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Ex-professora tinha 39 anos quando conheceu favorito à presidência francesa, então com 15
PARIS – Acostumado a dar declarações polêmicas sobre o holocausto ou sobre muçulmanos, Jean-Marie Le Pen, fundador do partido de extrema direita Frente Nacional (FN) e pai da candidata Marine Le Pen, encontrou um novo alvo na quinta-feira. O empresário se referiu a Emmanuel Macron com uma expressão de igual mau gosto: “marido de madame cougar”, termo pejorativo para mulheres que se envolvem com parceiros mais novos. A ironia tinha endereço: Brigitte Macron, de 64 anos, possível primeira-dama.
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O relacionamento entre Macron e sua mulher, Brigitte, 24 anos mais velha que seu marido, chamou atenção do mundo há uma semana, quando ele a homenageou no discurso de vitória no primeiro turno – uma atitude ainda rara no mundo da política na Europa. Em uma campanha feroz e marcada pelo vale tudo ds parte de Marine Le Pen, a diferença de idade do casal virou alvo de ataques a Macron, apresentado de forma pejorativa como candidato “liberal e libertário” por setores ultraconservadores da sociedade francesa.
A história do brilhante estudante de ensino médio que se apaixona pela professora de teatro é um hit das páginas de revistas de fofocas e de celebridades na França desde 2016, quando o caso de amor veio ao conhecimento do grande público. Só a revista semanal Paris Match, uma das mais conhecidas do país, publicou cinco capas sobre o candidato e sua mulher nos últimos 18 meses – a última delas na quinta-feira, em que Macron aparece ao lado de Brigitte sob o título “Aposta bem-sucedida”.
Emmanuel Macron e Brigitte Auzière, casada e mãe de filhos adolescentes, encontraram-se em um ateliê de teatro na escola de ensino médio jesuíta La Providence, situada na cidade de Amiens, ao norte de Paris. Então a professora tinha 39 anos e o estudante, 15. A situação geraria o afastamento da professora pela direção, comandada por uma das avós de Macron. A relação, no entanto, só se concretizaria, ou ao menos só viria à tona anos mais tarde, quando provocou surpresa e indignação na cidade de 147 mil habitantes.
Em 2006, Brigitte deixou o marido, o banqueiro André Louis Auzière, casando-se no ano seguinte com Macron. “Quando eu decido algo, eu faço”, afirmou a potencial primeira-dama em um documentário, La stratégie du météore (A estratégia do meteoro).
Avessa a entrevistas, a professora foi um dos alvos de um livro, o perfil Les Macron (Os Macron), escrito pelas jornalistas Caroline Derrien e Candice Nedelec. Na obra, Brigitte é apresentada como “os olhos e os ouvidos” do marido. Mas esse papel é desempenhado em relação privada, jamais em público. Sobre sua postura, Brigitte foi clara em abril de 2016, em rara entrevista publicada pela revista Paris Match. “Ser casada com um político não é fácil. Devemos ficar de pé e nos calar”, afirmou.
Calada em público, a mulher de Macron não hesita em expressar sua contrariedade em privado com frases claras – do tipo “Eu não estou de acordo com Emmanuel” -, sem que no entanto tenda a impor sua visão sobre a do marido, segundo os observadores mais próximos. Brigitte não participa de reuniões do partido, nem de seu comitê de campanha presidencial.
Ainda que não se faça presente em termos políticos, a relação privada valeu a definição de “casal fusional” por um dos amigos da família, o apresentador de TV Stéphane Bern. Em uma das oportunidades nas quais falou sobre a mulher em público, Macron confirmou a proximidade entre ambos: “Ela está sempre lá porque me acompanha, porque contribui para o ambiente”, disse o marido.
Às vésperas da eleição que pode levar o casal ao Palácio do Eliseu, a relação atípica foi alvo de uma nova onda de rumores – a de que Macron na realidade seria homossexual. A especulação, que circulava nas redes sociais com o intuito de desacreditar sua candidatura, acabou revertida com uma piada pelo candidato, na qual ele afirmou que seria difícil ter uma vida paralela com a mulher próxima todo o tempo.
Entre agressões, como a de Jean-Marie Le Pen, e rumores e ofensas nas redes sociais, o casal resiste também porque é sintomático de uma França que se transforma, ainda que a passos lentos. Em um país em que 56% dos casais são formados por homens mais velhos, já são 14% os casos de casais como Brigitte e Macron – em que a mulher, ou “cougar”, como prefere Le Pen, é a mais velha. Reformador assumido, o provável futuro presidente da França terá a oportunidade de servir como exemplo também em sua vida privada.
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Rival ataca Macron por ter mulher 24 anos mais velha