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Veja publicação original: Mulheres no comando: chefe de trem e inspetora são únicas na Vale em seus setores
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Por Williana Costa
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Falar sobre emponderamento feminino no mercado de trabalho ainda é um tabu, principalmente quando se trata de mulheres que decidiram ser heroínas de suas próprias histórias, criando oportunidades, trilhando e inovando caminhos e horizontes.
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Dentro desse contexto, iremos conhecer um pouco da história e rotina de trabalho de duas grandes profissionais: Evanilde Barros Silva Quadros Tatianara Carvalho Medina. Ambas são funcionárias da mineradora Vale e possuem opinião e visão bastante semelhantes sobre a inserção da mulher enquanto líder dentro de um segmento.
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“Sou a única mulher chefe de trem do país”, afirma Evanilde. Eva, como é conhecida pelos colegas de trabalho, é nascida de uma família composta por quatro filhos, sendo três mulheres e um homem. Aos 38 anos, é casada, mãe do pequeno Miguel de dois anos de idade e chefe de trem na multinacional Vale, sendo a única mulher a ocupar este tipo de cargo no país, tendo assumido em 17 de setembro de 2010. Tudo começou quando fez sua inscrição para concorrer à vaga e foi selecionada para a entrevista. Posteriormente, passou por várias etapas na capital São Luís (MA) e conseguiu pleitear o cargo em uma disputa acirrada, pois havia vários candidatos.
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“Sou a única inspetora do sexo feminino da equipe” afirma Tatianara, 32 anos, também casada, mãe duas filhas, de 6 e 3 anos de idade e responsável pela função de inspetora de pátio. Ou seja, ela coordena uma equipe com atribuições de monitorar a operação ferroviária, manobras das composições, informação entre os trens e atendimento aos clientes da Vale, fazendo com que a logística transcorra em sintonia e cumprindo a demanda com eficiência. Já está na empresa há 13 anos e este é o seu primeiro emprego. Iniciou como trainee operacional em Açailândia, onde reside e foi participando dos seletivos internos até conseguir alcançar o cargo de inspetora.
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Em momentos distintos, cada uma delas descreveu sua linha do tempo, traçada por muita superação dos próprios limites. Indagada sobre se existe algum beneficio no fato de mulher assumir um cargo de chefia, Eva responde: “De forma alguma. A hierarquia não permite favoritismo. O tratamento é igual para homens e mulheres.” Afirma, ainda, que se considera um sexo frágil sim, contudo não deixa a desejar em eficiência e pró-atividade.
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Dentro do cargo exercido, não há distinção de sexo, no entanto, existem alguns critérios que são levados em consideração como, por exemplo, em relação à força, capacidade de levantar e movimentar peso. Eva reconhece sua limitação nesse quesito, uma vez que é portadora de necessidades especiais. Os colegas de “farda”, como assim ela os descreve, são sempre prestativos. A deficiência não a impede de exercer suas atividades com destreza.
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Olhar diferenciado
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Tatianara, assim como a chefe de trem, concorda que não há muitas mulheres exercendo cargos de liderança e ressalta a importância do olhar diferenciado e da conduta da profissional do sexo feminino diante das tomadas de decisão. A inspetora criou uma identidade profissional inspirada em seu pai, que também é um colaborador da empresa há 33 anos, desempenhando a mesma função que ela.
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No setor de Eva, são cinco chefes de trem que trabalham por escala. Eles são responsáveis por conduzir e gerenciar a equipe, que é composta por aproximadamente 40 pessoas e mantêm a organização dentro do espaço por onde passam mais de mil passageiros por dia e um total de mais de 300 mil por ano, garantindo que todos tenham uma viagem agradável, tranquila e segura. São cinco vagões executivos, sendo um para portadores de necessidades especiais (PCD), 13 destinados à classe econômica, um social e outro para o restaurante. São no total, 21vagões.
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Na operação, área de Tatianara, a equipe também é composta por cinco inspetores que coordenam cerca de 40 pessoas e monitoram, 24 horas por dia, toda a estrada férrea de Carajás, que possui 892 quilômetros de extensão, partindo de Parauapebas, no estado do Pará, até a capital, São Luís-MA.
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Ambas consideram que um dos maiores desafios na função de líder é a de intermediar conflitos, pois lidar com ser humano é algo complexo. Deve haver controle emocional e domínio próprio, pois surgem situações em que o conhecimento e o equilíbrio são fundamentais. “Para trabalhar com pessoas, deve-se gostar de pessoas”, afirma Eva, que relatou já ter sofrido algumas situações com passageiros como assédio moral, inclusive daqueles detentores de conhecimento das leis, que deveriam aplicá-los. Existem ainda alguns que têm resistência em aceitar que a palavra final seja proferida por uma mulher. E há ainda mulheres que são tão, ou mais machistas que os próprios homens.
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Machismo
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Questionada sobre atitudes machistas em relação à sua função, Eva diz que certa vez um passageiro estava fumando no corredor do trem e, ao avistá-la passando pelo local disse: “Essa aí não resolve nada!” Imediatamente, ela retornou e pediu para que ele parasse de fumar, porém o passageiro retrucou dizendo: “Eu vou continuar, quem vai me fazer parar e me tirar daqui?”.
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Então ela citou a lei nº 9924/96, que proíbe o uso de qualquer derivado do tabaco em veículos de transporte coletivo. E que acionaria a segurança caso ele persistisse em fumar. Rapidamente o passageiro se desculpou e apagou o cigarro. Já Tatianara diz sentir certa “curiosidade” por parte dos homens: “Como assim uma mulher na liderança,chefia,comando? Como isso é possível?
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No caso da chefe de trem, isso é constatado por meio dos diversos tipos de reação dos passageiros, pois sempre que surge uma situação na qual se faz necessária sua presença fica visível o espanto das pessoas ao perceberem que uma mulher se aproxima para lidar com a circunstância. Já dentro da empresa, Eva afirma que o respeito dos colegas a faz sentir tão bem que ela até esquece a deficiência. E diz que se sente motivada todos os dias e feliz para ir ao trabalho.
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A inspetora de pátio compartilha do mesmo sentimento de contentamento em relação aos colegas de trabalho e dos valores da empresa que estão pautados no respeito, inclusão e igualdade de gênero, os quais considera de suma importância.
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Ao serem questionadas sobre ser mais fácil para um homem do que para uma mulher liderar, as duas afirmam que depende do perfil do individuo. E que atualmente existem diversas mulheres exercendo funções tidas como de exclusividade masculina. Essas profissionais do sexo feminino estão quebrando estereótipos e paradigmas impostos por uma sociedade ainda machista que comanda o mercado.
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Ambas consideram que há muito a ser feito no sentido de conscientizar as empresas, organizações e instituições sobre a importância da inserção da mulher em cargos de liderança.
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Perguntada se há inspiração em alguém para exercer a função, Eva responde que se espelha em seu pai e nos valores que ele agregou para sua formação pessoal e profissional. Conta que não teve uma adolescência fácil, principalmente por conta da deficiência. E que ele nunca permitiu que seus irmãos zombassem de sua condição física e sempre foi seu maior motivador e incentivador para que ela não desistisse de seus objetivos. Sempre dando total liberdade para suas escolhas. “Uma de suas maiores qualidades enquanto profissional sempre foi saber administrar e ser detalhista. Um homem de personalidade forte. Hoje trilho meu caminho inspirada nele”, confessa.
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Indagadas sobre o que falta para que mais mulheres alcancem cargos de liderança as duas são bastante enfáticas: Falta conscientização das organizações. Afirmam que tudo o que agrega conhecimento merece investimento. Não necessariamente em dinheiro, pois existem inúmeros cursos de qualificação e capacitação gratuitos. Mas sim, investimento de tempo e sede de conquista.
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Tatianara reforça: Não é deixar de ser feminina, mas sim buscar o seu lugar ao sol, buscar oportunidades e ao encotrontrá-las, aproveitá-las. É buscar a realização profissional independente do cargo e função.
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Eva acrescenta: “A mulher deve se empoderar mais, lutar, buscar qualificar-se e persistir, muitas apenas baixam a cabeça”. Lute! Já pensou se eu decidisse ficar parada por conta da minha deficiência? Com certeza não estaria onde estou hoje. Gosto de desafios!”
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