Saiu no site Público:
Há 30 anos que as Guerrilla Girls andam a lutar pela igualdade de género e pela diversidade étnica na arte (e na vida em geral). Hoje, aqui e lá fora, vão surgindo alguns gestos de mudança – mas ainda há muito por fazer.
Desde 1985 que as Guerrilla Girls andam a tirar debaixo da almofada verdades inconvenientes sobre o mundo das artes visuais, sobretudo no que diz respeito à falta de diversidade étnica e à sub-representação de mulheres artistas nas exposições e colecções de museus e galerias. Sempre munidas de máscara de gorilas (que lhes resguardam o anonimato), números e percentagens, posters e humor ao serviço do feminismo.
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30 anos e vários gritos de luta depois – e com a nova presidência dos Estados Unidos a tentar legitimar todo o tipo de discurso racista e misógino –, o trabalho deste colectivo com base em Nova Iorque continua a ser necessário. Muitas estatísticas de museus ainda reflectem desigualdades estruturais e a posição privilegiada do homem branco, como se pode ver na última exposição das Guerrilla Girls, Is It Even Worse In Europe?, inaugurada em Outubro na Whitechapel Gallery, Londres, e que termina a 5 de Março. Nas paredes estão penduradas as respostas (mais contra-respostas) aos questionários enviados pelas artistas a direcções de centros e museus de arte contemporânea da Europa. “Muitas instituições afirmaram que a questão da diversidade é muito importante para elas, mas as respectivas colecções têm menos de 15% de mulheres”, diz o colectivo ao Ípsilon.
Um inquérito que, apesar da pertinência, teve algumas falhas na selecção e não atingiu o alcance pretendido: das 383 instituições inquiridas, apenas 101 responderam. Das portuguesas – Museu de Serralves, Gulbenkian (Colecção Moderna), Museu Berardo, Culturgest, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado e Kunsthalle Lissabon –, só a última deu sinais de vida, com números bastante positivos. Das 16 exposições a solo feitas nos últimos cinco anos (não têm colecção), metade foram de artistas mulheres, entre elas a libanesa Marwa Arsanios e a egípcia Iman Issa.
Nos restantes casos, ao que o Ípsilon apurou, não houve conhecimento dos emails. Ou foram parar ao spam ou não foram encontrados. “O objectivo foi enviar directamente para os emails dos directores ou, caso não estivessem disponíveis, para os que estavam nos sites das instituições. Houve pessoas a confirmar se os emails estavam correctos”, assinala Nayia Yiakoumaki, curadora da exposição juntamente com Xabier Arakistain. “Se não recebemos resposta, reenviámos. Se o email veio para trás, tentámos encontrar outro endereço”, acrescentam as Guerrilla Girls.
A ideia não é lançar “um ataque aos directores nem às instituições”, nota a curadora da Whitechapel, também co-directora da Bienal de Atenas. Mas sim gerar um “diálogo” sobre a diversidade dos programas – um diálogo to be continued.
Panorama nacional
Para meter Portugal na conversa, pedimos alguns números aos espaços seleccionados pelas Guerrilla Girls e a outros que poderiam ter sido incluídos no inquérito. Em Serralves, a colecção conta com 814 artistas homens e 239 mulheres (estes dados referem-se a obras formalmente adquiridas pela Fundação de Serralves e excluem obras em depósito). Desde 2013, início da direcção de Suzanne Cotter, tem havido sinais de mudança. Entre 2013 e 2015 registou-se um reforço da aquisição de obras de mulheres na ordem dos 40%. Entre 2014 e 2015, os dois primeiros anos de programação com marca própria de Cotter, das nove exposições individuais, duas foram de homens, sete de mulheres – de países como o Irão, Síria, Gana, Índia e China.
Esta maior diversidade corresponde às preocupações de Suzanne Cotter. “Quando vim para cá queria que o programa saísse um bocado do cânone do homem branco e do artista maioritariamente europeu e norte-americano”, diz. Contudo, este ano, das sete exposições individuais, apenas duas são de mulheres, Ana Manso e Julie Mehretu. “No ano passado e este ano está menos equilibrado, e isso deixou-me um pouco ansiosa”, confessa a directora do Museu de Serralves. “Mas temos de ver o que o programa precisa. Não tem de ser sempre metade-metade, isso já dá um sentido de obrigação”, considera.
Na colecção do Museu Berardo, que compreende arte desde inícios de 1900 a 1990, aquando da fundação do museu havia 862 obras que correspondem a 65 artistas mulheres. Nos anos seguintes foram incorporadas 230 obras de 56 artistas, dos quais 16 são mulheres. “A colecção tem alguns casos paradigmáticos de uma afirmação feminina na construção de alguns dos grandes movimentos do século XX”, refere o director Pedro Lapa, dando como exemplos Pauline Boty na pop art ou Joan Mitchell no expressionismo abstracto. Segundo o responsável, o facto de não existir novas aquisições desde 2010 tem congelado “a evolução da colecção” e a oportunidade de “incluir novas artistas”. “Um museu com esta relevância não deveria ausentar-se de uma participação coleccionista e essa situação não foi prevista na nova adenda ao protocolo. O museu deixou definitivamente de ter verbas para aquisições”, explica. Relativamente a exposições, entre 2012 e 2016 houve apenas uma individual de uma mulher, Carla Filipe.
No Museu do Chiado, o sistema de inventário não permite quantificar o número de mulheres na colecção. Nos últimos cinco anos foram incorporadas 120 peças de 25 artistas, dos quais quatro são mulheres, e na agenda de exposições houve 13 individuais de um total de 44. Pelo menos em 2017 o cenário parece melhor: das quatro exposições a solo, duas são de mulheres, além de uma colectiva sobre a relação entre identidades de género, arte e sexualidades, edificada a partir de obras inéditas de Ana Pérez-Quiroga e João Pedro Vale e que “incluirá jovens artistas”, avança a directora Aida Rechena.
Em relação à Colecção Moderna da Gulbenkian, com arte do século XX e XXI, na sua grande maioria portuguesa, há 268 mulheres artistas num total de 1253. Entre 2012 e 2016, das 29 exposições individuais (que contaram com cinco mostras de artistas fora da Europa e da América do Norte), 10 foram de mulheres. 2017 é o primeiro ano de programação de Penelope Curtis, que saiu da Tate Britain para assumir a direcção do Museu Calouste Gulbenkian em finais de 2015 – e de um total de 10 exposições a solo, metade serão de artistas mulheres, entre elas Mariana Silva e Emily Wardill. Uma inversão de marcha? “Espero que atinjamos uma série de balanços, sendo um deles a representação de mulheres nos nossos programas. Outro será mostrar artistas de diferentes contextos e geografias”, sublinha Penelope Curtis (neste último ponto, não esquecer que houve o programa Próximo Futuro entre 2009 e 2015). No que toca ao acervo, “uma questão muito importante, que podemos começar a debater, não é tanto a representação na colecção de artistas mulheres que estão a trabalhar agora (o que é relativamente fácil), mas antes daquelas que trabalharam no passado.”
Quanto à colecção da Caixa Geral de Depósitos, com obras de artistas nacionais relevantes como Leonor Antunes, Ana Jotta, Filipa César, Paula Rego, Helena Almeida ou Ana Vieira, prevê-se que tenha à volta de 520 artistas, dos quais 130 são mulheres – dados imprecisos, pois o sistema de inventariação não permite a pesquisa pelo género dos artistas, nota Miguel Caissotti, conservador da colecção (as aquisições “estão suspensas por questões conjunturais desde 2008”). Nas galerias da Culturgest Lisboa e Porto, nos últimos cinco anos fizeram-se 27 exposições a solo, 11 delas de mulheres. Este ano, das sete agendadas, só uma será de uma mulher, a alemã Alice Creischer.
Uma falha clara no questionário das Guerrilla Girls, no caso português, foi não contemplar a colecção da Fundação EDP, orientada para a arte contemporânea portuguesa a partir da década de 60. Aqui contabilizam-se 310 artistas, dos quais 85 são mulheres (27,42%) e 225 são homens (72,58%). O que nos leva ao MAAT – Museu de Arte, Tecnologia e Arquitectura, em Lisboa, cuja inauguração em Junho de 2016 foi feita com a exposição de uma mulher, Dominique Gonzalez-Foerster. Para este ano estão agendadas oito individuais, três de mulheres portuguesas (Ana Pérez-Quiroga, Fernanda Fragateiro e Ana Jotta).
Em relação a instituições fora de Lisboa e Porto, vale a pena referir o Museu de Arte Contemporânea de Elvas com a colecção António Cachola, dedicada a artistas portugueses activos desde o pós-25 de Abril – actualmente com 70% de homens e 30% de mulheres. Nos últimos cinco anos, das 100 novas aquisições, 23 são de artistas mulheres, entre elas Dalila Gonçalves, Priscila Fernandes e Ângela Ferreira. Para este ano estão programadas três individuais entre Elvas e Lisboa, uma delas de uma mulher, Ana Rito. Também no Alentejo, em Évora, olhámos para o Fórum da Fundação Eugénio de Almeida, cujo programa arrancou em 2013 (não têm colecção). Desde então, fizeram-se 14 exposições individuais, cinco de mulheres, quatro de artistas de África, Ásia e América do Sul. Este ano, todas as exposições individuais – programadas por Filipa Oliveira, que assumiu a direcção artística em 2015 – são de mulheres (Fernanda Fragateiro, Margarida Lagarto e Marianne Mueller).
Já na ilha de São Miguel, Açores, a colecção do Arquipélago, centro de artes contemporâneas inaugurado em 2015, tem 48 artistas, 17 deles mulheres. Na colecção do Mudas – Museu de Arte Contemporânea da Madeira, também de portas abertas desde 2015, estão representadas 84 mulheres num total de 304 autores.
Consciencialização
Como mostram os números, apesar de melhorias recentes na balança, ainda persistem assimetrias na representação de artistas mulheres e homens. É preciso uma acção contínua e sistemática, de ano para ano, de direcção para direcção, de forma a operar uma mudança estrutural – tanto para atingir a igualdade de género como a diversidade étnica. “Reconhecer o cânone masculino e branco, sem rasurar a sua história, obriga a uma preocupação continuada com estas desigualdades”, afirma o Pipi Colonial, novo colectivo português fundado por Ana Cristina Cachola, Daniela Agostinho e Joana Mayer cujo objectivo é “colocar na agenda a relação entre género e colonialidade através da curadoria, da programação e da produção de pensamento crítico”.
Impõe-se passar da teoria à prática para não perpetuar um entendimento parcial da história da arte e da actual produção artística. “Muitas colecções são o reflexo do mercado. É importante não seguir modas e actualizar as colecções, pois os tempos mudam, as pessoas mudam, as visões mudam”, lembra Suzanne Cotter. “É no momento em que os directores das instituições pensam a sua programação que têm de ter em consideração estas questões, pois é aí que podem fazer a diferença”, assinala Filipa Oliveira, do Fórum Eugénio de Almeida. “Quando pedimos aos museus para revelarem as estatísticas das suas colecções e exposições individuais eles ficam chocados com o número reduzido de mulheres e de artistas não brancos que apresentam”, dizem as Guerrilla Girls. “As mostras colectivas têm mais diversidade, mas não o suficiente. Os museus têm de alargar a sua rede se quiserem mostrar uma verdadeira história da arte”, alertam. E não “subestimar os públicos”, acrescenta Cotter. “Respeitá-los não quer dizer darmos-lhes aquilo que pensamos que eles querem.”
“Quando tens programas compostos exclusivamente ou na sua maioria por homens estás a dizer, enquanto instituição, que metade da voz da população não interessa”, notam Luís Silva e João Mourão da Kunsthalle Lissabon, que para este ano programaram quatro exposições individuais, três delas de mulheres (a primeira, de Nathalie Du Pasquier, já arrancou e fica até Abril). As artes plásticas não existem num vácuo. Tal como outras áreas, reflectem as dinâmicas institucionalizadas das sociedades patriarcais. “São estruturas ideológicas que reproduzimos sem nos questionarmos. Até como falamos: o nosso plural, por defeito, é masculino”, aponta Luís Silva, referindo que os desequilíbrios tanto se encontram em espaços mais pequenos como em grandes instituições. Devia o mundo da arte ser mais progressista? “Este sistema [da arte contemporânea] tem uma obrigação clara, baseada na sua historiografia e discursos programáticos persistentes, de ser radical na procura de soluções para este problema sistémico”, consideram as Pipi Colonial.
Como refere Nayia Yiakoumaki, “todos os profissionais da arte têm responsabilidade na mudança”. Dos directores aos curadores, dos agentes do mercado aos artistas, dos jornalistas aos professores. A consciencialização tem de partir de todos. “O problema da diversidade começa nas universidades. Temos de ter professores e conferencistas diversos, temos de ter aulas em que se fale destas questões, temos de melhorar o acesso ao ensino de pessoas de várias etnias”, sublinha a curadora da Whitechapel.
Para Pedro Lapa, do Museu Berardo, tem de se ter em consideração a evolução “das dinâmicas” sociais e políticas ao longo da história e o “diferido que estas situações têm nos resultados da produção artística”. E, acrescenta, “as gerações mais novas foram formadas num contexto em que só alguns restos dessa discriminação apareceram”. “O funcionamento social hoje, das próprias instituições, não está sujeito a isso, o que não significa que não se fale da questão”, considera. Luís e João contrapõem. “Há toda uma geração que nasceu no pós-25 de Abril que continua a reproduzir estes modelos patriarcais. Está melhor do que antes, mas ainda há muito por fazer.”
Estas práticas são perpetuadas por todos. O facto de haver cada vez mais mulheres na curadoria e na direcção de museus e galerias não se traduz necessariamente numa maior representação de artistas mulheres. Também elas reproduzem, “consciente ou inconscientemente, não só o cânone masculino, mas também práticas sociais machistas – como galeristas mulheres que preferem representar mais artistas homens por apresentarem melhores perspectivas de carreira”, exemplificam as Pipi Colonial.
Sendo que a própria noção de sucesso é “masculinizada”, observa o colectivo. “O sucesso é definido por critérios de valorização monetária das obras, exposição mediática e circulação internacional que dependem dos sistemas de validação predominantemente masculinos de um sistema económico neoliberal.” Este ecossistema produz barreiras ao percurso das mulheres e alimenta ciclos de invisibilidade. “Se fores um jovem artista homem é mais fácil entrares para uma galeria e teres uma fonte de rendimento pela venda do teu trabalho, porque as mulheres estão menos bem cotadas no mercado, atingem preços mais baixos, por isso escolhem homens”, diz Luís Silva. É uma bola de neve. “Se não consegues ganhar dinheiro e se ninguém te convida para fazer exposições, vais ter de procurar outro trabalho, e assim desapareces.” João Mourão: “Há mais mulheres a acabar os cursos em Belas-Artes, mas depois o que acontece no percurso delas é muito mais complicado do que no dos homens.”
Pelo menos as percentagens das faculdades de Belas-Artes do Porto e de Lisboa confirmam essa maioria. Na primeira, no ano lectivo de 2015/2016, 73% dos licenciados no curso de artes plásticas foram mulheres, contra 58% em 2006/2007. Na segunda, as mulheres estão também em maioria nos licenciados em pintura e escultura, tanto no último ano lectivo, na casa dos 60%, como há dez anos, na ordem dos 70%.
Melhorar, valorizar
Por tudo isto é importante “não reproduzir o sistema”, diz Luís Silva. E pensar “em práticas curatoriais feministas”, reforça Nayia Yiakoumaki – práticas que procurem instalar a igualdade de género (indo também além do sistema binário homem/mulher) e combater o sexismo, seja ele perpetuado por homens ou mulheres, sempre numa perspectiva interseccional que tenha em conta questões de raça, classe e orientações sexuais. E sem esquecer que há muito por fazer nos bastidores.
“Continua a verificar-se que muitas áreas de trabalho invisível e monetariamente desvalorizado no sistema artístico continuam a ser desempenhadas por mulheres, frequentemente altamente especializadas”, lembram as Pipi Colonial. “Basta pensar, em Portugal, no número de técnicas superiores em museus, mas também no número de galerias dirigidas por homens em que as assistentes são mulheres, desempenhando funções muito para além das contratualizadas.” Além do número de pessoas não brancas no circuito português de artes plásticas ser muito reduzido (como se vê, inclusive, pelas direcções das instituições aqui referidas). A isso não são alheios os mecanismos sociais de discriminação institucionalizada. “Parte logo do acesso ao ensino e das oportunidades. Isso vai criando barreiras”, considera Luís Silva.
Apesar de tudo, e voltando a olhar lá para fora, têm surgido alguns exemplos positivos. Frances Morris, nova directora da importante Tate Modern (Londres), tem feito uma forte aposta em artistas mulheres. Nas bienais, mais de metade do painel da última de São Paulo é constituído por mulheres (parte das obras virão a Serralves), e a próxima Bienal de Veneza contará com uma maior presença de mulheres artistas, e de autores da América do Sul, da América Central e do Médio Oriente, relativamente a edições anteriores.
Também os museus de arte antiga têm um papel fulcral nesta narrativa, no sentido de recuperar artistas mulheres que foram apagadas ou secundarizadas na história. Em 2016 – feitas as contas, 200 anos depois – o Museu do Prado (Madrid) apresentou a sua primeira exposição a solo de uma mulher, Clara Peeters. Também no ano passado, a Royal Collection, em Londres, usou como imagem de divulgação da exposição Portrait of The Artist um auto-retrato de Artemisia Gentileschi (1593-1653), em vez dos habituais Rembrandt ou Leonardo da Vinci. E a direcção do Uffizi, em Florença, anunciou que irá começar a mostrar regularmente exposições de mulheres, uma decisão que diz ter sido incentivada pelas Guerrilla Girls.
Para Luís Silva e João Mourão, é fulcral que estas acções não sejam meramente pontuais. “Uma coisa é diversidade, outra coisa é o tokenism – escolheres alguém de vez em quando para mascarar essa representação” (ver o pop quiz das Guerrilla Girls). E sem exercícios de exoticização e objectificação. “Nós tentamos evitar ao máximo, quando comunicamos uma exposição, essa ideia de representação de uma etnia ou de um país não-ocidental, essa ideia do ‘exótico’”. A própria linguagem está armadilhada. Expressões tantas vezes usadas como “arte feita por mulheres”, “arte no feminino” (costumamos ouvir “arte no masculino”?) ou “afirmação feminina” podem reforçar estereótipos de género e contribuir para uma guetização. No fundo, “reproduzir uma falsa especificidade do trabalho artístico das mulheres, ao invés de o admitir ao cânone artístico e, assim, de o diversificar”, esclarecem as Pipi Colonial.
A mudança pode demorar, mas, para Luís Silva e João Mourão, “está a começar”. “Aqui e lá fora este debate já passou de um não-assunto para um assunto. As pessoas vão ter de falar disto – mesmo contrariadas.”
Publicação Original: Quão desigual é o mundo da arte?