Saiu no site FOLHA UOL:
Veja publicação original: Relatos de 13 mulheres sobre assédio por Trump vão de avião a entrevista
Jessica Leeds, 74, que relata ter sido assediada por Trump durante um voo no início dos anos 1980
“As mulheres são muito especiais. Acho que este é um momento muito especial, muita coisa está vindo à tona e acho que isso é bom para nossa sociedade e acho que é muito, muito bom para as mulheres e estou muito feliz porque muitas dessas coisas estão vindo à tona. Estou muito feliz porque isso está sendo exposto.” — Presidente Trump em declarações a jornalistas, 21 de novembro de 2017.
Os casos de comportamento sexual inapropriado de homens poderosos praticamente tomaram conta dos noticiários. O senador democrata Al Franken, de Minnesota, o deputado democrata John Conyers Jr, de Michigan, e o republicano Roy Moore, candidato a senador pelo Alabama, fazem parte dos políticos que integram essa lista crescente.
Trump vem criticando fortemente os acusados democratas, ao mesmo tempo em que aparentemente ignora os casos envolvendo republicanos.
Além disso, há apenas um ano acusações semelhantes feitas ao próprio Trump estavam dominando as manchetes, com 13 mulheres acusando-o de agressão sexual ou conduta imprópria.
Muitas das acusações vieram à tona após a divulgação de um vídeo de 2005 em que Trump fala explicitamente sobre beijar e apalpar mulheres contra a vontade delas.
Durante o segundo debate presidencial, Anderson Cooper perguntou diretamente ao então candidato Trump se ele “realmente beijou mulheres ou apalpou mulheres contra a vontade delas”.
Saul Loeb/AFP Photo | ||
Trump durante o segundo debate presidencial, no qual negou ter abusado sexualmente de mulheres |
Trump afirmou que “ninguém tem mais respeito pelas mulheres” que ele, e Cooper o pressionou, perguntando: “O senhor já fez alguma dessas coisas?” Trump negou que o tenha feito, dizendo “Não, não fiz”.
O presidente vem mantendo essa posição, dizendo ao “New York Times”, quando a mesma pergunta lhe foi feita, “Não fiz isso. Não fiz.”
Mas não é tão simples assim. Muitas das mulheres apresentaram testemunhas que disseram ter ouvido sobre esses incidentes na época em que aconteceram, muito antes de serem conhecidas as aspirações políticas de Trump. Três delas apresentaram pelo menos duas testemunhas.
Esses relatos contemporâneos são essenciais para determinar a credibilidade de uma alegação, porque reduzem as chances de a pessoa estar inventando uma história para fins políticos.
No caso das alegações sexuais, esses relatos podem ajudar a reforçar a credibilidade das mulheres que fazem as denúncias. Agressões sexuais muitas vezes ocorrem a portas fechadas.
Os corroboradores contemporâneos podem explicar o que ouviram na época e se o relato que está sendo feito hoje é consistente com o relato feito anos antes. Isso não quer dizer necessariamente que uma alegação será verídica, mas dá às organizações jornalísticas mais confiança para noticiar a acusação.
O Fact Checker detalhou algumas das acusações contra Trump inicialmente durante a campanha de 2016. A verificação de fatos também detalhou as testemunhas que confirmaram relatos de acusações sexuais contra o ex-presidente Bill Clinton —que, como Trump, insistiu que as mulheres que o acusaram não estavam dizendo a verdade.
Segue uma lista de 13 mulheres que vieram a público para alegar que Trump as tocou fisicamente de alguma maneira inapropriada e das testemunhas que elas apresentaram. Não incluímos na lista alegações feitas apenas em posts no Facebook ou outras redes sociais nem em processos judiciais que foram cancelados posteriormente.
Tampouco incluímos os relatos de ex-participantes de concursos de beleza que disseram que Trump entrou nos camarins quando elas estavam seminuas, porque nesses casos não foi alegado que ele tenha tocado em ninguém.
Trump havia se gabado no programa de Howard Stern das “inspeções” que fazia durante os concursos de beleza. “Você sabe que elas estão ali sem roupa. Está todo mundo OK? E você vê aquelas mulheres lindíssimas. Eu meio que consigo fazer coisas assim.”
DOIS OU MAIS CORROBORADORES CONTEMPORÂNEOS
Natasha Stoynoff
Alegação: Quando ela estava entrevistando Trump em 2005 para uma reportagem da revista “People” sobre o primeiro aniversário de seu terceiro casamento, Trump a atraiu para um quarto em Mar-a-Lago, a encostou na parede e a beijou à força, enfiando a língua em sua boca. Disse que eles iam ter um caso.
Corroboradores: Marina Grasic, que conhece Stoynoff há mais de 25 anos. Ela disse que recebeu uma ligação de sua amiga no dia seguinte à alegada agressão, detalhando exatamente como Trump encostou Stoynoff na parede.
Liz McNeil, então repórter da “People” (onde hoje é editora). Ela disse que ouviu sobre o incidente no dia depois de Stoynoff voltar do trabalho em Mar-a-Lago. “Natasha estava muito nervosa e me contou que ele a empurrou contra a parede”, ela disse.
Mary Green, outra repórter (e hoje editora) da “People” que acabara de retornar a Nova York. “Numa conversa que tivemos na sala de trabalho de Natasha, ela me contou o que aconteceu com Donald Trump”, disse Green. “Ela estava tremendo, sentada diante de sua mesa, contando: ‘Ele me levou a uma outra sala e, quando entramos, me empurrou contra a parede e enfiou a língua na minha garganta. Melania estava no andar superior e poderia ter entrado a qualquer momento.”
Liza Ham, que integrava um grupo de amigas de Stoynoff. “Natasha sempre foi uma pessoa alegre e animada que quer enxergar o que as pessoas têm de melhor. Aquela experiência estragou essa atitude dela”, ela comentou.
Paul McLaughlin, o ex-professor de jornalismo de Stoynoff. Ele disse que Stoynoff lhe telefonou na época do alegado incidente, procurando um conselho sobre como reagir a isso. “Ela não sabia o que fazer, estava muito dividida, estava furiosa, ela estava realmente confusa em relação a como lidar com isso.” Após a discussão, ele disse, Stoynoff decidiu que seria melhor se ela não falasse sobre o incidente com mais ninguém.
Resposta: Anthony Senecal, o ex-mordomo de Trump, negou que o incidente ocorreu. “Não, isso nunca aconteceu. Isso não passa de um monte de mentiras.” Trump disse: “Por que ela não fez isso 12 anos atrás? Ela é mentirosa. Isso nunca aconteceu. É mentira.”
Rachel Crooks
Alegação: em 2005 Trump a beijou diretamente nos lábios depois de ela se apresentar e dizer que era recepcionista que trabalhava para uma empresa que tinha negócios com Trump.
Corroboradores: Brianne Webb, sua irmã. Ela disse que Crooks lhe telefonou e lhe contou sobre o incidente assim que ela voltou à sua mesa. “Como venho de uma cidade de 1.600 pessoas, como sou ingênua, eu falei: ‘Tem certeza que ele não tentou lhe beijar no rosto e errou o alvo?’ Ela falou: ‘Não, ele me beijou na boca’. Eu falei ‘isso não é normal’.”
Clint Hackenburg, o namorado de Crooks na época. Naquela noite, quando ele lhe perguntou como tinha sido seu dia, “ela fez uma pausa por um instante e então começou a chorar histericamente”.
Resposta: Gritando com um repórter do “New York Times” que lhe pediu uma declaração sobre o assunto, Trump disse: “Nada disso aconteceu, nunca”. E então disse ao repórter: “Você é um ser humano nojento”.
Cathy Heller
Alegação: Quando ela estava fazendo um “brunch” em Mar-a-Lago em 1997 ou 1998, sua sogra a apresentou a Trump. Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo e ele a agarrou e a beijou na boca. Ela conseguiu virar a cabeça um pouco de modo que ele “não conseguiu acertar minha boca em cheio”.
Corroboradores: Lloyd Heller, seu marido. Ele disse que Cathy lhe contou imediatamente. Ele disse que falou a Cathy “você deveria ter dado um soco nele” e se recorda de ter ficado “perplexo”, sem entender por que Trump faria algo assim em um ambiente público.
Um parente que estava presente, mas quis se conservar anônimo. Essa pessoa disse que Cathy Heller ficou chocada e perguntou se a pessoa havia visto o que acontecera. Cathy e a pessoa discutiram o incidente, perguntando: “Quem ele [Trump] pensa que é?”.
Resposta: Jason Miller, porta-voz da campanha de Trump, disse à revista “People”: “Seria impossível algo assim ter acontecido em um lugar público no resort do sr. Trump no Dia das Mães”.
UM CORROBORADOR CONTEMPORÂNEO, UMA TESTEMUNHA ADICIONAL
Kristin Anderson
Alegação: Quando ela estava em uma boate de Manhattan no início dos anos 1990, Donald Trump enfiou a mão por baixo da minissaia dela, avançou a mão pela parte interna de sua coxa e tocou sua vagina através de sua calcinha.
Corroboradores: Kelly Stedman, uma amiga. Ela disse que lhe contaram sobre o incidente em um brunch de mulheres alguns dias mais tarde. As mulheres riram, dizendo que tinha sido ridículo da parte de Trump.
Brad Trent, um fotógrafo de Nova York. Ele diz que ouviu a história de Kristin Anderson em um jantar em 2007. “Eram várias mulheres contando histórias de velhos asquerosos que deram em cima delas”, disse Trent, falando da conversa na mesa.
Resposta: a campanha de Trump, em declaração enviada por e-mail, disse que Kristin Anderson inventou a história. “O sr. Trump nega terminantemente esta alegação fajuta feita por alguém em busca de um pouco de publicidade gratuita. É um absurdo total.”
UM CORROBORADOR
Summer Zervos
Alegação: Trump teria beijado Zervos nos lábios quando a conheceu em seu escritório em Nova York, o que desagradou a Zervos, que tinha sido participante da quinta temporada do programa “The Apprentice”, de Trump. Ela então encontrou Trump no Hotel Beverly Hills em 2007 para o que pensou que seria um jantar; em vez disso, porém, foi levada ao chalé particular dele. “Me levantei e ele chegou em mim e começou a me beijar de boca aberta, ao mesmo tempo em que me puxava para mais perto dele”, ela disse. “Ele agarrou meu ombro e começou a me beijar de novo, muito agressivamente, e pôs a mão no meu seio.” Trump continuou a agarrá-la, ela disse, tendo em dado momento “empurrado a genitália dele” contra ela enquanto tentava beijá-la. Ela disse que o rejeitou de novo.
Corroboradora: Ann Russo, amiga de Summer Zervos. Ela disse que Zervos lhe contou em 2010 que Trump havia sido “verbal, física e sexualmente agressivo com ela”, mas que ela rejeitara suas investidas. “Estava claro que ela estava aflita com o que Trump lhe fizera”, disse Russo, acrescentando que Zervos estava dividida entre sua admiração por Trump e o comportamento de Trump.
(Na ação que moveu contra Trump, Zervos diz que em 2007 “conversou com uma amiga e os pais dela sobre [o beijo inicial]. Todos concluíram que esse devia ser o modo como Trump cumprimenta as pessoas.” Segundo a ação, ela então contou a seu pai sobre o incidente no hotel.)
Resposta: Trump emitiu um comunicado escrito por John Barry, um primo de Zervos: “Acho que Summer queria ainda estar na TV-realidade e que um esforço para conseguir isso de volta está dizendo todas essas coisas negativas sobre o sr. Trump. Não é assim que ela falava sobre ele antes. Só posso imaginar que as ações de Summer hoje não passem de uma tentativa de voltar a estar sob os holofotes às expensas de Trump, e acho que isso não é bom para ela.”
Mindy McGillivray
Alegação: McGillivray disse que foi apalpada por Trump em Mar-a-Lago em 2003, quando ela tinha 23 anos, numa sessão de fotos durante um show de Ray Charles. “De repente senti uma mão no meu traseiro, alguma coisa me empurrando de leve. Achei que era a bolsa da câmera de Ken, aquele foi meu primeiro instinto. Me virei e lá estava Donald. Ele meio que olhou rapidamente para o outro lado. Eu me virei de novo, de frente para Ray Charles, e fique estarrecida.” Ela disse ao “Palm Beach Post” que tem certeza que não foi um acidente. “Foi um agarrão de verdade. Perto do meio de meu bumbum. Levei um susto. Dei um pulo.”
Corroborador: Ken Davidoff, fotógrafo: Ele se recorda perfeitamente que McGillivray o chamou de lado momentos após o incidente alegado e lhe disse: “Donald acaba de apalpar meu bumbum!”. Ele próprio não testemunhou o incidente.
Jill Harth
Alegação: No início dos anos 1990, Jill Harth e seu então namorado, George Houraney, trabalharam com Trump num concurso de beleza em Atlantic City e mais tarde acusaram Trump de comportamento impróprio em relação a Harth durante suas discussões sobre negócios. Ela disse que Trump correu atrás dela e a apalpou; em uma ação por assédio sexual que foi arquivada como condição prévia para a resolução de uma disputa envolvendo um contrato, Harth acusou Trump de tentativa de estupro (estamos incluindo o relato dela aqui porque Harth deu entrevistas em que detalhou essas acusações, mesmo depois de a ação ter sido cancelada). Trump “me apalpou em toda parte”, Harth disse ao “New York Times”. “Estava tentando me beijar. Fiquei morrendo de medo.”
Corroborador: George Houraney, seu então namorado e depois marido. Hoje eles estão divorciados, mas Houraney confirmou o relato de Harth em entrevista dada a Nicholas Kristof: “Houraney e Harth não se falam há anos, mas quando eu os entrevistei separadamente eles fizeram relatos quase idênticos, que correspondem também ao que Harth disse na época em seu depoimento judicial e sua ação por assédio sexual”.
Resposta: Trump disse que foi Harth quem correu atrás dele, e o gabinete dele compartilhou mensagens de e-mail em que Harth agradeceu a Trump por ajudá-la pessoal e profissionalmente. A campanha de Trump disse que Harth foi um joguete em uma ação judicial criada por seu ex-marido.
Acervo pessoal/via The New York Times | ||
Jessica Leeds em foto de 1978; à época ela trabalhava em uma empresa de papel |
Jessica Leeds
Alegação: Trump a atacou quando estava sentada ao seu lado em um voo comercial. Leeds contou ao “New York Times” em 2016 que mais de três décadas atrás, quando era executiva em uma empresa de papel, sentou-se ao lado de Trump na cabine de primeira classe de um voo a Nova York. Eles não se conheciam antes. Cerca de 45 minutos após a decolagem, Trump levantou o braço da poltrona que separava os dois assentos e começou a tocar Leeds. Trump agarrou os seios dela e tentou enfiar a mão por baixo de sua saia. “Ele era como um polvo”, disse Leeds, “suas mãos estavam em toda parte.” Ela fugiu para os fundos do avião. “Foi um ataque”, ela disse.
Corroborador: Leeds contou a história a pelo menos quatro pessoas amigas, que também falaram com o “New York Times”. Mas a maioria das pessoas parece ter ouvido falar do caso mais recentemente. Por exemplo, Linda Ross, vizinha e amiga de Leeds, ouviu a história seis meses antes de Leeds ir a público.
Reação: a campanha de Trump transmitiu a opinião de um britânico que alegou ter estado sentado perto dos dois no avião e três décadas mais tarde teria se recordado de todos os detalhes do incidente. “Era ela quem estava flertando com ele”, disse o britânico.
OUTRAS ACUSADORAS
Temple Taggart McDowell: em 1997 a Miss Utah USA disse que Trump a beijou diretamente na boca, quando era casado com Marla Maples e McDowell tinha 21 anos. Mais tarde, quando ela foi ao edifício Trump Tower para discutir um contrato de modelo, ela diz que Trump voltou a abraçá-la e beijá-la na boca, dessa vez diante de uma recepcionista e duas funcionárias do concurso de beleza. O incidente em Nova York deixou uma das funcionárias tão “incomodada” que ela aconselhou McDowell a não entrar em nenhum ambiente sozinha com Trump, disse McDowell à NBC News.
Karena Virginia: Uma instrutora de ioga disse que Trump a assediou e apalpou quando a conheceu por acaso durante o U.S. Open de 1998. Virginia disse que Trump, que lhe era totalmente desconhecido, agarrou seu braço e tocou seu seio. “Fiquei em choque”, disse Virginia. “Recuei. Ele falou: ‘Você não sabe quem eu sou?’ Me senti intimidada e impotente. Falei: ‘Sei’.”
Jennifer Murphy: Ex-participante do “The Apprentice”, ela disse que em 2004 Trump a beijou nos lábios. “Ele me acompanhou até o elevador e eu me despedi. Estava pensando ‘ele vai me abraçar’. Mas ele puxou meu rosto para perto e me tacou um beijo.”
Ninni Laaksonen: A ex-Miss Finlândia disse que em 2006 Trump agarrou suas nádegas pouco depois de ter se casado com Melania. “Trump ficou bem do meu lado e de repente me deu um apertão no bumbum. Ele realmente agarrou meu bumbum.”
Jessica Drake: A atriz pornô e educadora sexual disse que em 2006, num torneio de golfe em Lake Tahoe, Trump agarrou fortemente a ela e duas outras mulheres que não foram identificadas por nome e as beijou na boca “sem pedir permissão”. Em seguida ofereceu US$10 mil a Drake e disse que ela poderia usar seu jatinho particular, segundo ela, se ela concordasse em voltar para o quarto dele e acompanhá-lo a uma festa.