Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE
Veja publicação no site original: “Podia estar de biquíni, não interessa”, diz mãe de adolescente assediada por motorista
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Carla Borges Vieira rebate “justificativa” do motorista André Lopes Machado de que a menina “estava com um short do ‘tipo Anitta’ e chamando sua atenção”; ela ainda conta como tem sido os dias da filha após a denúncia de assédio no último domingo
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Por Kellen Rodrigues
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A mãe da estudante gaúcha Carolina Borges, que publicou um vídeo no Instagram do momento em que sofria assédio de um motorista da Uber na cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, mostrou indignação com a fala do condutor André Lopes Machado – ele culpabilizou a jovem dizendo que ela “estava com um short do ‘tipo Anitta’, uma miniblusa, com as pernas abertas no banco, me chamando atenção”.
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“Ela podia estar de biquíni, de burca, não interessa. A roupa não diz o caráter da pessoa”, diz Carla Borges Vieira à Marie Claire.
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Segundo ela, momentos antes da filha começar a gravar, André, de 43 anos, afirmou que ela era “a passageira mais bonita que já pegou”. Foi então, ao perceber o tom da conversa, que ela decidiu registrar em vídeo o que estava acontecendo, com a intenção de alertar outras usuárias do aplicativo. “Nós nunca pensamos em ter Ibope, ser famosa, de forma alguma. Ela postou pra alertar as meninas do município pra não pegarem Uber com esse cara”, afirma Carla.
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Com a repercussão do vídeo, no entanto, Carol viu sua vida virar de cabeça para baixo. Ela está contando com a ajuda de amigos para responder as mensagens que vem recebendo e para denunciar perfis falsos que estão sendo criados em seu nome. “Tem tanto perfil falso que até uma das minhas amigas seguiu o perfil fake achando que era ela. De segunda pra terça era cinco da manhã quando ela foi dormir, respondendo as pessoas. Ela tem recebido muito carinho, até propostas de trabalho. Não imagivana que fosse ter essa proporção toda”, admite a mãe.
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Além das mensagens de apoio surgiram também ofensas e até um vídeo no qual mãe e filha são xingadas. “Não posso afirmar que seja alguém próxima a ele, mas seja quem for, vamos denunciar”, afirma Carla.
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Carol está completando 18 anos nesta quarta-feira, 19. Aos poucos, segundo a mãe, a jovem vem retomando sua rotina. “Temos que continuar nossa vida,nos locomover, não vamos ficar presas em casa”.
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Mais denúncias
O ocorrido com a filha, segundo Carla, não é um caso isolado. Nesta quinta-feira as duas irão à delegada responsável pelo caso, Marina Dillenburg, mensagens enviadas por outras meninas que também passaram por algo semelhante. “Várias chamaram ela no Instagram dizendo que já passaram por isso com o mesmo motorista. Só que nenhuma teve coragem de denunciar”, afirma. As jovens serão chamadas para depor. “Ele tem um histórico bem grande de assediar mulheres e meninas. E fala que está fazendo elogio, está sendo sem vergonha”, desabafa.
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Agora, ela espera que André seja responsabilizado por assédio, não apenas por “perturbação da tranquilidade”. “Espero que a delegada titular chegue de férias, e que realmente consiga fazer uma campanha e acione essas outras meninas. E que, essa atitude da minha filha, que foi muito corajosa, faça com que outras meninas não fiquem caladas, que botem a boca no mundo, que não aceitem esse tipo de coisa”.
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Entenda o caso
No último domingo, a estudante de técnico em enfermagem compartilhou em seu Instagram um vídeo em que mostra estar sendo claramente assediada por um motorista do aplicativo Uber. Até a data ela tinha 17 anos.
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No vídeo, o motorista diz que a adolescente é muito bonita, e ela se esquiva e avisa que é menor de idade. Ele responde que a jovem não é incapaz e seria assim se tivesse menos de 14 anos, o que não aparenta ter.
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“Não é problema igual. Seria um problema se tu tivesse 13 anos. Eu acho que tu não tem 13 anos. Aí seria uma menor incapaz. De 14 anos para cima tu já é responsável.”
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Ele ainda afirma que namoraria a jovem se ela não tivesse namorado. A estudante afirmou que ele tem idade para ser pai dela, mas o homem retruca:
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“Não sou teu pai. Eu faria coisas que o teu pai não faria”, afirmou e concluiu que estava “brincando”.
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Resposta da Uber
Em contato com a Marie Claire, a Uber disse em nota que considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A empresa ainda salienta sobre a importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes e avisa que a conta do motorista parceiro foi banida assim que a denúncia foi feita.
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“A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado”, disse em nota.
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A Uber também esclarece que como parte do processo de cadastramento para utilizar o aplicativo, todos os motoristas passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por uma empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos pelo próprio motorista e com consentimento deste, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o país em busca de apontamentos criminais, na forma da lei.
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“A Uber também realiza rechecagens periódicas dos motoristas já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses. Desde 2018, a empresa tem um compromisso público para enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, materializado no investimento em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio e podcast para motoristas parceiros sobre violência contra a mulher, entre outras ações. Em novembro, a Uber anunciou um investimento de R$ 5 milhões para continuidade desse compromisso ao longo dos próximos anos”, finaliza.
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