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Por que a diversidade das bonecas importa

Saiu no site UNIVERSA

 

Veja publicação original:  Por que a diversidade das bonecas importa

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Por Manoella Oliveira

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No mercado brasileiro, ainda predomina a normalização do padrão loira, branca e magra desde a infância, o que reforça preconceitos e gera impacto na autoestima e na construção da identidade das crianças.A Barbie anunciou para 2019 a expansão do seu portfólio com a inclusão de duas bonecas com deficiência física, uma cadeirante e outra com prótese na perna, como parte da comemoração de seus 60 anos. Para a fabricante, essa é uma oportunidade para que mais meninas se sintam representadas.

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Neste mês, o Brasil também ganhou sua primeira loja física de bonecas negras, no Rio de Janeiro. As novidades representam algumas das mudanças do mercado de brinquedos em direção à representatividade, mas o setor ainda está longe de refletir a diversidade de crianças.

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Um levantamento de 2018 realizado pela Cadê nossa boneca?, campanha da ONG Avante sobre padrões estéticos e representatividade na infância, mostrou que os modelos de bonecas negras representam apenas 7% do total. Dos 762 tipos analisados, 53 eram negras.

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Em 2016, a pesquisa havia identificado 1945 modelos, dos quais apenas 131 eram negras, ou seja, apenas 6,3%, um percentual muito similar ao do ano passado. Pessoas que se declaram pretas ou pardas representam mais de 55% da população brasileira, segundo dados do IBGE.

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Líderes do mercado de brinquedos desde que as estatísticas do setor começaram a ser produzidas no Brasil, as bonecas representaram quase 19% das vendas em 2017, segundo dados da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos). Apesar de robusto, o mercado ainda não atende todas as demandas do consumidor, como é o caso da baixa participação das bonecas negras.

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Para Ana Marcilio, psicóloga social e uma das coordenadoras da campanha Cadê nossa boneca?, as ações em direção à diversidade são positivas para evidenciar o problema e dar uma resposta, mas por serem pontuais não representam uma solução. “A gente está vendo cotas de bonecas. É uma mudança de cenário, antigamente nem isso tinha. Hoje tem lápis de cor com tons de pele diferentes, tem loja física de boneca negra. É emblemático, simbólico, mas precisamos avançar na oferta”, afirma.

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Para ela, a normalização “do padrão loira, branca e magra desde a infância” mostra e reforça o racismo desde cedo. “Para desconstruir depois é difícil. Precisamos garantir para a criança a possibilidade de se reconhecer nas bonecas, nos livros, para proporcionar a ela o desenvolvimento saudável da autoestima e da construção da identidade”.

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Brincar, explicam especialistas, também é uma forma com que as crianças aprendem sobre a cultura e o contexto em que estão inseridas. E os brinquedos, como parte desse processo de aprendizagem, têm efeitos na educação e na formação da criança. Modelos restritos de representatividade podem, por exemplo, gerar problemas de autoimagem e falta de empatia.

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“Por representarem fisicamente corpos humanos ou de personagens, as bonecas ensinam sobre modelos de corpo, gênero, etnia, comportamento, excluindo modos diferenciados de ser, colocando-os à margem do que é considerado ideal”, explica a psicopedagoga e educadora especial Michelle Cechin.

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Como consequência, as crianças podem rejeitar a si próprias e pessoas que sejam diferentes dela. “A brincadeira fica empobrecida, pois não representa as diferenças. Quanto maior a diversidade, maiores são as possibilidades de a criança representar a diversidade multicultural que ela vive, de se sentir inserida, importante, de desenvolver empatia e atitudes inclusivas”, completa.

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A imagem das bonecas serve como uma referência para quem brinca, e quando existe a dominância de um padrão em que apenas um pequeno percentual de crianças se reconhece, todas as outras sofrem com um sentimento de falta.

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“As crianças aprendem que, para serem queridas e amadas, elas precisam se comportar de determinada forma e que o poder delas está em uma determinada imagem. Quem não se identifica com esse espelho vai ficar para sempre com um sentimento de que deixa a desejar”, explica psicopedagoga e professora da Universidade do Grande ABC (UNIABC) Sylvia Flores.

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O estereótipo não se limita às bonecas, mas os bonecos também apresentam padrões. “A sociedade é imersa em violência e o modelo do boneco é o do homem forte, sem diversidade de cores e pronto para o conflito?”, questiona Ana Marcilio. “O brinquedo traz um ideal de sociedade representado. Eu teria mais cuidado na construção desses bonecos”.

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Na opinião de Flores, além de diversificar os produtos também é aconselhável que as brincadeiras sejam mais livres. “Brincar, principalmente com esse tipo de boneca bebê, humaniza, ajuda a desenvolver um contato mais humano com os outros. É importante que meninos brinquem de boneca e que meninas tenham mais acesso a bonecas ativas, como aventureiras e heroínas”, afirma.

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Enquanto a indústria engatinha, o artesanato parece estar um passo à frente em representatividade. Segundo Ana Marcilio, a diversidade ali é maior por ser também uma forma de resistência. Ela conta que após o lançamento da campanha da ONG Avante, houve uma reação de bonequeiras, que intensificaram a produção de bonecas negras e mais diversas.

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“Acho que os fabricantes acordam tarde para isso porque tem mercado consumidor. Veja o que aconteceu com o xampu quando valorizaram a diversidade de cabelos. Tem uma demanda enorme. e acredito que com as bonecas é a mesma coisa”, diz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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