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PRÊMIO CARLOTA PEREIRA DE QUEIRÓS 2017

Hoje, (26/10) fui agraciada com o Prêmio Carlota Pereira de Queirós 2017, em Brasília.

 

Carlota Pereira de Queirós (1892-1982) nasceu na cidade de São Paulo. Médica, escritora e pedagoga, foi a primeira mulher brasileira a votar e ser eleita deputada federal. Entre 1934 e 1935, participou dos trabalhos na Assembleia Nacional Constituinte.

Foi eleita à Câmara dos Deputados pelo Estado de São Paulo em 1934. Durante o mandato, dedicou-se a ações educacionais que contemplassem melhor o tratamento às mulheres e às crianças. Ocupou o cargo até 1937, quando Getúlio Vargas fechou o Congresso, foi a primeira deputada federal.

 

 

As deputadas Shéridan (PSDB-RR), presidente da comissão, e Laura Carneiro (PMDB-RJ), 1ª vice-presidente do colegiado, solicitantes da sessão, destacaram as homenageadas e o prêmio. Homenageou mulheres que contribuíram para o pleno exercício da cidadania, na defesa dos direitos da mulher e nas questões de gênero.

 

 

Também foram agraciadas nesta edição (2017): a advogada Daniela Rodrigues Teixeira; a cantora Elza da Conceição Soares; a médica Marina Kroeff; e a líder comunitária Raimunda Gomes da Silva.

 

 

Por trás de cada conquista, há sacrifícios que poucos enxergam, lutar pelos direitos das mulheres é meu maior objetivo, por isso sigo em frente.

 

 

Na segunda feira eu fiz um post no meu instagram sobre a violência sexual, física e psicológica reproduzida pela novela O outro lado do paraíso. E recebi vários pedidos de ajuda e desabafos, mulheres compartilhando suas histórias, E muitas delas ainda em situação de violência, sem conseguirem sair desse ciclo.

 

 

Muitas ainda nem reconhecem a violência e o risco que estão correndo, e as consequências são graves, visto que isso reflete nos filhos, os filhos da violência: crianças e adolescentes que presenciam diariamente a violência contra suas mães. Serão eles os próximos agressores? serão as meninas as próximas vítimas?

 

E eu mesma já me fiz esse questionamento. Por que AS MULHERES  não denunciam, não conseguem sair da violência?

 

Porque a violência paralisa!

 

Você já se afogou alguma vez na vida ou teve aquela sensação de pular na piscina, ou tomar um caldo no mar e entrar água no seu nariz, ficando alguns segundos sem respirar?

 

 

É assim que acontece quando você sofre uma violência. Parece que você está se afogando: não dá pra reagir, falta força, falta fôlego, falta voz.   Pode parecer que não foi nada. Mas é grave, aperta o coração, acaba com sua autoestima. Você nunca mais vai esquecer.

 

 

E no momento em que você consegue respirar, é como se ressuscitasse de uma morte súbita. Você vai retomando a consciência sem saber ao certo o que aconteceu. Aos poucos vai assimilando e entrando no ciclo dos efeitos colaterais da violência; a paralisia, o silêncio, depois a culpa, a dor, a vergonha, o medo, a raiva e a sede de Justiça.

Muitas vezes é tarde demais.

 

 

Porém, o lado positivo é que quando uma mulher conta publicamente uma violência sofrida, ela se livra de um peso, ela divide a dor exterioriza o trauma, ela dá força para outras mulheres, como se ela pegasse na nossa mão e dissesse: “hei, você não está sozinha, você não teve culpa, vamos juntas”. A gente não precisa sofrer sozinha, não é verdade?

 

E esse canário acaba formando uma espécie de consciente coletivo que é muito mais forte do que qualquer castelo hollywoodiano e muito mais simbólico de qualquer estatueta do Óscar: é a força das mulheres que não são vítimas, mas sim sobreviventes.

 

Já recebi vários pedidos de ajuda e as histórias se repetem. Não só na promotoria, em que já cheguei a atuar, ao longo de minha carreira como promotora de justiça, em mais de 30 mil processos entre lesões corporais, ameaças, crimes cibernéticos, estupros de meninas e mulheres, feminicídios. Mas pelas redes sociais, emails, nas escolas, universidades, nas periferias, nas comunidades, enfim,  na minha atuação como militante dos direitos das mulheres. Por dia eu recebo aproximadamente 5 denúncias, pedidos de ajuda, orientação, desabafos, que vem de toda a parte do Brasil, de todas as classes sociais, religião, cultura, cor da pele.

 

Todas nos estamos sujeitas a violência, as artistas de Hollywood, as da Globo, as Deputadas, as promotoras, as advogadas, as médicas, as mulheres, as atletas, as mulheres idosas, as negras, as indígenas, as mulheres transsexuais, as lésbicas, as mulheres com deficiência, as adolescentes, as meninas …. Todas nós.

 

A voz ganhou eco. Ainda não e o cenário ideal, mas muita coisa ja mudou. Muitas mulheres estão falando. E as que ainda não falaram, se arrependem. Em algum momento da vida, elas vão falar, não sei se para denunciar a violência, mas para desabafar, alertar outras mulheres.

 

Agradeço imensamente a indicação, o Prêmio e principalmente o reconhecimento, essa conquista não é minha e sim de todas as mulheres.

 

 

Obrigada.

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