Saiu no site G1
Veja publicação original: Profissão coveira: mulheres encaram desafios em trabalho dominado por homens
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Levantamento do G1 mostra que nas 46 cidades da região apenas seis mulheres ocupam a função nos cemitérios. Entre as tarefas que elas desempenham no dia a dia estão abertura de covas e exumação dos corpos.
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Por Camilla Motta
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Em uma profissão dominada por homens, as mulheres que atuam como coveiras conseguem mudar a imagem ‘sombria’ do cargo sem deixar de fazer tudo o que os colegas de trabalho fazem: elas abrem covas, fazem exumação – retirada dos restos mortais para transferir para outro espaço – e colocam caixões dentro dos jazigos. Um levantamento feito pelo G1 mostra que nas 46 cidades do Vale do Paraíba e região bragantina ao menos seis mulheres dão cara nova ao cargo.
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Nesta sexta-feira (2), Dia de Finados, o G1 conta as histórias de mulheres que exercem a função. Os dados, apurados com cemitérios e prefeituras, mostram que duas profissionais atuam em São José dos Campos, uma em Jacareí, duas em Nazaré Paulista e uma em Bom Jesus dos Perdões.
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Na rotina de Ângela Chineman, de 52 anos, lidar com túmulos e caixões se tornou compromisso cotidiano. Ela trabalha há quase dez anos como coveira no cemitério de Bom Jesus dos Perdões e conta que começou a carreira após prestar um concurso público.
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“Acabei passando no de coveira e no começo fiquei ressabiada. Todo mundo achava que eu não ia ter coragem, mas eu não ia desistir”, contou.
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Os detalhes da profissão foram ensinados a ela por um coveiro, que hoje é aposentado. Ele a inspirou a amar e se dedicar ao que faz. Pouco tempo depois, ela já estava fazendo os enterros sozinha e se virando nas outras funções.
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“Eu abro a cova, tiro terra, retiro os restos mortais. Às vezes a família está presente, mas quando não vem, coloco os restos em um saco e guardo uma peça de roupa, um brinco, algo que a família vai lembrar”, disse.
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Ângela conta ainda que como Bom Jesus dos Perdões é uma cidade pequena, com quase 25 mil habitantes, ela acaba conhecendo muitas famílias e faz o que pode para que elas se sintam acolhidas no momento da perda.
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“Eu perdi a minha irmã no ano passado e sei como é horrível perder alguém. Então, faço o possível para amenizar a dor. Esse trabalho é importante para a sociedade. Uma vez me disseram: ‘que missão linda você tem, você foi a escolhida para issso’. E eu guardei isso pra mim”, completou.
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Em Jacareí, a coveira Renata Lopes, de 49 anos, já pode ser considerada uma veterana: exerce a profissão há quase 18 anos.
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“No começo foi difícil porque eu fui a primeira mulher a ocupar um cargo de coveira no Vale do Paraíba e sofri preconceito dos homens. Sabemos que não é uma profissão leve, mas depois que mostrei que sou capaz, começaram a me olhar com outros olhos”, relembra.
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Ela conta que, por ser mãe, é inevitável não se emocionar quando tem que lidar com sepultamentos de crianças. Em todos esses anos, um dos momentos que mais a emocionou foi quando uma senhora pediu para que ela cuidasse do corpo do filho.
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“O filho dela estava com depressão porque tinha perdido a esposa e foi até o Rio Paraíba, bebeu e pulou. Durante o enterro, a mãe dele me pediu: ‘cuida do meu filho, por favor’. Aquilo mexeu muito comigo”, contou.
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Ela diz ainda que procura a encarar o trabalho de forma tranquila. “Acontece muita coisa emocionante, aqui é um santuário. Tem quem escolha ver só a morte, falar que tem espíritos. Eu não consigo ver dessa forma, para mim é um lugar bom, de paz. Encaro com muita tranquilidade”, finalizou.
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(*) Colaboraram: Luiza Veneziani e Jaine Monteiro
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Renata e um colega de trabalho no cemitério de Jacareí — Foto: Arquivo Pessoal
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