Saiu no site UNIVERSA:
Veja publicação original: Primeira turma exclusiva de pilotas de avião se forma no Brasil
.
Por Camila Brandalise
.
Tem gosto de déjà-vu o sorriso de orgulho da comandante de voo Cintia Lanhozo, de 31 anos, ao ver 16 colegas pilotas (sim, o termo existe e é usado na aviação) receberem diplomas para trabalhar na mesma companhia aérea que ela. Enquanto caminha pelo evento de formatura, ela relembra a própria experiência. Quatro anos antes, ela se formava. Só que, na época, era a única mulher.
.
A Avianca Brasil celebrou há dois dias a primeira turma de pilotos composta exclusivamente por mulheres; a única da história da aviação brasileira, segundo a empresa. Elas têm entre 25 a 33 anos e, com essas contratações, elevam para 34 o número de pilotas na empresa. O número de homens é de cerca de 600.
.
Atualmente, 3% dos pilotos brasileiros são mulheres, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Há 1.465 mulheres e 46.556 homens. A Avianca pretende ter 30% de pilotas mulheres em cada uma das novas turmas formadas. Informa que também pretende investir na diversidade. Nesta turma, não há negras.
.
.
Passageira não embarcou ao saber que comandante era mulher
.
Ser mulher e jovem nesse meio, para Cintia, é conviver com olhares e cochichos o tempo todo.
.
.
Ela conta que já passou por situações constrangedoras. “Um senhor pediu para falar comigo, antes da decolagem, e disse: ‘Cuidado com nossas vidas, mocinha’. Respondi que teria cuidado, inclusive com a minha.” Os relatos vão de cochichos entre passageiros (“de cada dez que entram no avião, seis comentam”), ao episódio de desistência de uma passageira, quando soube o gênero da responsável pelo voo. Parece coisa da década passada, mas foi há quatro meses. “Não me importo. Só quero fazer meu trabalho”, diz.
.
.
“Mas você consegue pilotar aquele bichão?”
.
A pilota Mireli Rinaldi, de 30 anos, é constantemente questionada se é comissária de bordo. “Sempre estranham quando explico que sou pilota.” Certa vez, um taxista perguntou: “Mas você consegue pilotar aquele bichão?”. “Tentei levar na brincadeira, disse que só sabia pilotar fogão.”
.
.
.
As mudanças, em comparação com a época em que começou, são evidentes. “Quando entrei na escola de aviação, era só eu e mais uma colega, entre 60 homens”. Nos aeroportos, a impressão é a mesma. “Há muitas mais mulheres pilotos nos saguões”.
.
.
Habilidades femininas
.
O presidente da Avianca Brasil, Frederico Pedreira, afirma que o esforço para diversificar o quadro de profissionais começou há dois anos, e com dificuldades. “Até hoje, só 5% dos currículos que recebemos são de mulheres.”
.
Acumular horas de voo é um dos maiores empecilhos para montar um bom currículo. Empresas de aviação privada não querem pagar quartos de hotéis para dois funcionários, por isso, preferem que os pilotos sejam dois homens; assim, eles podem dormir no mesmo quarto. “Também afirmam ter gastos para reformular o quadro de funcionários quando a funcionária engravida”, diz a pilota Paula Soffo, de 32 anos.
.
.
.
Pedreira salienta que sempre teve retorno positivo pelo trabalho das profissionais. Um dos elogios diz respeito à capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Senso comum, mas faz sentido dentro de uma cabine de avião. “Durante o voo, ao mesmo tempo que piloto, falo com o controle de tráfego aéreo e estou apertando vários botões”, diz Cintia.
.
.
.
.
.
.
.