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O que a morte de uma mãe de 5 filhos diz sobre o machismo que atinge todas as mulheres

Saiu no site METRÓPOLES

 

Veja publicação no site original: O que a morte de uma mãe de 5 filhos diz sobre o machismo que atinge todas as mulheres

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Feminicídio de jovem de 25 anos deixou cinco crianças órfãs. As características do crime tornam o caso emblemático da violência de gênero

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Os relatos sobre jovens vítimas de violência são profundamente marcados por quebras e ausências. As histórias que poderiam ter sido. Os estudos a concluir. As profissões que não foram escolhidas. As crianças que ficaram órfãs. Mães, pais, irmãos em luto até o fim de suas vidas. Todos atingidos pela violência letal. Assim também é a trajetória de Lilian Cristina da Silva Nunes, interrompida aos 25 anos por causa do ódio contra as mulheres.

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Lilian viveu menos de um terço dos 79 anos esperados como média de idade das brasileiras. Na manhã do dia 12 de setembro de 2019, o ex-companheiro – com quem se relacionou por um breve período – desferiu facadas contra seu coração. Jhonnatan Neto, ao ser preso em flagrante, alegou não aceitar o fim do relacionamento. Ao vê-la com um novo namorado, teria sido “tomado pelo ódio”. Quando deu fim à vida da ex, o homem de 36 anos que cumpriu, até este ano, pena por roubo deixou cinco crianças, com idades entre 1 e 9, sem a mãe.

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À época do feminicídio, Lilian morava no Núcleo Rural do Boqueirão (a 23 km da região central de Brasília) apenas com a caçula. Dividia o tempo entre os cuidados com a criança, fruto do relacionamento com o terceiro marido, bicos para conseguir alguma renda como manicure ou cabeleireira e os estudos. Cursava o sétimo ano no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 do Paranoá. Quando engravidou do filho que hoje tem 9 anos, a jovem saiu da escola, mas retornou em 2017. Na quinta-feira, dia do assassinato, faria a apresentação de um trabalho para o qual vinha se dedicando.

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“Ela tinha o sonho de ter uma casa e um trabalho, queria voltar a morar com as crianças. Era muito alegre, extrovertida, contagiava a família toda”, conta a irmã Monika Nunes, de 23 anos. “Estávamos pensando em fazer uma vaquinha para comprar um kit de unha em gel, queríamos que ela conseguisse se estabelecer”, lembra.

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Lilian – a segunda filha de Damiana e Adão Pedro – cresceu em uma família de quatro mulheres. Para o pai, que tem 50 anos, a jovem era destemida. A irmã Monika concorda: “Ela não era de briga, mas enfrentava qualquer coisa para proteger a gente e os filhos”.

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De acordo com a família, Lilian nunca tinha vivenciado um episódio de violência doméstica até conhecer Jhonnatan. Apesar disso, há três ocorrências de Lei Maria da Penha em que ela é a vítima registradas na 6ª Delegacia de Polícia (DP), no Paranoá. A primeira data de 2011 por vias de fato (quando não há lesão na briga); a segunda, de 2015, por ameaça; e a última, de 2017, ainda está em apuração. Em outro registro policial, de 2009, ela aparece como vítima de tentativa de homicídio. Nesse caso, a acusada era uma mulher.

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Monika – a mais próxima da jovem entre as três irmãs – percebeu que, no mês antes do crime, Lilian andava sumida. Ela acredita que Jhonnatan já estava fazendo ameaças. “Ao contrário do que falaram, eles não tinham se separado havia apenas 15 dias nem viveram um relacionamento de cinco meses. Ela ficou com ele só uns três meses. Não queria parar a vida por causa dele”, desabafa. Provavelmente, Lilian evitou encontrar a família para não falar sobre o problema pelo qual vinha passando.

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Monika foi a responsável por fazer o reconhecimento do corpo de Lilian antes de ele seguir para o necrotério do Paranoá. Viu que a irmã foi golpeada pelas costas, na altura do tórax. Segundo ela, foram várias facadas no mesmo local, como que para ter certeza de que não haveria chance de sobreviver. “O coração dela ficou despedaçado. Acho que ele cortou todas as artérias”, lembra emocionada.

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