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Veja publicação original: O perigo de dar mais valor à carreira dos homens do que à vida das mulheres
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O autor do mais recente massacre nos Estados Unidos atacou sexualmente sua técnica da escola, mas disseram para ela deixar para lá porque uma denúncia poderia prejudicar as chances de ele entrar para as Forças Armadas.
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Por Melissa Jeltsen
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Depois que um homem abriu fogo contra os frequentadores de um bar na cidade de Thousand Oaks, Califórnia, nos Estados Unidos, matando 12 pessoas, uma mulher veio a público contar sua história.
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Ela já tinha falado antes, mas, na época, ninguém lhe deu ouvidos.
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Dominique Colell era técnica de atletismo do atirador no ensino médio. No último ano dele na escola, segundo ela contou em entrevistas, ele a atacou sexualmente porque ela estava segurando o celular dele. Não era a primeira vez que ela ficava assustada com o comportamento agressivo do rapaz, mas foi o incidente mais sério, e ela decidiu fazer algo a respeito.
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Primeiro, Colell expulsou o aluno da equipe de atletismo. Mas não demorou para que colegas a pressionassem a voltar atrás. O argumento era que ele poderia não conseguir entrar para os Fuzileiros Navais por causa da expulsão. Um diretor da escola chegou a dizer que, como ela era jovem e bonita, não era surpresa que algo do tipo tivesse acontecido. Melhor deixar para lá.
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A mensagem era clara: o potencial não-realizado do jovem era mais importante que a dor dela. Então, Colell permitiu que ele voltasse para a equipe de atletismo.
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“Fui pressionada e me fizeram me sentir culpada”, diz ela.
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Não há maneira mais eficaz de calar uma mulher que dizer que suas palavras vão arruinar o futuro de um homem. Isso abre as comportas das dúvidas: talvez ela esteja exagerando. Talvez tenha sido um mal-entendido. Talvez ela não devesse causar confusão. É uma maneira de jogar com o sentimento de vergonha que costuma acompanhar os casos de ataques sexuais.
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Não é surpreendente, portanto, que Colell tenha se dobrado às pressões dos colegas.
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“É muito fácil fazer as mulheres duvidarem de si mesmas”, diz Stefanie Johnson, professora da Universidade do Colorado e estudiosa do assédio sexual. “As pessoas costumam se questionar – ‘O que eu fiz para provocar isso?'”
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Durante muito tempo, as mulheres aprenderam a colocar os outros antes de si mesmas, diz Tali Mendelberg, cientista política da Universidade Princeton que escreveu sobre a voz da mulher na sociedade.
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“Nos ensinam que a carreira do homem tem prioridade em relação às necessidades da mulher, porque o bem estar geral está mais bem servido quando os homens obtêm conquistas”, diz ela. “Mulheres e crianças ainda tendem a depender de homens como os principais provedores.”
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Até recentemente, formas mais brandas de agressão sexual era vistas como prerrogativas naturais dos homens e apenas uma inconveniência para as mulheres, acrescenta Mendelberg. Quando as mulheres decidem se manifestar, correm o risco de parecer mesquinhas e vingativas.
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Christine Blasey Ford, professora de psicologia da Universidade de Palo Alto, na Califórnia, sabia disso tudo quando decidiu vir a público durante o processo de confirmação do juiz da Suprema Corte Brett Kavanaugh. Ford acusou Kavanaugh de tê-la atacado sexualmente quando ambos eram adolescentes.
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A reação foi imediata e intensa. Ford foi acusada de querer arruinar a vida de Kavanaugh. Na internet, as pessoas debatiam se ela estavam mentindo, querendo chamar atenção ou era meramente louca. O presidente Donald Trump a ridicularizou. Pelo menos um senador republicano disse que, mesmo que ela estivesse dizendo a verdade, as acusações não deveriam atrapalhar a carreira de Kavanaugh a essa altura da vida. Kavanaugh disse que ele era a vítima, afirmando que sua família estava “permanentemente destruída” por causa das acusações.
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O problema de fazer algo errado e não ser punido é que você descobre que o que fez é aceitável.Stefanie Johnson, professora da Universidade do Colorado.
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Faz um mês e meio que Kavanaugh e Ford prestaram depoimento diante da Comissão de Justiça do Senado. Desde então, seus caminhos não poderiam ter sido mais diferentes. Kavanaugh teve sua indicação confirmada, e agora é juiz da Suprema Corte.
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Ford continua sendo assediada. Ela teve de mudar de casa quatro vezes e ainda não conseguiu voltar a dar aulas.
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“Minha reação inicial a todos esses casos em que as pessoas se preocupam com as carreiras dos homens é que não pensamos nas carreiras das mulheres”, diz Johnson. “As mulheres estão sendo forçadas a deixar seus empregos.”
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Quando as carreiras dos homens têm mais valor que a vida das mulheres, homens perigosos estão livres para procurar novas vítimas, sem temer as consequência, como revela de forma tão eloquente uma reportagem recente sobre Larry Nassar, ex-médico da seleção americana de ginástica olímpica.
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Uma das primeiras vítimas de Nassar, Larissa Boyce, tentou soar o alarme sobre o comportamento do médico. Ela disse para a técnica que Nassar a tocava, supostamente como parte do tratamento. A técnica fez pouco caso, dizendo que ela simplesmente não estava entendendo o trabalho de Nassar. Se levasse a denúncia adiante, afirmou Boyce, as consequências seria sérias.
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Para ela e para Nassar.
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A insinuação era óbvia: a atleta realmente queria ser responsável por acabar com a carreira do médico? Boyce, que tinha 16 anos na época, deixou a história de lado. Hoje, mais de 20 anos depois, quase 500 mulheres vieram a público com histórias semelhantes.
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Só podemos imaginar o que teria acontecido se Boyce tivesse sido levada a sério na época.
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Ou então imaginar o que teria acontecido com o atirador de Thousand Oaks se ele tivesse enfrentado as consequências quando atacou sua técnica. Como as coisas teriam se desenrolado se a segurança da técnica tivesse tanto valor quando o potencial futuro do jovem atleta?
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Talvez ele não tivesse entrado para as Forças Armadas. Talvez ele tivesse recebido ajuda. Talvez o massacre não tivesse acontecido.
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“O problema de fazer algo errado e não ser punido é que você descobre que o que fez é aceitável”, diz Johnson. “Dizem que você é a pessoa que mais importa. E o que você fez não foi tão mau assim porque as pessoas sabiam, mas não fizeram nada.”
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