Saiu no site Marrie Clarie:
O“TV Mulher”, programa que ficou conhecido como um divisor de água na TV brasileira, está de volta depois de debater abertamente temas tabus sobre o universo feminino nosanos 1980. Por que as mulheres ganham menos? Maternidade ainda é obrigação? Homens devem dividir o trabalho doméstico? Como a mulher pode sentir mais prazer? Perguntas caras à época, mas que motivaram debates e fizeram coro ao pedido de mudanças urgentes no que diz respeito à igualdade de gênero.
Agora, 36 anos depois, a atração volta ao ar de cara nova, com dez edições inéditas, que estreiam nesta terça (31), às 22h30, no canal Viva. A apresentadora é a mesma, mas a maneira de abordar a agenda feminina retoma sob uma outra perspectiva, com assuntos que não saíram de pauta e que renderam alguns poucos avanços. “O protagonismo feminino é o assunto principal, porque a TV precisa ser o reflexo da sociedade”, conta a diretora Leticia Muhana.
Para Marília Gabriela, o seu retorno à atração é uma espécie de “acerto de contas” da mulher que se tornou e do que foi a sua vida ao longo desses anos. E reconhece: “Na época, fiz o programa quase sem perceber a importância história que ele tinha naquele momento. Nunca refleti muito a respeito. Fazia uma análise meio leviana.”
A estreia acontece no dia do aniversário de 69 anos da apresentadora. “Hoje posso me colocar em questões que realmente tenho. E nosso objetivo é não deixar que os direitos já conquistados sejam preteridos por questões religiosas, econômicas e morais”, diz ela que negou o convite para assumir a secretaria de cultura do governo interino de Michel Temer. “Não sou gestora. Seria apenas uma estampa fazendo um papel neste momento em que há um governo que não prestigiou a mulher”, justifica.
“Que as mulheres tenham a liberdade de ser o que queiram.” A nova temporada não tem como missão oficial levantar bandeiras, mas tocar na consciência. “Que as pessoas consigam pensar o mundo e o Brasil deste momento com a nossa colaboração”, deseja Gabi.
Para isso, um time de especialistas foi convocado a esquentar o debate. A jornalista Flávia Oliveira abordará assuntos do dia a dia da mulher sob o ponto de vista econômico e social. A promotora de Justiça Gabriela Manssur irá debater sobre os direitos e deveres da mulher no que diz respeito a aborto, violência doméstica e assédio. A psicanalista e escritora Regina Navarrochega para falar de sexo. A apresentadora e escritora Fernanda Young apresentará crônicas sobre beleza. O jornalista e escritorIvan Martins revela um olhar masculino diante das questões femininas, principalmente, sobre relacionamentos. E o estilistaRonaldo Fraga mostrará a moda por meio de histórias emocionantes de mulheres país afora.
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“Não subestimamos a inteligência da mulher, o que, no geral, os programas femininos da TV aberta fazem”, diz Ronaldo. Não à toa, em sua coluna “Moda de Contar”, ele se afasta do consumo para mergulhar em um universo mais valioso. “A moda acabou. Essa coisa da roupa na vitrine está fácil. Ninguém é mais escravo da cor e da forma. Está todo mundo procurando o conteúdo, as questões de vestir na literatura, na arte popular… Nas histórias do Brasil profundo.”
Feminista, sim!
No lugar de Marta Suplicy, que na época apresentava o quadro “Comportamento Sexual”, Regina Navarro vai mostrar como a mulher moderna separa prazer de afeto sem complicações. Para ela, é chegada a hora de se estabelecer uma “aliança entre homens e mulheres para romper com essa sociedade patriarcal, que, no final das contas, oprime ambos os sexos”. E acrescenta: “Está na hora de as pessoas se assumirem feministas, ou seja, de dizerem que lutam e acreditam na igualdade de gênero”.
Da TV para o dia a dia
Apesar de fugir do tom extrapolitizado, o programa pretende, na voz de Gabriela Manssur, gerar mudanças práticas na vida das mulheres. “Precisamos aproximá-las da Justiça, mostrando quais são os caminhos que devem ser percorridos para que saiam de uma situação de violência”, diz a promotora. “Sem sensacionalismo, queremos tocar o coração das telespectadoras com assuntos relacionados à violência, preconceito, aborto e assédio para diminuir as estatísticas.”
E para garantir representatividade, Flávia Oliveira toca nas questões que envolvem a mulher negra. “Nós somos tantos, tão variados, e se conseguíssemos reproduzir nas representações políticas e corporativas essa nova riqueza, acho que o Brasil seria um país muito melhor. Me causa estranhamento a falta de mulheres e negros nos cargos do governo que está no poder, por exemplo, principalmente numa época em que mundialmente a diversidade está sendo celebrada”, conclui.
Publicação Original: Novo “TV Mulher” começa com a promessa de não subestimar a inteligência feminina