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Rainha Marta, a mulher que derrubou Pelé do trono do futebol brasileiro

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Aos 18 anos, Marta Vieira da Silva saiu do anonimato para liderar a equipe brasileira que garantiu a medalha de prata em Atenas, a primeira da História do nosso futebol feminino. Quatro anos mais tarde, em Pequim, na China, a alagoana de Dois Riachos já era a maior jogadora do planeta e, mais uma vez, foi peça fundamental em campo para a conquista de mais uma medalha de prata. Nos Jogos de Londres, em 2012, acabaria desclassificada nas quartas de final para o Japão. Uma conta rápida e você se dá conta de que a atleta está no auge há 12 anos.

Tudo leva a crer que Marta, agora com 30 anos, caminha para sua última Olimpíada. Ao menos, a última chance de Marta chegar ao ouro ainda no auge físico e técnico para a mais importante competição do futebol feminino. “Pode ser que sejam meus últimos Jogos, pois estes aqui no Rio serão muito especiais. Chegamos perto da medalha de ouro em 2008, então agora tentaremos fazer o melhor possível”, admitiu a camisa 10 em entrevista recente ao Uol.

A marcante carreira de Marta, uma das responsáveis por elevar o nível do futebol entre as mulheres, é significativa não só emocionalmente, mas em números. Desde dezembro do ano passado, ela é a maior artilheira como a camisa da Seleção Brasileira, batendo ninguém menos do que Pelé. São 98 gols dela ante 95 gols de Edson Arantes do Nascimento.

Marta é também a única atleta do futebol a vencer o prêmio de Melhor Jogadora do Ano por cinco anos consecutivos (2006, 2007, 2008, 2009, 2010). Sim, Lionel Messi também já ficou para trás.

Embaixadora da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2010, Marta deu o primeiro drible, como boa parte das atletas brasileiras, na fome e nas condições precárias para se desenvolver como atleta e ser humano. Conta ela à Revista TPM:

Só entrei na escola com 9 anos. Apesar de a escola ser pública, minha mãe não tinha dinheiro para o material. Faltava tudo lá em casa. Comer um doce, tomar um refrigerante, essas coisas só eram possíveis quando estávamos na casa de algum parente que tinha uma situação melhor”.

Não é difícil enxergar no futebol aquilo que há de bom e o que há de pior na sociedade. A violência das torcidas organizadas, por exemplo, é reflexo do País recordista em homicídios (o goleiro do Palmeiras e da Seleção olímpica Fernando Prass falou muito bem sobre o assunto). Seria, portanto, um ponto fora da curva imaginar que as mulheres teriam espaço fácil para crescer justamente nesse esporte marcadamente machista e, sem dúvidas, homofóbico. Marta conta ao SFW como, mais uma vez, usou da habilidade para contornar o improvável.

“Em todas essas equipes, jogava com meninos. Era a única garota entre eles. Eu sofri muito preconceito, ouvi muita besteira. Alguns diziam que eu não podia jogar por ser mulher. Outros falavam que eu era macho. Isso machucava muito. Eu era criança e ouvia aquilo tudo. Mas eles me aturavam porque, dentro de campo, eu fazia a diferença.”

Engana-se quem vê o Brasil como caso isolado. O sucesso do futebol nos Estados Unidos fez as principais atletas do país — Carly Lloyd (eleita a melhor do mundo em 2016) e Alex Morgan —, a cobrarem providências da US Soccer. O motivo: as sempre favoritas e campeãs americanas recebiam quatro vezes menos pelo mesmo trabalho exercido por seus pares homens. E, não, o argumento de que os homens geram mais caixa não é real no esporte da terra do Tio Sam. Até o presidente Barack Obama resolveu entrar na jogada.

“Quando fui jogar na Suécia, ganhava em torno de R$ 3 mil. As pessoas pensam que o contrato das jogadoras que se destacam chega perto do contrato do Neymar. Mas isso é totalmente fora da realidade do futebol feminino”, contou Marta à TPM.

A artilheira da Seleção tem fome de vitória, como relata em entrevista ao GloboEsporte, já após deixar Pelé para trás:

“Desde pequena eu buscava fazer meu melhor seja no esporte ou em qualquer outra atividade. Eu estava sempre em busca da disputa comigo, com meus amigos, com as meninas. Muitas vezes as meninas nem queriam que eu participasse das atividades físicas porque falavam: ‘Ah, ela vai ganhar’. E aí eu tentava incentivar porque eu precisava de um adversário para poder alcançar minhas metas. Eu sou assim. Sempre fui desde pequena. Continuo sendo, quero estar sempre buscando meu melhor e, enfim, no dia que eu sentir que eu não tenho mais essa vontade de progredir, de vencer, de desafiar, talvez seja o momento de parar“.

Eu sofri muito preconceito, ouvi muita besteira. Alguns diziam que eu não podia jogar por ser mulher. Outros falavam que eu era macho.

O mais correto, segundo a jogadora, é que os brasileiros comecem a planejar melhor antes de cobrar insistentemente por resultados, como tem acontecido ano após ano, medalha após medalha. É como se o torcedor não ligasse para montar o alicerce do futebol feminino (salários dignos, campeonatos que funcionem, fomento a novas atletas e torcida), mas quisesse ver uma mansão linda mesmo assim:

“Mesmo sabendo que a realidade do futebol feminino talvez não seja tão proporcional para chegarmos em uma competição e chegar preparada. A gente não tem a estrutura que necessitamos para chegar e falar assim: ‘Ó, agora a gente vai cobrar o título’. A gente está melhorando em relação a isso, mas é uma coisa que tem que ser trabalhada para depois você colher os frutos. Não adianta jogar a gente lá e falar assim: ‘Volta só se for com o título’. Mas é a realidade do Brasil. O povo brasileiro é assim”, conta.

Mas a maior jogadora da história do futebol feminino não faria nada diferente. O que seria de Marta se não fosse o futebol?

“Eu já pensei muitas vezes e eu acredito que já estaria casada e com filhos. A mentalidade na minha cidade não tinha tanta perspectiva de vida. É casar, trabalhar para o poder público ou trabalhar na plantação… É o que aconteceria comigo se eu não tivesse tomado esta decisão de deixar tudo para trás e ir atrás do meu sonho”, contou ao site americano espnW.

O mundo agradece a persistência. Obrigado, rainha Marta.

Títulos

Seleção Brasileira
Copa do Mundo de Futebol Feminino – 2º lugar (2007)
Campeonato Sul-Americano Feminino – 2º lugar (2006)
Jogos Olímpicos – medalha de prata (2004 e 2008)
Jogos Pan-americanos: medalha de ouro (Santo Domingo 2003 e Rio 2007)

 

Publicação Original: Rainha Marta, a mulher que derrubou Pelé do trono do futebol brasileiro

 

 

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