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Ainda que as mudanças climáticas em curso coloquem o meio ambiente no topo de nossas preocupações, o conceito de sustentabilidade vem se ampliando de modo a englobar tudo o que se refere a nosso impacto sobre o mundo em que vivemos e como queremos que ele seja no futuro . Quatro mulheres, em áreas distintas, refletem aqui a diversidade que uma abordagem sustentável pode ter: Katia Barros, da Fazenda; Maya Colombani, da L’Oréal Brasil; Marina Cançado, da XP INC; e a arquiteta e urbanista Ester Carro. O que elas têm em comum? Todas sabem que ser sustentável também é cuidar de si mesmo.
Katia Barros
Sócia-fundadora e diretora criativa da Farm, Katia Barros afirma que a sustentabilidade está na essência da marca desde o seu início, em 1997. “A natureza é uma das grandes verdades da Farm. Mas ser sustentável vai além da questão ambiental. Envolve o impacto do negócio sobre todo o contexto ”, diz Katia, que considera igualmente importante o cuidado na relação com as pessoas e a valorização da autoestima. “Falamos muito da cultura do país”.
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Para não cair na armadilha de uma narrativa “eco” vazia – o chamado greenwashing , quando empresas propagandeiam virtudes ecológicas sem transparência de processos e metas -, Katia fez questão de obter um selo do Sistema B Brasil, uma certificação de que a Farm alia desenvolvimento socioambiental à geração de lucros. E isso também passa pelo uso de viscose, uma de suas principais matérias-primas. “Como ela está atrelada ao desmatamento, resolvemos plantar. Foi uma decisão técnica, necessária, então temos um número: decidimos plantar mil árvores por dia, todos os dias, enquanto existirmos. Há um ano fazemos coleções carbono neutro. ”
Em seu dia a dia, Katia busca também um equilíbrio sustentável entre trabalho e vida pessoal. A acorda sempre às 8h30, medita e faz ioga antes de iniciar a rotina na marca. Corre seis vezes por semana, “faça sol, faça chuva”. E mora numa casa que “tem bicho, planta, fruta”, no Jardim Botânico. “Estar perto da natureza para mim é fundamental.”
Marina Cançado
Desde anteontem do ano passado, Marina Cançado é cabeça de riqueza sustentável da XP Private, braço da empresa que cuida dos investimentos de clientes com grandes patrimônios. Por meio de eventos, workshops e produção de conteúdos diversos, Marina busca convencer a clientela que é “possível e muito relevante” para seus portfólios incluir investimentos que integram aspectos ambientais, sociais e de governança, práticas de administração reunidas sob a sigla ESG. “Muitos setores e empresas caminham nesta direção, e entendemos que elas vão gerar um retorno superior a longo prazo”, avalia.
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Para Marina, estes investimentos ganharam força com a crise sanitária: “A pandemia divulgada como nossas ações impactam a vida do outro”, diz. Um de seus desafios, afirma, é mudar a “mentalidade cristalizada no brasileiro de que obter lucro e contribuir para uma sociedade não podem andar juntos”. Para manter o que chama de “produtividade sustentável”, a executiva se mudou para Piracicaba e vai a São Paulo apenas uma vez por semana. No interior, encontra o “espaço vazio necessário para as ideias se conectarem e florescerem”. Acorda às 6h, exercita-se na hora do almoço e prática tênis à noite. Faz terapia uma vez por semana e pratica diariamente.
Ester Carro
Aos 26 anos, Ester Carro tem um currículo para lá de respeitável: arquiteta e urbanista, é mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, e professora e pesquisadora no Núcleo de Mulheres e Território do Laboratório de Cidades, do laboratório Arq. Futuro do Insper. Desde que se formou, em 2017, empresta sua expertise a um empreendedorismo social, como presidente do movimento Fazendinhando, no Jardim Colombo, Zona Oeste de São Paulo.
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Um de seus trabalhos por lá é a transformação de um antigo lixão em um parque multifuncional, para abrigar de hortas a quadras esportivas e também espaços para manifestações artísticas. E ela não para aí: “Começamos a mapear outras áreas da cidade que possuem características comuns. Espaços abandonados, que possivelmente seriam comprados pelo mercado imobiliário fazendo com que a gente tivesse cada vez menos áreas verdes. É algo que, por sua vez, impacta diretamente nas mudanças climáticas ”, diz Ester, que também trabalha com uma capacitação de mulheres para gastronomia, artesanato e construção civil.
Mãe de Ilias, de 6 anos, Ester conta que busca não ultrapassar seus limites próprios com a vida agitada que leva: “Antes de querermos mudar o mundo, temos de pensar em nós mesmos. Se não estivermos bem, não teremos capacidade para fazer algo que impacte ”, afirma, com propriedade.
Maia colombani
Maya Colombani é diretora de sustentabilidade da L’Oréal Brasil há cinco anos. O cuidado com a biodiversidade brasileira, a regeneração dos ecossistemas, a descarbonização do transporte e políticas globais, como a meta de fórmulas com 95% de ingredientes naturais ou renováveis, até 2030, estão entre suas atribuições. Mas a atuação é mesmo marcada por um “protagonismo social profundo”. Ela trabalha em três pilares: saúde, segurança alimentar e empoderamento feminino, com destaque para este último. A L’Oréal Brasil capacita anualmente mil mulheres em oito escolas profissionalizantes de beleza que mantém no país. Seu foco são vítimas de violência social ou que ocorreram gravidez precoce. “São mulheres guerreiras que nunca tiveram uma porta aberta. E assim expressar seus talentos e achar um trabalho digno ”, observa.
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Maya também busca levar uma rotina equilibrada entre trabalho e vida pessoal: “Eu me recuso a escolher entre ser uma boa mãe ou boa profissional”. A sua rotina inclui passeios no Parque Lage e desenhar “quase uma segunda meditação para mim”. Busca economizar água e luz, comprar apenas ovos caipiras e legumes orgânicos. Reduziu “de modo radical” seu consumo de carne. “Consumo mais cultura, viagens e livros.”