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“Quando a mulher está grávida, há a tensão de ser demitida”, diz Barbara Thomaz, desligada em duas gestações

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:

 

Veja publicação original:  “Quando a mulher está grávida, há a tensão de ser demitida”, diz Barbara Thomaz, desligada em duas gestações

 

Apresentadora Barbara Thomaz é mais uma vítima da estatística revelada por pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, mostrando que 48% das mães perdem o emprego nos primeiros 12 meses após o nascimento do bebê

 

Um dado alarmante foi levantado com a pesquisa “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, da Fundação Getúlio Vargas: 48% das mães saem de seus trabalhos nos primeiros 12 meses após terem seus filhos. Esse resultado é derivado de entrevistas com 247.455 mulheres entre 2009 e 2012.

 

 

Pela lei, elas têm direito a estabilidade durante toda a gestação e até cinco meses após o parto. Além dessa instabilidade ao retornar ao ambiente de trabalho, quando voltam à ativa enfrentam outros desafios como creches distantes e horários não flexíveis. Muitas nem esperam serem demitidas, desistem de seus próprios empregos por não conseguirem conciliar a carreira com a maternidade.

 

 

A apresentadora Barbara Thomaz, 32 anos, faz parte desta estatística. Foi demitida aos sete meses de gestação de seu primeiro filho, Theodoro, 5 anos, e durante a licença-maternidade de seu segundo, Antonio, de 2. Abaixo, ela dá seu relato:

 

 

“Tive o azar de ter passado por isso com os meus dois filhos: Theodoro, hoje com 5 anos, e Antonio, 2. Na primeira situação era prestadora de serviços e trabalhava no canal Glitz como apresentadora do programa ‘Glam’. Estava grávida de sete meses, com o contrato prestes a vencer, mas sempre conversava como seria minha licença-maternidade porque, afinal de contas, eu não registrada mas era funcionária. No dia em que o acordo venceu eu estava em Miami fazendo o enxoval quando vi o e-mail da minha empresária dizendo que o canal não iria renovar o contrato. Eu estava fechando minha mala cheia de roupinhas de bebê para voltar ao Brasil quando recebi a notícia. Fiquei muito abalada porque estava disposta até de ter uma licença menor para voltar a trabalhar o quanto antes. Senti aquele desamparo, a insegurança. Me dispensaram com sete meses de gravidez enquanto fazia o enxoval do meu filho. Meu marido, Enricco, na época, ficou transtornado porque tudo foi um absurdo mesmo. Mas não processei a empresa.

 

 

Fiquei 1 ano afastada com medo de tudo e resolvi me dedicar à maternidade integralmente. A partir do momento que você engravida, já vira mãe e as pessoas do trabalho te veem como um problema porque em algum momento vamos ter algum contratempo com o filho e teremos que sair mais cedo ou outra emergência. De fato nossa disponibilidade é menor e isso não é vergonha. Precisamos desse apoio, cuidado e suporte mas passa a ser problemático.

 

 

Após esse período, me refiz da demissão e entrei para a TV Cultura. O programa era ao vivo todos os dias. O Theo tinha 2 anos e em menos de um ano no trabalho, engravidei do Antonio. Lá eu também era prestadora de serviços e me registraram ao saber da minha gravidez, mas isso não seria o principal problema.

 

 

Durante a gestação, ainda sem eu saber pois estava no comecinho, fui assediada por um colega de trabalho. Estava no meu camarim quando ele entrou, me agarrou e me beijou na boca. Lembro que usava um batom vermelho e fiquei toda borrada. Na mesma hora dei um empurrão e falei que ele estava confundindo tudo e saí. Foi só o começo do inferno. Desse dia em diante, ele começou a ser frio, me tratar mal e todos da produção me perguntavam o que havia acontecido. Continuamos trabalhando juntos naquele ambiente horrível. Me reportei à superintendente sobre o episódio, mas nada aconteceu. Na verdade, foi até promovido. Para mim, aconteceu de tudo: o programa acabou e fiquei na geladeira por três meses. Estava à disposição para trabalhar mas não me chamavam. Entrei em licença maternidade e sempre perguntava se teria alguma atração nova, não fiquei distante da emissora. Mas não tinha respostas.

 

 

Me ligaram ainda no meu período de afastamento para assinar minha carta de demissão. Sem dó. ‘Você precisa vir aqui para assinar o desligamento.’ Me colocaram na geladeira e depois me desligaram. Na hora me deu aquele mal estar. Mas já esperava. Quando a mulher está grávida existe um apito constante ‘vou ser demitida’. Vem toda aquela previsão de virarmos um problema e estavam me tratando forma absolutamente negligente, turva.

 

 

Quando cheguei para assinar o rompimento, o RH me disse que não poderiam me demitir mais. Eles tinham feito uma demissão em massa e o sindicato entrou com uma ação de impedimento. Estava apta para trabalhar mas me mantiveram afastada de agosto a dezembro de 2014 até conseguirem me tirar do quadro de funcionários.

 

 

Muitas mães que não são demitidas e continuam no emprego sentem uma acidez no tratamento, algo punitivo. Na TV Cultura eu já era mãe do Theo e quando fiquei grávida, tudo piorou. Estava no limite, extremamente sobrecarregada. Um dia cheguei até a desmaiar antes do programa. Não tinha folga, férias, estava grávida e cheguei a fazer uma reclamação oficial sobre o ambiente insalubre no qual eu trabalhava. Tem que se provar muito mais quando é mãe, quando está grávida. Por isso que muitas saem dos seus empregos. As empresas não entendem o que passamos, as responsabilidades que temos.

 

 

Todos esses meses foram me matando aos poucos, me traumatizaram muito. Após a demissão não queria mais ficar em São Paulo e fui morar em Piracaia, interior de São Paulo, com meu marido e filhos. Tive depressão e até hoje estou em tratamento. Demorei para reconhecer que precisava de ajuda médica. A gente acha que tem que dar conta de tudo, que não pode reclamar porque tem uma vida boa. Fui negando a mim mesma a depressão que sentia. Cheguei a ter três pneumonias seguidas.

 

 

Ficamos alguns meses no interior e acabei me separando. Voltei para São Paulo. Nesse meio tempo entendi por que as mães viram empreendedoras. O mercado de trabalho não consegue nos absorver. Se você continua no esquema tradicional, é desumano. Então você precisa achar um caminho para tentar ficar mais próxima aos filhos. Tive que ter um recomeço de tudo. Estou para lançar uma marca de moda infantil, ‘Oh yeah, baby!’. Saí do exílio materno. Voltei a trabalhar e provavelmente lançarei um canal no Youtube. Ser mãe não me define, é uma boa parte da minha vida, mas não sou só isso.”

 

 

 

 

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