Saiu no site UNIVERSA:
Veja publicação original: Relato de um abandono paterno: “Ela pergunta se o pai deixou de amá-la”
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Por Daniella Barbosa
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O desabafo da diretora de marketing Daniella Barbosa, 45, uma mãe que enfrenta a morosidade da Justiça brasileira, enquanto tenta lidar com a frustração da única filha. Ela conta que há oito meses a menina é negligenciada pelo pai*, que saiu de casa depois de um divórcio e, hoje, reserva seu tempo para uma nova família.
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“Sempre ouvi que no Brasil duas coisas rendiam prisão: não pagar pensão e atirar em passarinho. Nunca atirei em um passarinho, mas conto aqui a minha experiência com a parte da pensão.
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Agora em 16 de julho completará um ano que entrei na Justiça pedindo que o pai da minha filha cumpra a sua obrigação e pague a pensão alimentícia determinada pelo juiz para a menina.
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Nesse tempo, já foram mais de cinco mandados expedidos e mais de quinze tentativas de entrega por parte dos oficiais. Tudo sem sucesso. Descobri que nosso sistema é extremamente falho e pró às fugas e desvios de conduta. As pessoas simplesmente podem se eximir de atender uma campainha e nenhuma medida será tomada. E mais: depois de três tentativas tudo volta ao início. Volta para o juiz se manifestar, expedir de novo, ir para central de mandados, etc. Cada vez que isso acontece são pelo menos 30 dias.
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É cíclico. É cansativo. É injusto.
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No meio da minha angústia, tem uma garotinha de 11 anos linda, inteligente, doce e que entende muita coisa, mas tem outras que não.
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Sou constantemente questionada do que ela fez para que o pai não a veja mais. O porquê ele deixou de amá-la. Se um dia ele vai gostar dela de novo. Ontem, ela descobriu, enviando uma mensagem de saudades, pedindo para que ele a veja, que ele a bloqueou no WhatsApp. Ela chorou por quase uma hora. Chorei junto. Era a única coisa que eu podia fazer.
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Como explicar que o pai, o qual ligava todas as manhãs para desejar boa aula e saber se ela dormiu bem, aquele que a via praticamente todos os dias, que a mimava e cuidava como uma princesa simplesmente perdeu o interesse depois de formou uma nova família. Depois que teve um outro filho. Como explicar que ela tem um irmão que não conhece, que não convive, que não sabe como é.
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Não culpo a morosidade da Justiça pela tristeza dela, pelos questionamentos que faz todos os dias. Pensei em mandar um bolo comemorativo pelo aniversário da pensão atrasada. Mas não sei para quem de fato enviar, já foram tantos nomes envolvidos… Sinceramente?! Espero que os passarinhos tenham mais sorte do que estamos tendo nós duas com essa história.”
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*A reportagem tentou contato com o ex-marido de Daniella, mas não teve resposta até o fechamento deste texto.
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