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Por: Rosana Menezes
No livro “Breve História do Feminismo no Brasil” nos deparamos de forma escancarada com as mulheres militantes e combatentes da sociedade machista e sexista.
Observamos, que vêm de longe a resistência de muitos companheiros da esquerda ao debate de gênero e da erradicação do machismo. Afinal, ainda hoje, se faz presente a afirmação que aponta que combatermos a violência contra à mulher e termos posturas atuantes nessa causa geram “divisões no seio da classe operária”… para esses homens, feministas dividem a luta.
Somente, uma mulher militante como Amelinha teria a ousadia de listar e expor o nome de torturadores, que nunca pagaram por seus atos na Justiça e ficaram no anonimato social, mas através desse livro temos a possibilidade de identificarmos agressores como Valdir Teixeira Goés, Capitão Jesu, Sargento Léo, Capitão GomesCarneiro, Tenente Marcelo, Lourival Gaeta, Aparecido L. Callandra (Capitão Ubirajara), Sérgio Paranhos Fleury… Homens que deveríamos ter em um carômetro público para que, socialmente, esses violentadores pudessem ser reconhecidos e tivessem que lidar publicamente com seus atos abusivos e agressivos.
Mas, infelizmente, ao agressor cabe o anonimato. Nós, mulheres ao sermos violentadas, saímos com as marcas e os violentadores saem com o abono de serem desconhecidos. Nossa luta contra esse anonimato precisa ser constante e diária! Com o livro de Amelinha Teles temos a oportunidade de saber que General Figueiredo deve sempre ser lembrado como inimigo das mulheres. É abominável sua fala sexista a um jornal: “mulher e cavalo a gente só conhece quando monta”.
Em tempos de TEMER, esse livro é fundamental para que possamos seguir mobilizadas e em luta para que a ditadura militar brasileira não seja, novamente, institucionalizada e que homens como o General Figueiredo não se sintam à vontade para expressarem seu machismo e sexismo através de atos que ferem os direitos humanos e subjugam a humanidade das mulheres.
A partir da provocação feita por Amelinha no livro: “podem as feministas se contentar em continuar bem comportadas, atuando simplesmente como meras profissionais, militantes de partidos ou de órgãos governamentais? (p.270)”
Acredito que a resposta para essa pergunta seja não. Temos a tarefa de estarmos em movimento para agregar forças contra a opressão patriarcal, machista e sexista. Para me descomportar assumo a interseccionalidade, conceituada por Kimberlé Crenshaw, não apenas como prática analítica, mas também como uma prática militante.
É necessário combatermos a hierarquização da violência e identificarmos a sobreposição de agressões e privilégios para que possamos compreender como eles impactam a vida da mulher, uma vez que a interseccionalidade pode ser uma forma para pensarmos sobre identidade e relações de poder.
A partir do livro “Breve História do Feminismo no Brasil” nos deparamos com a tortura que envolvia estupros e outras violências sexuais, a desconfiança dos homens militantes se as mulheres conseguiriam ser guerrilheiras e até mesmo a gravidez era pautada em reuniões de articulação do movimento de resistência à ditadura militar.
Nessas passagens evidencia-se como homens e mulheres estavam submetidos à um conjunto diferente de contextos em relação à identidade e ao poder.
Ainda, no livro teremos a origem do dia 8 de março ressignificada, pois o desvendamento da história das mulheres permitiu identificar que a data origina-se da caminhada das mulheres trabalhadoras que ocorreu na Rússia, em 1917, ano da Revolução Russa.
Ao caminharmos com Amelinha pela história da luta das mulheres no Brasil chegamos ao ensaio “Feminicídio: dignificar a memória das vítimas é preciso!”. A escolha de tal ensaio para finalizar o livro, pareceu-me que foi pelo fato do feminicídio ser a última violência que uma mulher vivencia em sua vida. Como foi o caso de Dinalva Oliveira Teixeira, Dina a mitológica, que foi vice-comandante da Guerrilha do Araguaia, e foi assassinada pela condição de ser mulher.
Dina assim como Amelinha, Criméia, Inês Etienne Romeu, Conceição Imaculadade Oliveira, Maria Firmina dos Reis, Luísa Mahim, Esperança Garcia, Regina Teodoro, Ana Simião, Regina Simião, Magali Mendes… compartilham um legado do feminismo combatente à todas as opressões, que se faz na prática militante cotidiana e que nos motivam a não esquecer que “o dia que eu não puder mais falar, vocês falarão por mim”.
Veja publicação original: ROSANA MENEZES: “O DIA QUE EU NÃO PUDER MAIS FALAR, VOCÊS FALARÃO POR MIM”