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O machismo presente nos detalhes das festas de casamento

Saiu no site GELEDÉS

Por Mariana Rodrigues Do Aquela Mari

 

Eu não sei vocês, mas tô amando planejar minha festa de casamento. Sempre fui festeira, sempre coloquei a mão na massa nos meus aniversários, nos da minha família e até mesmo em alguns jantares para amigos íntimos lá em casa. Então, se tratando de uma festa que é o sonho da minha vida, eu não vou medir esforços para que ela saia, na medida do possível, do jeitinho que eu e Diego sonhamos.

 

Nessa busca pelos detalhes, percebi o quanto de machismo vem sendo colocado nas cerimônias e nas festas de casamento. Na cerimônia religiosa eu consigo até “entender” algumas falas, apesar de não concordar, mas é bem triste ver que muitas das novidades nas festas carregam doses cavalares de machismo e misoginia.

Já na abertura da cerimônia, de uns anos pra cá tenho visto crianças – geralmente meninos, para já aprenderem sobre a “brodagem” – fazerem o caminho até o púlpito com uma plaquinha que diz “Ainda dá tempo de fugir”. Como se o noivo fosse um coitado, estivesse ali por obrigação e/ou pressão. Pode acontecer, claro, mas creio que seja uma minoria muito insignificante pra que essas plaquinhas “engraçadas” estejam se alastrando tanto nas cerimônias.

 

Planejar casamento é gostoso, mas também é estressante, precisa de parceria, companheirismo do casal. Se o cara se empenhou tanto em estar ali, qual seria a razão para fugir? Não satisfeitos, atrás geralmente vem outra cria, com a plaquinha onde se lê “Foge não, ela tá linda“. Como se o casamento dependesse disso, como se baseasse exclusivamente na vaidade ou beleza da noiva. Close erradíssimo.

A cerimônia religiosa muitas vezes vêm com falas machistas e que fazem parte do que algumas religiões acreditam, como submissão da mulher, homem posto como provedor da casa, etc. Particularmente acho ofensivo, por esse motivo, optei por amigos nossos celebrando.

É chegada a hora da festa. Comida, bebida, música… É chegada a hora do buquê. Eu gosto do misticismo divertido dessa tradição que deixa várias mulheres enlouquecidas, principalmente depois da bebida, haha. Uma amiga minha casou esse ano e chamou todas as mulheres da festa, solteiras e casadas, para jogar um… vibrador! Segundo ela, solteira ou casada, o importante é ter prazer na vida. Acertou em cheio, e a disputa foi acirrada, haha.

Só que inventaram algo para os homens também. Algo desnecessário, sem o mínimo de tradição cujo intuito é exclusivamente rebaixar a mulher. Na cabeça deles, se as mulheres jogam algo para as amigas solteiras “desencalharem” (como se esse fosse o único objetivo de uma mulher), os homens também tem que jogar algo para os convidados que ainda não casaram. Seguem as opções de objetos jogados:

O primeiro é um abacaxi. A versão similar é uma bomba, que geralmente vem com os dizeres “agora a bomba é sua, você é o próximo“. Ou seja, pobre homem que pegar, vai ter que lidar com a mulher que ele divide a vida querendo formar casa e família. “Segura essa bomba uehueheuheuheueueeu”. Sério, caras? Por favor, cresçam.

O segundo consegue ser ao mesmo tempo mais depreciativo que a bomba e menos que o último. É a “agenda do pegador”. E daí se o cara passou os últimos anos namorando com a mulher com quem ele está se casando agora? Pela lógica imbecil de quem joga isso, você só se “desfaz” afetivamente ou sexualmente de outras mulheres depois que casa.

O terceiro é uma versão piorada da tal agenda: o noivo joga uma boneca, que representa “a piriguete”. Obviamente ele deixa bem claro aí que “piriguete” são as outras, a mulher dele é maravilhosa e é por isso que ele está casando com ela e descartando a outra. Além de baixo, é completamente desumanizador, é tratar a mulher como uma coisa.

Por último, mas não menos importante: os bonequinhos do bolo. Te parece divertido ver em cima do bolo, naquele momento em que o casal está brindando com a família e amigos queridos, um bonequinho simbolizando você arrastando/algemando seu noivo e o fazendo casar à força? Não é muito mais legal e engraçado fazer com que toda a festa mostre a história linda que fez com que vocês chegassem ao ponto de dividirem o mesmo teto? Se seu noivo não está casando obrigado ou sob pressão, porque esses bonecos que fazem de você uma noiva “megera” estão no topo do seu bolo?

Longe de mim querer cagar regra na festa de casamento alheia, mas a gente precisa parar de naturalizar essas “brincadeiras”, principalmente no nosso grande dia. Antes de nos cegarmos pelo afã de reproduzir o que há de tendência nas festas badaladas de casamento, é sempre bom pensar se aquilo vai faltar com respeito com você mesma ou com o seu relacionamento.

 

Veja publicação original: O machismo presente nos detalhes das festas de casamento

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