uma pintora e escultora que vive atrás de sua obra-prima, dançando em seu apartamento com o seu parceiro (vivido pelo bailarino ultrarebelde Sergei Polunin).
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Além de sonho, o fio-condutor parece ser a solidão, uma beleza melancólica de estar sozinho. Uma estética que parece caber como uma luva com a realidade atual de vidas virtuais, quase sempre solitárias — compensadas com belas fotos nas redes sociais. De fato, como disse Watson, nada poderia ser mais moderno e relevante.
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