Saiu na VOLOR INVESTE
Veja a Publicação Original.
Em crises, tem se tornado mais comum empresas colocarem mulheres na liderança. A crise de covid-19 mostrou que elas são muito capazes de enfrentar desafios homéricos como este
Parece, afinal, que estamos seguindo no caminho certo, de maior diversidade e igualdade de gênero. Mas é importante lembrar uma coisa: as mulheres estão assumindo mais poder em um momento bem desafiador, em meio a uma crise sem precedentes e diante de um cenário ainda bem incerto. Por que isso é um problema? Porque essas circunstâncias também podem levar mais facilmente a falhas, fracassos e, consequentemente, a demissões. Um claro cenário de penhasco de vidro.
Penhasco de vidro
Quem acompanha o meu blog já leu meu artigo sobre o telhado de vidro (“glass ceiling”), um movimento que acontece de forma consciente e inconsciente nas empresas e que dificulta a ascensão de mulheres a cargos de liderança. Isso acontece porque os superiores dessas mulheres, geralmente homens, dificultam sua promoção, não apostam em sua capacidade, não as deixam falar em reuniões, não dão reais oportunidades para elas mostrarem seu trabalho e, muitas vezes, as desmerecem em relação a seus pares homens.
O penhasco de vidro (ou, no termo original em inglês “glass cliff”) é um primo do telhado de vidro. O vidro simboliza algo quase invisível, mas uma barreira. É chamada de penhasco de vidro a situação em que mulheres ou pessoas negras são promovidas a uma posição de liderança sênior durante um momento difícil para uma empresa, quando o risco de fracasso é alto.
Se, por um lado, este é um momento em que mulheres, negros e minorias conseguem quebrar – finalmente – o telhado de vidro e ascender profissionalmente, nem sempre as circunstâncias são as mais propícias para eles se mostrarem bem-sucedidos no trabalho. E em algumas vezes nem estão adequadamente preparados para o momento e o desafio.
O termo penhasco de vidro foi cunhado em 2004 pelos psicólogos Michelle Ryan e Alex Haslam, da University of Exeter, no Reino Unido. Eles rotularam pela primeira vez o fenômeno depois de analisarem o desempenho de mulheres nos conselhos de administração da bolsa de valores de Londres.
A vontade de investigar o assunto veio depois de lerem um artigo que mostrava que as mulheres haviam tido um período de gestão mais fraco, em que as ações das empresas se desvalorizaram em relação às empresas lideradas por homens. E o artigo ainda ousava dizer que, então, os homens eram melhores gestores.
Ryan e Haslam decidiram dar uma olhada mais de perto nos números e descobriram que as mulheres só recebiam cargos em conselhos de empresas que já apresentavam baixo desempenho. Ou seja, em um contexto já ruim, a probabilidade de falhar é, obviamente, maior. Para todos, e não sópara elas. E tem mais: eles argumentam que as empresas que estão indo mal atraem, naturalmente, mais atenção da mídia e do mercado financeiro, sob uma ótica negativa, é claro. As notícias se concentraram em apontar falta de habilidade da gestão, e não em contextualizar o problema.