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Produtora de moda acusa loja de racismo e desabafa: “Somos diariamente calados”

Saiu na MARIE CLAIRE

Veja a Publicação Original.

Antes mesmo de ingressar no mundo da moda, em 2017, Naiara Albuquerque sabia que precisaria não apenas de qualificação técnica para exercer a profissão, mas de toda sua força para lidar com o racismo enraizado no mercado (e na sociedade). “São raríssimos os nomes de pessoas negras na moda tendo uma visibilidade, muitas param no meio do caminho porque não aguentam”, conta a produtora à Marie Claire. Mas na última quinta-feira (21), ao vivenciar discriminação em uma loja de luxo em São Paulo, ela resolveu dar um basta.

Naiara foi às redes sociais contar sua história, contratou as advogadas Silvia Souza e Juliana Souza – também mulheres negras e ativistas na luta antirracismo – e quer que seu exemplo sirva como ponto de reflexão para mudanças.

O que aconteceu

Segundo a advogada Juliana Souza, Naiara foi até a loja Lool, localizada no shopping Iguatemi, em São Paulo, escolher acessórios que seriam usados pela atriz Taís Araujo na série “Aruanas”, da TV Globo, conforme acordado previamente com o marketing da marca. Lá, uma vendedora que atendia outra mulher pediu que Naiara esperasse no lado de fora da loja. “Tendo em vista que estamos e um momento de pandemia, acreditando no bom senso das pessoas, Naiara imaginou que a orientação se tratava de um protocolo sanitário”, conta a advogada.

Ela, então, resolveu dar uma volta. Mas ao retornar à loja percebeu que outras clientes não negras estavam sendo atendidas. Ao questionar a vendedora, Naiara teria sido tratada com desdém e novamente orientada a aguardar fora do estabelecimento. “Não foi apresentada nenhuma justificativa verbal para a situação, mas para nós está mais do que evidente que se trata de um caso de racismo, tendo em vista que foi dado um tratamento diferenciado para clientes”, explica Juliana. A loja agora responderá tanto na via criminal, por racismo, quanto na esfera civil. Diante da repercussão a fundadora da marca, Luiza Setúbal, entrou em contato com a produtora para pedir desculpas.

Naiara conta que situações de racismo, sobretudo em marcas de luxo, são recorrentes. “Isso precisa realmente ser visto, ser gritado. Não é só um pedido de desculpas que vai resolver ou reparar tudo que vem acontecendo por anos na nossa sociedade, principalmente no quesito da moda. É um espaço extremamente racista onde nós somos diariamente calados”, desabafa. “Eu estava lá só fazendo o meu trabalho. É muito difícil para pessoas em shopping de luxo aceitarem eu entrando nesse tipo de espaço”.

Para Naiara, seu caso pode encorajar outros profissionais a denunciar situações semelhantes. “Muitas pessoas não querem expor por medo de não serem mais chamadas para outros trabalhos, elas se sentem intimidadas. Não dá. É inadmissível a branquitude em relação a nós. Exatamente por isso que não quero simplesmente deixar passar. Não foi só um desdém”, explica. “Cansa, né? Eu sou alguém. Por que esse posicionamento comigo? Eu quero essa resposta. Não só por mim, como pelas minhas outras amigas que passam pela mesma coisa. O episódio pode ser o mesmo, só trocar o nome, mas a figura de uma mulher negra dentro da moda vai ser a mesma”, lamenta.

Reparação coletiva

A defesa da produtora afirma estar à disposição para construir uma proposta de reparação não apenas individual, mas que também sirva à comunidade negra. “O racismo atinge toda uma coletividade. Todas as pessoas negras que experienciam o racismo cotidianamente no Brasil, são atingidas por esse caso”, explica a advogada Silvia Souza. “Vamos trabalhar para que esse caso se torne uma referência no mundo da moda, na área como um todo, de que as pessoas precisam ser tratadas com dignidade e que pessoas negras não aceitam mais ser tratadas como cidadãos de segunda classe”, completa Juliana.

Entre os pontos que elas destacam, está a necessidade de empresas não apenas contratarem pessoas negras, mas oferecerem boa remuneração, condições de ascensão e de cuidados com saúde mental. “Esperamos que esse episódio fique registrado na história, mas que não se repita mais. Que esses lugares que a gente ocupa, que são lugares importantes, sejam normalizados, não como se nós não fossemos adequadas ou estivessemos fora do lugar”, defende Silvia. “A naiara sendo uma mulher preta ter se colocado, não ter tido medo, ser representada por mulheres pretas isso é a quebra de um paradigma”, acrescenta Juliana.

Futuro

Naiara, que já trabalhou com vários artistas, entre eles a cantora Anitta, abriu recentemente sua própria marca e quer dar novos passos na carreira, inspirando também outras jovens meninas negras. “Hoje uma das minhas maiores vontades é que a marca cresça e vire uma potência. Não tenho mais vontade de continuar nessa vida de produção de moda, porque, por mais que a gente venha nessa luta, não vai mudar. O racismo é tão enraizado que você perde o tesão do negócio”, diz. “Quero continuar trabalhando com moda, obviamente. Eu sou realmente uma pessoa da moda, mas já visualizo outras questões, até mesmo em relação às meninas pretas que estão começando. Quero dar uma ampliada e jogar realmente essas meninas no mercado”.

As advogadas Silvia Souza e Juliana Souza (Foto: André Nicolau)
As advogadas Silvia Souza e Juliana Souza (Foto: André Nicolau)

O que diz a Lool

Em comunicado oficial no Instagram, a marca afirmou que o ato que Naiara sofreu “está completamente em desacordo com os valores da Lool”. “Nunca compactuamos com qualquer ação discriminatória, seja ela racial, de gênero, sexualidade ou classe e seguimos não compactuando”, afirma a nota.

O texto ainda diz que a empresa está refletindo sobre políticas internas de contratação e treinamento de colaboradores e que a fundadora da marca, Luiza Setúbal, entrou em contato com a produtora de moda. Veja na íntegra no post abaixo:

Lool se pronuncia sobre caso de racismo (Foto: Reprodução / Instagram)
Lool se pronuncia sobre caso de racismo (Foto: Reprodução / Instagram)
Lool se pronuncia sobre caso de racismo (Foto: Reprodução / Instagram)
Lool se pronuncia sobre caso de racismo (Foto: Reprodução / Instagram)

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