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Veja publicação original: Projeto do TJ é caminho de libertação para mulheres vítimas de agressão
A constelação familiar sistêmica tem sido um dos métodos adotados pelo Poder Judiciário de Mato Grosso, desde junho de 2016, nas Varas de Violência Doméstica para a solução de conflitos. Esta ferramenta se mostra eficaz e menos traumática na vida de mulheres e de suas famílias que sofreram abusos e agressões. Em muitos dos casos a aplicação da Lei Maria da Penha (que completa 11 anos neste mês) foi a primeira alternativa e a constelação vem para contribuir nesse contexto, ajudando romper o ciclo da violência.
Com a constelação a mulher ganha força, se empodera para romper com a relação abusiva ou para mudar padrões de comportamento, a fim de reconstruir essa própria relação de maneira sadia, na qual os filhos tenham referência e vejam o que é exemplo familiar e não um ambiente destrutivo onde a violência predomine.
A técnica tem auxiliado mulheres como Raquel*, que aos 31 anos transformou sua vida depois de participar da constelação. Foi ali que ela encontrou forças para reagir. Ela sofreu durante anos vários tipos de agressões físicas, psicológicas e verbais, e resolveu procurar o Poder Judiciário depois de apanhar na rua. “Fui espancada no meio da rua, todo mundo que me conhecia viu o que estava acontecendo. Então, foi uma força que me motivou a procurar a Justiça. Com a constelação você se sente amparada e começa a reconstruir a sua autoestima, a se ver no espelho e cada vez que eu participo eu me sinto mais forte e capaz. A minha história de tristeza tomou novo rumo”.
Percursor do método no Estado, o juiz da Primeira Vara de Violência Doméstica e Familiar de Cuiabá, Jamilson Haddad, explica que a constelação familiar faz parte de um olhar da própria vida humana, traz uma autocompreensão das mulheres, reconhecendo que elas estão inseridas num emaranhado emocional, e dá o empoderamento para ela romper com a relação doentia. A técnica permite que a mulher compreenda que nada justifica a violência, cessando o ciclo de repetição de profundas dores.
O magistrado fala que os relatos são impressionantes, que as mulheres chegam nitidamente fragilizadas, emocionalmente abatidas, por vezes desesperadas, enfraquecidas e com vergonha. Segundo ele, após a constelação e a prática de exercícios sistêmicos é visível a alteração do estado emocional da vítima de violência, seja para compreender o motivo de estar nessa relação ou para que haja um rompimento, “para que ela tenha dignidade e um caminhar sadio e não ao lado de alguém que a agrida”.
No caso de Carla*, ela diz ter se acostumado a viver com as agressões frequentes. Recém-separada em virtude do alcoolismo do ex-marido, as brigas e abusos haviam se tornado constantes. Ela foi uma das mulheres atendidas pela Primeira Vara Especializada de Violência Doméstica e encontrou na constelação a sensação de liberdade. “Eu me sentia culpada e na constelação entendi que o que existem são pessoas diferentes em uma relação onde o mais importante é que exista respeito e compreensão. Nós que temos que correr atrás do que a gente quer para ser feliz e não deixar a felicidade na mão dos outros”.
Esse trabalho é voltado também para um projeto de reflexão, de acolhimento psicológico com a visão do direito sistêmico dos homens, os agressores. Conforme o juiz, ainda que se rompa a relação ou não, o homem tem o contexto da cultura machista e o contexto da carga genética que ele recebeu dos seus pais e ascendentes. Se ele nasceu num ambiente desestruturado, com violência e falta de diálogo, ele vai reproduzir esse comportamento, assim como a mulher dentro desse contexto.
“Acredito com convicção que a constelação é uma revolução para esse movimento depressivo que a sociedade se encontra, para esse movimento de desestruturação nas relações que nós estamos vivenciando. Ela traz o rompimento dessa relação porque não é mais possível continuar ou uma reconstrução de maneira mais digna, e isso é o importante, em especial para os filhos nessa relação”.
Denúncias
O Ligue 180 é um canal direto para fazer denúncias sobre relacionamento abusivo e também para orientações sobre direitos e serviços públicos voltados para mulheres em todo Brasil. A ligação é gratuita.
Outro canal é por meio das redes sociais (Facebook, YouTube e Twitter). A Campanha #NãoéAmorQuando é uma ação que visa mostrar gestos e comportamentos que indicam que a relação caminha para a violência.
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