Saiu no O GLOBO.
Veja a Publicação Original.
A tempestade formada pelo movimento MeToo ainda não era visível no horizonte. Mas, em 2011, seus ventos já estavam pelo menos em formação. Isso fica bem claro em “Quarto 2806: A acusação”. A série documental lançada pela retrata o escândalo envolvendo Dominique Strauss-Kahn, então diretor-geral do FMI. O socialista era o favorito contra Nicolas Sarkozy (que acabou perdendo para François Hollande) nas eleições presidenciais francesas. Considerado inteligentíssimo, com excelente formação acadêmica, moderno e um sujeito que enxergava a dimensão da revolução digital, ele viu um futuro político brilhante ir para o ralo. Aconteceu depois que foi acusado de estuprar Nafissatou Diallo, camareira do Sofitel, em Nova York. A moça afirmou ter sido atacada ao entrar no quarto para fazer a arrumação. Minutos depois, ele deixou o hotel. Ela chamou os supervisores, que, por sua vez, ligaram para a polícia. E Strauss-Kahn foi preso no aeroporto, quando já estava indo embora dos Estados Unidos.
Depois disso, outros episódios de assédio que o envolviam vieram à tona. Não conto mais para evitar o spoiler (é tudo recente, mas a gente esquece os pormenores). Os quatro capítulos mostram tudo. O filme ouve a vítima, a polícia, amigos e colegas de trabalho de Strauss-Kahn. Faz isso com elegância, mas sem desviar de detalhes saborosos da vida amorosa do seu personagem central.
Para quem gosta de sonhar com História alternativa, vale para imaginar como a França teria evoluído se ele tivesse chegado ao Eliseu.