Saiu no site O CORVO VELOZ:
Veja publicação original: PESQUISA REVELA FRAGILIDADES NA ATENÇÃO A MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
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Em análise de entrevistas, sobressaem falta de continuidade do atendimento e necessidade de abordagem mais humana
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Deficiências no acolhimento contribuem para manter as mulheres em situação de submissão
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A violência doméstica, que resulta em lesões, traumas e morte, é considerado um problema de saúde pública. Cerca de 70% dos agressores são parceiros ou ex-parceiros.
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E a proteção e a assistência efetiva às mulheres que sofrem a Violência Perpetrada por Parceiro Íntimo (VPI) – agressão física, coerção sexual, abuso psicológico e comportamentos controladores – dependem muito das redes sociais de acolhimento, que ainda apresentam fragilidades.
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O tema foi investigado em pesquisa de doutorado pela enfermeira e professora Walquiria Jesusmara dos Santos, que defendeu sua tese neste mês, na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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Ela analisou a configuração e a dinâmica das redes sociais primárias e secundárias e o apoio oferecido por elas, sob a ótica das mulheres, em Belo Horizonte.
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Walquiria encontrou desarticulação entre os serviços da rede, despreparo profissional para o acolhimento e falhas na capacidade de resolução.
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A análise dos resultados referentes à rede secundária de atendimento à mulher em situação de violência demonstrou “fragmentação”, ou seja, divisão de tarefas prejudicial à atenção.
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“A desarticulação da rede institucional e o despreparo profissional em alguns setores podem afastar as usuárias ou mantê-las, de alguma forma, em situação de submissão, agora imposta pela instituição”, explica a pesquisadora.
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Dos 20 aos 62 anos
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Walquiria dos Santos entrevistou 29 mulheres que sofreram pelo menos um episódio de VPI em algum momento da vida.
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Segundo ela, como se trata de pesquisa qualitativa, o material coletado em campo deve ser analisado até a saturação de dados, ou seja, o importante é a qualidade dos dados extraídos das entrevistas, e não necessariamente o número de mulheres entrevistadas.
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As participantes tinham entre 20 e 62 anos de idade, com predomínio da faixa de 30 a 49 anos (23 entrevistadas).
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Todas as entrevistadas tinham filhos (de um a cinco), e 15 estavam separadas do parceiro no momento em que se deu a entrevista.
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O nível de escolaridade varia do ensino fundamental incompleto à pós-graduação, com predomínio do fundamental (completo ou incompleto).
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As mulheres declararam renda familiar de um a mais de cinco salários mínimos; 23 se declararam de raça negra, e o mesmo número de mulheres disse seguir alguma religião (12 delas são evangélicas). Doze estavam usando medicamentos controlados.
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“Os dados sociodemográficos revelam que há grande variabilidade na faixa etária, escolaridade e renda das mulheres entrevistadas, compatível com o perfil das mulheres brasileiras em situação de violência”, revela a enfermeira.
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De acordo com Walquiria dos Santos, a desarticulação entre os serviços da rede, que pode prejudicar a continuidade da assistência, é um dos principais motivos de descontentamento.
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As entrevistadas também relataram situações que mostram falta de humanização no atendimento e dificuldades para encontrar soluções, com interações que não encorajam a confiança, que não as protegem, que as expõem e as fragilizam ainda mais.
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“A credibilidade e a resolutividade dos serviços da rede especializada, além do apoio de familiares e amigos, favorecem a procura de ajuda profissional. Porém, quando as demandas não são acolhidas, e as mulheres não se sentem apoiadas nas redes sociais de convivência ou institucionais, elas podem permanecer na situação de violência”, explica a pesquisadora.
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Potencialidades
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O estudo também revelou potencialidades dos serviços de atendimento às mulheres em situação de violência.
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Algumas narrativas mostram valorização da assistência recebida na rede, o que tem impacto positivo no fortalecimento das mulheres, fator crucial para a ruptura da situação de violência.
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“Nas entrevistas, o centro de referência destacou-se pelo acolhimento e pela formação de vínculos que as mulheres podem estabelecer com os profissionais. O centro funciona como articulador dos serviços da rede, e suas ações visam contribuir para o fortalecimento da mulher em situação de violência na busca pela cidadania, por meio de acompanhamento permanente”, comenta Walquiria.
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Ainda segundo a pesquisadora, o vínculo estabelecido com o profissional do atendimento está relacionado à confiança, fator essencial para a verbalização dos sentimentos e o rompimento com o estigma.
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“Os resultados mostram que as estratégias para o acolhimento e a forma como as mulheres são tratadas variam conforme o serviço, o que se configura como fragmentação da rede”, diz.
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Fenômeno multidimensional
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Uma das conclusões da pesquisa é que é importante considerar que a violência doméstica contra as mulheres é um fenômeno complexo e de caráter multidimensional, e as demandas delas são diversificadas, sendo necessária a atuação conjunta de diversas áreas – social, jurídica, trabalhista, de segurança pública, de saúde, de educação.
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“Reconhecer as necessidades dessas mulheres é primordial para a organização da atenção e para mudanças nas práticas de atenção nos serviços da rede de enfrentamento”, afirma a pesquisadora.
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Walquiria ressalta, ainda, que os serviços de saúde devem atuar de forma mais eficiente na detecção de situações de violência e ser mais ativos na articulação com os demais setores, uma vez que constituem uma das principais portas de entrada dessas mulheres.
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“É imprescindível estabelecer comunicação efetiva entre os serviços, com a definição de fluxos e responsabilidades, além de um olhar interdisciplinar e transversal por parte de todos os serviços e profissionais envolvidos”, enfatiza.
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“Mapear as redes sociais das mulheres em situação de violência pode ser uma estratégia privilegiada para a identificação das formas de mediação existentes, de maneira a favorecer a proposição e o planejamento de políticas públicas específicas”, conclui Walquiria Jesusmara dos Santos.
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Tese: Redes sociais na experiência de mulheres em situação de violência perpetrada por parceiro íntimo
Autora: Walquiria Jesusmara dos Santos
Orientadora: Maria Imaculada de Fátima Freitas
Defesa: 19 de março de 2018, no Programa de Pós-graduação em Enfermagem
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da assessoria da UFMG
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