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Por mais direitos, Marcha das Margaridas quer reunir 100 mil mulheres no DF

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Por Breno Damascena

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Foram aproximadamente 36 horas em um ônibus, mas os quase 2.000 quilômetros que separam o município de Senador José Porfírio, no sudeste do Pará, de Brasília não assustaram a agricultora Elenice Castro. Desde dezembro de 2018, ela e outras mulheres da cidade organizam a venda de rifas e feijoadas para custear os gastos com transporte e logística para esta viagem. O esforço não foi em vão. Hoje e amanhã, Elenice estará na capital do país para participar da Marcha das Margaridas.

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“É o momento de renovar esperança em favor dos nossos direitos e da maior participação das mulheres. Apesar da liberdade de muitas, ainda vemos que há opressão”, lamenta.

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Realizada pela primeira vez em 2000, a marcha reúne camponesas de todos os estados para apresentar as demandas e propostas das mulheres do campo, da floresta e das águas. Coordenado pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), o evento se apresenta como maior ação de mulheres da América Latina e espera reunir mais de 100 mil pessoas.

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O nome é uma homenagem à Margarida Maria Alves, líder sindical expoente da causa camponesa no estado da Paraíba assassinada no dia 12 de agosto de 1983. Ela foi responsável por centenas de ações trabalhistas e se tornou notável pela defesa de direitos para a população rural, como carteira de trabalho, décimo-terceiro salário e férias remuneradas. Neste ano, completam-se 36 anos do crime.

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“Ainda somos ‘invisibilizadas’ na questão da igualdade de gênero. Para lutar contra a violência, precisamos de autonomia e renda. Por isso, as políticas públicas se fazem necessárias”, explica Edjane Rodrigues, Secretária de Políticas Sociais da Contag. Ela conta que, neste ano, a condução da pauta será diferente, seguindo uma plataforma política composta por 10 eixos principais, que passam pela conservação da sociobiodiversidade, autonomia econômica, liberdade das mulheres, defesa do SUS e previdência social.

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O fim da violência contra as mulheres é uma das principais reivindicações da marcha. “Ela [violência] é uma das mais fortes e cotidianas expressões da sociedade patriarcal e machista em que vivemos, onde os homens são mais valorizados e se acredita que a mulher tem que obedecer, aceitar e levar a vida da forma como eles querem estabelecer”, manifesta o documento com as pautas apresentado em 2015 para o Congresso Nacional.

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Como triunfos das marchas anteriores, ela enumera a titularização das terras em nome das mulheres, assistência técnica para trabalhadoras rurais e o direito a aposentadoria com 55 anos para o campo.

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“No atual cenário, tudo é prioridade para nós, desde a agroecologia até o combate à violência. Temos um projeto político que representa o conjunto das mulheres e conquista de espaço. Em 2019, nosso caráter é de denúncia”, aponta Edjane.

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“Não baixaremos a guarda, pois, dentre outras coisas, estão em jogo nossas vidas, a democracia, o patrimônio do povo brasileiro, a agricultura familiar e os bens comuns da natureza. O Brasil e a democracia, mais do que nunca, precisam da luta das Margaridas”, expressa o manifesto escrito por Maria José Morais Costa, a Mazé, Coordenadora Geral da Marcha.

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“Ocuparemos Brasília pela conservação do meio ambiente e valorização dos modos de vida reproduzidos no campo, na floresta e nas águas. Ocuparemos Brasília para lutar por democracia e soberania popular, com justiça social e em defesa dos nossos territórios. Ocuparemos Brasília para construir uma sociedade livre de violência de gênero e racial, por um país sem homofobia e sem intolerância religiosa”, continua o documento.

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A Marcha das Margaridas nasceu nas comunidades ribeirinhas e das reivindicações das comunidades rurais, onde são realizadas mobilizações durante todo o ano. A agenda agora, porém, será mais ampla. “Queremos representar as mulheres dos campos, das florestas e das águas, mas a violência não está só no campo. Quando uma mulher rural é beneficiada, o conjunto inteiro também ganha com isso”, comenta Edjane.

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Cesar Ramos-Arquivo/Divulgação
Imagem: Cesar Ramos-Arquivo/Divulgação

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Com o objetivo de subsidiar a marcha, as organizadoras criaram uma campanha de financiamento coletivo. O projeto contou com um vídeo apresentado pela atriz Letícia Sabatella e indicava que a cada R$ 100 levantados até três mulheres garantiriam sua presença. A meta de 80 mil reais foi batida com sobras e 1120 pessoas somaram o valor de R$ 131.457,00 arrecadados.

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Letícia Sabatella será a cantora em um show de abertura do evento, que também contará com debates políticos, oficinas e painéis. Elenice enumera essas experiências como aprendizados. Além de agricultora, ela é secretária do sindicato dos trabalhadores rurais de Senador José Porfírio e Vice-coordenadora da Fetag Transamazônica e Xingu, e enxerga a marcha como um movimento de esperança.

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Elenice conta que existem muitas exigências, mas defende que saúde, educação e desenvolvimento sustentável são as mais básicas. “São as necessidades do povo que vive trabalhando sob o sol todos os dias”, justifica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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