Saiu no site UNIVERSA
Veja publicação original: Perennials: a geração das mulheres de 40 anos com corpinho e mente de 20
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Por Natália Eiras
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Renata Bittencourt, 41, teve um câncer de mama há três anos. A doença a fez refletir sobre a vida que levava trabalhando, há 15 anos, em organização de eventos. Foi quando ela decidiu se dedicar à carreira de terapia holística. “Eu já estudava terapias, era meu plano de trabalho para quando ficasse mais velha, mas a doença me fez repensar a vida. Senti que era o momento de trabalhar com aquilo que amava, que eu ia poder ajudar os outros como fui durante o meu tratamento”, diz à Universa.
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Renata faz parte de uma geração de mulheres de 40 anos que têm feito a sociedade pensar o que é a chamada “meia-idade”. Elas são chamadas de perennials: mulheres dessa faixa etária que têm estabilidade financeira, muitas vezes uma família e talvez um ex-marido (ou mais). Porém, mesmo com uma extensa lista de experiências, essas mulheres levam a vida como se estivessem na casa dos 20 anos, mas em uma versão melhorada. Por isso, elas não têm medo de arriscar e tentar de novo na carreira, no trabalho e no amor. Essa geração também é chamada de “ageless” (sem idade, traduzido do inglês).
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A produtora de conteúdo feminino SuperHuman entrevistou, em 2017, mais de 500 mulheres acima dos 40 anos do Reino Unido e chegou à conclusão de que o conceito da mulher madura está ultrapassado. Segundo o levantamento, dois terços das integrantes da faixa etária acreditam estar no auge da vida, enquanto 67% se sentem mais confiantes do que há dez anos e 90% acredita que têm estilo e atitude muito mais jovens do que tinham suas mães com a mesma idade.
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De acordo com a antropóloga de consumo Hilaine Yaccoub, essa percepção rejuvenescida vem da conquista da liberdade de escolha, em que não precisa mais seguir um roteiro pré-definido do que é “digno de uma mulher”, e dos avanços da medicina, que possibilitam uma expectativa maior de vida. “Aos 40, a mulher acumulou conhecimento de muitas coisas ao longo de quatro décadas e, ao mesmo tempo, ainda tem muita estrada pela frente”, explica a especialista. Por sentir que a longevidade é uma certeza, as perennials têm fôlego para grandes mudanças.
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A empresária Francine Busch Nascimento, 39, de Criciúma (SC), vai fazer 40 anos no mês em que vai se formar em sua primeira faculdade. Essa é a terceira tentativa de ganhar um diploma superior. Ela já estudou engenharia sanitária e geografia, mas deixou os cursos após casar e adotar duas crianças. Quando os filhos chegaram à adolescência, ela voltou para a sala de aula, mas, dessa vez, para estudar o que realmente gosta: licenciatura em artes visuais.
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“Eu já tinha uma satisfação pessoal com isso, agora eu quero a profissional”, fala. No último ano, Francine também abriu sua própria escola de artesanato, além de uma loja onde vende materiais e suas produções. “Meus filhos estranharam, inicialmente, mas gosto de mostrar para eles que existe uma alternativa que não seja no meio acadêmico. Que dá para descobrir um talento e viver disso”, diz.
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Por ter amigos mais jovens do que ela, por causa da faculdade e da profissão alternativa, Francine sente-se muito mais nova do que mostra a sua certidão de nascimento. “As senhorinhas para quem dou aula não acreditam que tenho quase 40 anos, porque, na época que elas tinham a minha idade, elas já eram ‘senhorinhas’, ri a empresária.
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Não é exatamente um exagero de Francine: as mulheres que nasceram antes de 1970, quando chegavam aos 40 anos, já tinham filhos crescidos e, muitas vezes, netos. “Há algumas décadas, uma mulher dessa faixa idade já era uma senhora e se aproximava do fim da vida. Não podia usar os braços de fora e nem tomara-que-caia que seria um escândalo, porque ela já estaria velha”, diz Hilaine. Hoje em dia, as mulheres de 40 ainda estão engravidando ou têm filhos pequenos, uma vez que estavam ocupadas demais investindo na carreira e com uma vida social agitada.
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Na ferveção
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Renata tirou o pé do acelerador na carreira, mas caiu na folia. A terapeuta é integrante de um grupo de WhatsApp bastante movimentado durante o Carnaval, quando os cerca de 30 amigos debatem qual será o bloco que vão curtir no fim de semana e combinar as fantasias que usarão.
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Nessa turma, está a publicitária Gabriela Bianco, 41. Todo ano, ela monta uma espécie de “barracão” em sua casa, onde costura cerca de 20 fantasias. Para ela e para os amigos, incluindo Renata e a advogada Cindia Regina Moraca, 43. Sem filhos e com alguns ex-maridos no passado, o trio de “perennials” está solteiro e já aquecendo os tambores para curtir os bloquinhos do pré-Carnaval, os dias oficiais de folia e o fim de semana após o feriado.
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No último ano, Gabriela também deixou a vida de bater o cartão em uma agência de publicidade para trabalhar de casa. “Reacendeu o tesão que eu tenho pelo meu trabalho e agora tenho a possibilidade de escolher os serviços com os quais me identifico”, fala. Ela opta por trabalhar em campanhas mais inclusivas e para ajudar a resgatar animais abandonados. “Claro que tenho ganhado bem menos, mas estou pagando as contas”, diz.
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“A sociedade, em geral, não percebe mais as mulheres, de 40, como senhoras”, explica a antropóloga. Gabriela, Renata, Cíndia e Francine dizem que nunca se sentiram tão jovens, mas percebem que não são as mesmas de 20 anos atrás. “Não diria que estou no auge, porque fisicamente a gente vê as diferenças. É peito que cai, é joelho que dói, mas mentalmente e emocionalmente eu não tenho dúvidas de que estou no melhor momento de minha vida”, fala Gabriela.
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