Saiu no O Globo
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Para ambas, Gabriela e Joana, a notícia-crime tem como premissa dois objetivos fundamentais. “Provoca efeito pedagógico e preventivo contra a violência que afeta meninas e mulheres de todo o Brasil. Além disso, soma-se aos demais esforços já empreendidos para a questão da imprescritibilidade da pedofilia”, explica a advogada. Segundo Gabriela, pedofilia não é considerada crime no país. “O que são enquadrados como crimes são os atos de cunho sexual cometidos contra crianças e adolescentes. Por que a nossa defesa da imprescritibilidade? Porque as vítimas demoram a entender que aquilo que sofreram não é ‘carinho’ nem ‘brincadeira’ e, sim, abuso. Ninguém tem o direito de mexer no corpo de uma criança. Trazer à tona esses fatos é uma atuação de utilidade pública”, declara. No Brasil, atualmente, estupro de vulnerável (menor de 14 anos) prescreve em duas décadas, começando a contar dos 18 anos.
Dentre as sete vozes que assinaram a notícia-crime ao lado de Joana, duas estiveram na redação do GLOBO no dia 9 de maio: as professoras universitárias Luciana Walther, de 50 anos, e Karina Kuschnir, de 55. Elas relatam terem sido vítimas do ortodontista. Luciana foi paciente de Estélio Zen dos 7 aos 18 anos. “Aos 9, coloquei aparelho fixo e precisava ir frequentemente ao consultório para acompanhamento. Ele me dava um abraço por trás, forçado, e ia andando comigo assim por todo corredor até a porta de saída. Também colocava os instrumentos de trabalho em cima dos meus seios”, conta. Karina frisa que, ao ler o depoimento de Joana, reconheceu o suposto abusador. “Tinha 14 anos. Ele usava uma calça muito justa e branca, e encostava o pênis no meu ombro”, recorda-se. Já Aline de Freitas, 49 anos, era filha do contador do ortodontista. Depois da morte do pai, tudo mudou: “Tentava enfiar a língua na minha boca e colocou o pênis para fora”, afirmou, na oitiva. Outra suposta vítima, a turismóloga Rafaela Borges, 43, denunciou o dentista ao Conselho Regional de Odontologia do Rio (CRO-RJ). Porém, nada foi feito.