Mayara tinha dois trabalhos aprovados para o XXVII Congresso da Anppom (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música) [3], o maior congresso da Área de Música no Brasil, que acontecerá na Unicamp no fim de agosto, e havia comemorado a aprovação de seus trabalhos neste congresso. Ela iria apresentar a comunicação de seu artigo “Aspectos idiomáticos do Estudo n. 1 para violão de Esther Scliar”, em co-autoria com Eduardo Meirinhos, como pesquisadora, e, iria fazer sua apresentar artística “A mulher compositora e o violão na década de 1970”, como violonista.
Ela era uma dedicada intérprete, pesquisadora e professora em formação, começando a ser reconhecida por suas/eus pares, desenvolvendo importantes e inéditas contribuições para a música e para a pesquisa brasileira.
Entendemos que o que aconteceu com Mayara Amaral diz respeito à todas/os/es nós na música, e atinge infelizmente à todas as pessoas da música, sem exceção. O que aconteceu com ela é uma tragédia pessoal para quem era próximo dela, e por isso queremos nos solidarizar à Mayara, à família e amigos/as dela, com ações em defesa da memória dela.
Mas, o assassinato de Mayara é também uma tragédia coletiva, o que nos leva a ver a necessidade de visibilizar essa notícia, endossando a denúncia do crime que ceifou sua vida – mais um que aumenta as estatísticas de nosso país. O último Atlas da Violência do Brasil, de 2014, [4], apontava que 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. O estado do Mato Grosso do Sul já era, então, um dos 8 estados brasileiros com taxa de mortalidade por homicídio de mulheres que estavam acima da média nacional (4,6) por grupo de 100 mil mulheres: a taxa desse estado já era de (6,4) em 2014. Segundo o Atlas, “Embora esses dados sejam alarmantes, o debate em torno da violência contra a mulher por vezes fica invisibilizado diante dos ainda maiores números da violência letal entre homens, ou mesmo pela resistência em reconhecer este tema como um problema de política pública.”
Como mulheres da música, pensamos que também são importantes e urgentes, em especial nesse momento, ações que possam ajudar a alertar e conscientizar os mundos da música (assim como o mundo em geral) sobre os riscos aos quais mulheres estão expostas na música, assim como na nossa sociedade em geral; sobre as diversas violências contra as mulheres; e, sobre a necessidade de ações de prevenção – de educação, formação e conscientização – para que isso não se repita com mais nenhuma mulher, seja de onde ela for, onde lá ela estiver.
Todas/os/es nós precisamos, enfim, darmos o primeiro passo para que isso seja possível, e o primeiro passo é vencer a “resistência em reconhecer este tema como um problema de política pública.”
Nós, mulheres da Rede Sonora – músicas e feminismos, manifestamos aqui nosso repúdio ao crime brutal que tirou a vida de Mayara Amaral.
Mayara saiu de sua casa na última segunda-feira para ir a um ensaio e não mais voltou. Mayara era uma de nós, mulheres na música, mulheres no mundo. O que aconteceu com ela podia ter acontecido com qualquer uma de nós. Por Mayara, #NenhumaAMenos!
Rede Sonora – músicas e feminismos.
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