Saiu no MUNDORH
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A violência contra a mulher, vale ressaltar, é ainda hoje, infelizmente, um fenômeno global, mas que em nosso país ganha proporções epidêmicas
A pandemia trouxe para dentro das empresas o debate sobre benefícios, para empregado e empregador, de se consolidar uma nova era nas relações trabalhistas pautada pelo home-office, e também escancarou um grave problema que deverá ser encarado pelos líderes das corporações, em especial do RH, caso optem por efetivar pelo modelo remoto. Trata-se do fato – que vem sendo comprovado por diversas pesquisas – de que a pandemia aumentou consideravelmente os casos de violência contra a mulher, pois elas foram privadas de suas redes de apoio e isoladas em casa com seus agressores. Segundo um desses levantamentos, divulgado agora em junho pelo Instituto Datafolha, no Brasil uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência neste último ano de distanciamento social imposto pela Covid-19.
Esse percentual – 24,4% – é chocante! Significa que, num período de apenas 12 meses, cerca de 17 milhões de brasileiras sofreram violência física, psicológica ou sexual. O cenário, extremamente sombrio, mostra ainda um aumento no número de feminicídios verificado já logo nos primeiros meses da pandemia.
A violência contra a mulher, vale ressaltar, é ainda hoje, infelizmente, um fenômeno global, mas que em nosso país ganha proporções epidêmicas por conta de uma herança cultural sexista e da falta de políticas públicas focadas na punição aos casos de abuso e na melhoria da educação de base. Mais um dado alarmante dá conta de que, a se pautar pela mesma pesquisa – que mostra também as vítimas da violência no topo da lista das que mais perderam emprego e renda na pandemia – as empresas parecem pouco estar fazendo, até agora, para dar suporte às colaboradoras quando a situação de abuso acontece. Essa realidade precisa mudar – e com a máxima urgência!
Diante de tão estarrecedora realidade, as empresas não podem se omitir. Elas precisam ir fundo no problema: ao invés de simplesmente demitir suas colaboradoras quando o desempenho delas cai em consequência dos abusos sofridos em casa, as organizações devem centrar seu foco em criar uma política capaz de ampará-las nesse tipo de situação. E não defendo apenas o apoio psicológico e capacitação para gestores lidarem com situações de vítimas de agressão em seus times, mas algo ainda mais efetivo. Se neste momento de pandemia muitas empresas passaram a conceder um bônus salarial para ajudar seus funcionários a adaptar a casa para o trabalho remoto, por que não dar um auxílio financeiro às colaboradoras vítimas de violência para que elas consigam sair de casa e cortar o vínculo com seus agressores?
Caso optem pela segunda via – ou seja, desligá-las de seu quadro de funcionários – alimentarão um círculo vicioso desumano, deixando essa mulher sem outra alternativa a não ser continuar dependente daquele que a violenta. É crucial levar em conta, acima de tudo, que o que está em jogo é salvar vidas e não apenas o fato de manter ou não nos quadros das corporações uma colaboradora mais ou menos eficiente. E de tamanha responsabilidade nenhum líder que se preze pode se omitir.