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Veja publicação original: Natália Pietzsch, a engenheira que trabalha por um mundo com lixo zero
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“São várias pequenas coisas que tento fazer de forma prudente por onde eu passo, sem ser uma ecochata que fica incomodando”, conta a gaúcha.
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Você sabia que só 3% do lixo que produzimos é reciclado no Brasil? E que 52% dos 375 quilos de resíduos que cada pessoa gera em um ano são orgânicos, que poderiam voltar para a natureza em vez de encher aterros sanitários?
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Quando a engenheira ambiental Natália Pietzsch, de 29 anos, conheceu essas respostas, decidiu que precisava fazer algo para melhorar a relação da sociedade com seus dejetos.
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Há 2 anos, fundou junto com dois sócios a Re-ciclo, uma empresa para instrumentalizar a filosofia do lixo zero. Eles recolhem os resíduos orgânicos de residências, escritórios e indústrias de Porto Alegre, transformam-nos em compostagem e devolvem aos assinantes do serviço, todo mês, mudas de plantas ou adubo orgânico. Pelo serviço, assinantes residenciais pagam R$ 45 por mês e empresas, a partir de R$ 60.
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“Eu sempre quis fazer alguma coisa para deixar o mundo um pouquinho melhor do que quando eu cheguei.”
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A convicção de que não “venderia a alma” para uma grande empresa, como era seu sonho na graduação, veio durante o mestrado em engenharia de produção. Foi quando ela estudou e foi arrebatada pelo princípio do lixo zero. Ali, começou a pensar em que tipo de negócio poderia criar para disseminar a filosofia.
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A Re-ciclo nasceu com o propósito de fazer compostagem urbana, mas o trabalho é mais abrangente: a equipe, agora com 13 pessoas, também dá cursos, consultorias e palestras com foco em reaproveitamento, reciclagem e principalmente redução dos resíduos.
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Hoje, a coleta da prefeitura separa tudo em apenas duas categorias: recicláveis e orgânicos. Na segunda categoria, entram itens como fraldas, papel higiênico e esponjas, que não têm destinação e precisam ser depositadas em aterros; mas vão junto restos de comida e cascas, por exemplo, que poderiam voltar para a terra e beneficiar a produção de mais comida. A proposta da Re-ciclo é fechar esse ciclo.
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Mais de 50% do lixo gerado em uma casa são resíduos orgânicos, e isso não tem tratamento, mas tem uma solução relativamente simples, que é a compostagem. É mais da metade e é justamente o que ninguém olha.
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Em casa, além do baldinho para os resíduos orgânicos, Natália:
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– evita plásticos: tem sempre à mão garrafas ou canecas e bolsas para as compras;
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– junta o cocô dos cachorros com papel e descarta-os na privada, evitando colocar mais plástico no lixo orgânico;
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– trocou os absorventes pelo copinho coletor do fluxo menstrual;
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– separa os plásticos e embalagens para a coleta seletiva.
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“Quando a gente começa a separar o lixo orgânico, vê que sobra muito pouca coisa”, ensina a engenheira. E destaca a relevância de separar o lixo reciclável, pois, além de ser um “trabalho importantíssimo” de retornar essa matéria-prima para a indústria, centenas de famílias tiram seu sustento das cooperativas de triagem.
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“Se eu levei uma banana pra comer de lanche na universidade, eu guardo a minha casquinha de banana, não coloco fora. São várias pequenas coisas que tento fazer de forma prudente por onde eu passo, sem ser uma ecochata que fica incomodando. Tento respeitar os ambientes em que estou inserida, mas fazendo a minha parte em todos eles”, explica.
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Nos 190 endereços atendidos pela Re-ciclo, a coleta do resíduo orgânico é feita com três bicicletas — no começo, pedaladas pelos próprios sócios — e um automóvel (para atender os clientes com grandes quantidades). São de 4 a 5 toneladas de rejeitos recolhidos todo mês, que são compostados em um sítio na região metropolitana de Porto Alegre.
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O processo de transformação em adubo leva cerca de 4 meses. O plano para o futuro é trazer esse processo para dentro da cidade, de maneira pulverizada, em terrenos voltados para esta finalidade — e assim, deixar de consumir combustível e gerar poluição com o processo de transporte.
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O projeto pode sair do papel no ano que vem, se a Re-ciclo tiver sucesso em um programa de incentivo a negócios de impacto socioambiental, o Realiza, para o qual foram selecionados em março. Durante 8 meses, a empresa receberá treinamento e passará por avaliações. Se for aprovada, poderá receber um “investimento semente” de até R$ 300 mil para investir nas células de compostagem espalhadas pela cidade.
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“Existem formas simples de resolver o problema; só com algumas escolhas já podemos fazer a diferença sem investir milhões”, resume Natália.
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Ficha Técnica #TodoDiaDelas
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Texto: Isabel Marchezan
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Imagem: Caroline Bicocchi
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Edição: Diego Iraheta
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Figurino: C&A
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Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC
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