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Veja publicação original: O Adeus da Rainha da Liberdade: o que o assassinato de Glaucia Machado mostra sobre o feminicídio
O assassinato da estudante Glaucia Machado e a história de machismo por trás de crimes de feminicídio no Brasil
Glaucia colocou um ponto final na quinta-feira passada. Em 15 dias Marcelo deveria sair de casa e da vida dela. Ele gritou. Disse que namoro não havia acabado. Ela ficou firme. Marcelo enlouqueceu.
No sábado, foram juntos a festa de noivado da irmã dela. Vestida em uma blusa florida, maquiada e sorridente, Glaucia não parecia preocupada com o namorado. Já Marcelo, a perseguia pelo salão. “Ela estava tão feliz que parecia não ter tempo para ele”, disse a irmã Natali Costa. Mas Marcelo estava perturbado.
“Ele não queria que ela conversasse com outras pessoas”, contou Natali. Primeiro ficou bravo porque ela bebeu refrigerante – haviam feito uma promessa juntos para parar com a bebida. Depois porque ela bebeu cerveja. Também ficou enciumado enquanto ela assistia o filho Eduardo, de 15 anos, fruto de seu primeiro casamento, dançar com o cunhado. Achava que ela olhava para o homem, não que estava admirada com o próprio filho.
No fim da festa, Glaucia pediu carona a um primo. Pouco depois da meia-noite, ele deixou o casal em casa – eles viviam em um quarto nos fundos da casa da mãe dela. Glaucia se despediu serena, pedindo que o primo trouxesse Eduardo, o filho, mais tarde para casa. A briga continuou entre quatro paredes. Em um cômodo com apenas uma cama e um armário e diante das recusas de Glaucia e do seu desejo de partir, Marcelo a estrangulou até a morte. Ele, que foi PM, foi sozinho até delegacia e se entregou.
A família, que estava em casa, não ouviu o crime. A mãe de Glaucia acordou com o barulho da ambulância. A enfermeira, a mesma profissão de sua filha, lhe disse que um homem havia matado uma mulher. A vítima só poderia ser Glaucia. O enterro foi às sete da manhã. Os pais não quiseram ver a cena.
“Se ela tivesse a chance de ter sobrevivido, acho que gostaria de dizer para as mulheres que se o comportamento do homem é muito obsessivo, é preciso sair fora. Tudo que é demais não é bom. A gente é frágil perto da força física de um homem. É preciso denunciar agressão”, diz Nicoli.
A morte de Glaucia, que era rainha da bateria da escola de samba Liberdade, de sua Angatuba natal desde os 14 anos, foi mais um feminicídio registrado no Estado de São Paulo. Atualmente, existem 974 casos de feminicídios sendo investigados, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.
Glaucia ia se formar na faculdade de psicologia no ano que vem. Estava planejando o vestido da festa que comemorará o fim dos estudos da faculdade da irmã, Natali. Também estava ensaiando a valsa de formatura da escola que dançaria com o filho, no fim deste ano.
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