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Quem são as mulheres que estão fazendo do Carnaval de rua paulistano mais resistência e mais liberdade

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Quem são as mulheres que estão fazendo do Carnaval de rua paulistano mais resistência e mais liberdade

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Fomos até ao Viaduto Santa Efigênia, região emblemática do Centro de São Paulo, para fotografar as mulheres que estão à frente dos blocos mais feministas da cidade

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Por Natacha Cortêz

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Há algo de fresco no reino da folia. Ou vai dizer que de uns Carnavais pra cá você não notou o alto e bom som do#NãoÉNão?! As mulheres estão nas ruas, mas não mais para desviar de mãos bobas e cantadas hostis, não para pedir desculpa por seus decotes e suas danças, nem para evitar o batom vermelho no rosto. #MeuCorpoMinhasrRegras, lembra?

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Blocos - Componentes dos blocos em São Paulo   (Foto: Camila Cornelsen)

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Em 2019, as cidade são de todos — e aí inclua as populações que estão cansadas de viver à margem. #VidasTransImportam! Gente é pra brilhar, já cantou Caetano. Não podíamos concordar mais.

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E bem por isso Marie Claire foi até ao Viaduto Santa Efigênia, região emblemática do Centro de São Paulo, para fotografar à luz do sol do meio dia as mulheres que estão à frente dos blocos que estão fazendo do Carnaval de rua paulistano mais resistência e mais liberdade.

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Sereianos
“Queríamos um bloco no qual todos os corpos se sentissem representados e confortáveis. Daí veio a ideia de botar o Sereianos na rua”, diz o cenógrafo Luiz Felipe Toledo, 28 anos, que em 2016 criou o grupo ao lado da professora de dança Isadora Zendron, 30. O nome, além de homenagear o mar, faz referência à comunidade LGBTQI+ e às sereias – representadas na foto por Mel Gonçalves, 27, cantora; Renata Nunes, 30, modelo; e Sasha Vilela, 23, assistente pessoal. As três são mulheres transgêneros e saem no desfile do Sereianos em posição de destaque. “Porque queremos passar a mensagem de que o lugar dessas pessoas é onde elas quiserem estar. É transitando com segurança onde todos os outros corpos transitam facilmente. Ocupar espaços e ruas numa sociedade machista, cisgênera, patriarcal e retrógrada é resistir”, diz Luiz Felipe. O Sereianos (@blocosereianos) sai no dia 23 de fevereiro na avenida Ipiranga, bem ao lado da Praça da República.

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Blocos - Sereianos (Foto: Camila Cornelsen)

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Siga bem caminhoneira
2019 será o terceiro ano de desfile do bloco (@sigabemcaminhoneira) no Carnaval de rua de São Paulo. Criado pela assistente de direção Leka Peres, 32 anos, e pela produtora Didi Lima, 32, foi feito para ser um espaço onde mulheres lésbicas e bissexuais pudessem pular o Carnaval sem medo. As diversas formas de violência contra mulheres que curtem mulheres é uma triste estatística no Brasil. No Carnaval, as coisas não são diferentes. Por isso, faz todo sentido o nome Siga Bem Caminhoneira. “Foi um trocadilho pensando na forma pejorativa como algumas lésbicas são chamadas. Nos apropriando do termo ‘caminhoneira’ para mostrar que não importa quem somos, merecemos seguir bem e respeitadas”, diz Renata Bruggemann, 48, uma das cantoras do grupo, que é 100% formado por mulheres. “E fazemos questão de tentar sempre dar prioridade para as mulheres LBTs [lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros] na produção”, continua. E o que faz do SBC feminista? Ela explica: “É impossível dissociar a luta das mulheres LBTs do  feminismo”. Na foto: Nathália Khaled, Juliana Cipriano, Larissa Damas, Juliana Gomes Nadu e Renata Bruggemann. O bloco sai no dia 9 de março, com concentração a partir das 14h, na Praça Emilio Miguel Abella.

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Blocos - Siga bem caminhoneira (Foto: Camila Cornelsen)

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Vaca profana
No desfile deste ano, o bloco (@vacasprofanas) vai homenagear Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018. É parte da filosofia do grupo marcar política. Não à toa, suas integrantes saem às ruas de São Paulo e Olinda – onde o Vaca começou, há três anos – com os seios despidos, apenas coloridos por muito glitter dourado. A ideia veio de uma experiência vivida pela produtora Dandara Pagu, 30 anos, a fundadora. Era 2015 e ela passava o Carnaval em Olinda, sua cidade de origem, quando decidiu vestir uma fantasia inspirada na música de Caetano cantada por Gal Costa.

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Blocos - Vaca profana (Foto: Camila Cornelsen)

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“Dona das divinas tetas. Derrama o leite bom na minha cara. E o leite mau na cara dos caretas”, diz a letra lembrada por ela. Para o traje, os mesmos seios livres das mulheres que seguem o bloco hoje, mais uma cabeça de vaca como máscara e uma saia com estampa da pele do bicho. Um policial interpelou Dandara, acusando-a de atentado ao pudor. Foi o suficiente para que ela entendesse que o corpo das mulheres não é livre nem no Carnaval e que faria algo a respeito. Atualmente, mais de 5 mil mulheres seguem o Vaca em Olinda. Em São Paulo, no desfile do ano passado, foram mil. Este ano, o bloco saiu no dia 16 de fevereiro na capital paulista, e sairá na cidade pernambucana no dia 4 de março (na Praça dos Milagres), às 14h. Na foto, Dandara e Ariádine.

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Blocos - Vaca profana (Foto: Camila Cornelsen)

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Pagu
Carmen Miranda, Marisa Monte, Gal Costa, Amelinha, Elba Ramalho. No setlist, somente canções que ficaram famosas nas vozes de grandes cantoras. E mais: as intérpretes que vão em cima do carro de som são exclusivamente mulheres e a banda, formada por 130 instrumentistas, é toda feminina também. No Pagu (@blocopagu), criado há dois anos, o Carnaval serve para celebrar o lugar e a força da mulher na maior festa de rua do país. “Esse é o momento em que a mulher mais sofre violência e assédio, e em diferentes níveis, da passadinha de mão ao estupro. Tentamos criar um ambiente em que todas possamos nos sentir livres e seguras. Então, quando você vai para o Pagu, sabe que as mulheres ali exigem respeito e que o desfile vai deixar isso claro”, conta a cineasta Mariana Bastos, 37 anos. Na foto, aparecem ela (à frente, de vestido de paetê) e Thereza Menezes (de macacão azul), as fundadoras do grupo, ao lado das cantoras Bárbara Eugenia (de body peto de paetê), Raquel Tobias (de macacão laranja) e Soledad. O Pagu sai no dia 5 de março, às 14h, com local de concentração a confirmar.

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Blocos - Pagu (Foto: Camila Cornelsen)

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Rita Leena
O grupo (@bloco_ritaleena) desfilou pela primeira vez no circuito oficial do Carnaval de São Paulo em 2015. Suas fundadoras, a musicista Alessa Camarinha e a figurinista Yumi Sakate, então habitués do Carnaval de rua carioca, queriam poder celebrar os dias de folia em sua terra natal, a capital paulista. “E queríamos fazer isso de um jeito paulistano, feminino e empoderado. Pensamos: Rita Lee é isso e mais um pouco”, conta Alessa. Não deu outra. Rita Leena é uma ode à cantora e ao Carnaval. Por isso, segundo Alessa, “99% da equipe que bota o bloco na rua é feminina”. Outra preocupação das fundadoras é que as mulheres sintam-se confortáveis enquanto seguem o trajeto do bloco. “A corda é feita de minas e o discurso que a banda passa é de que respeitem as mulheres e suas vontades.” O desfile do Rita Leena tem outra característica única: é sempre itinerante. Neste ano, vai ser na Mooca, no dia 3 de março, na rua Borgues de Figueiredo, com concentração às 14h. Na foto: Yumi, Aimê Uehara e Alessa.

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Blocos - Rita Leena (Foto: Camila Cornelsen)

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Assistentes de fotografia: Eugênia Fajardo e Maria Spector / Produção-executiva: Vandeca Zimmermann

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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