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Veja publicação original: Mulheres motoristas de aplicativos contam seus perrengues
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Formada em gestão ambiental, a paulistana Anna Toddai, de 36 anos, há dois, cansou de procurar trabalho na sua área. Como adora dirigir – e precisava de dinheiro – decidiu virar motorista de aplicativo. Hoje, com um faturamento de R$ 4 mil por mês, ela diz que não troca o volante por nada, mesmo sujeita a assaltos e assédio, problemas frequentes na vida de dez motoristas de apps ouvidas pela reportagem.
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“Uma vez peguei um passageiro, que se sentou no banco da frente. Uma hora, quando fui trocar a marcha, ele pegou a minha mão e colocou nas partes íntimas dele”, disse Toddai. “Fiquei louca da vida e mandei descer do carro”. O episódio aconteceu numa madrugada, hora do dia que ela prefere trabalhar, porque, avalia, “é mais tranquilo”. Além do trânsito menos carregado, disse que se sente menos insegura. “De dia, se você é assaltada no farol, não tem o que fazer. À noite, dá para fugir”.
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De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo de maio de 2018, houve um crescimento de mais de 18% nos roubos a motoristas de aplicativo em relação ao primeiro trimestre do ano anterior. Para Anna, os aplicativos deixam os motoristas no escuro, porque fornecem informação quase nenhuma sobre os passageiros que pedem corrida. “Os aplicativos tinham que puxar CPF e antecedentes criminais deles, assim como fazem com os motoristas”, afirmou.
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Para tentar aumentar a segurança dos motoristas, os apps desenvolvem algumas estratégias. A empresa Lady Driver, a única que só tem mulheres como motoristas e que só aceita mulheres como passageiras, foi aberta no ano passado, depois que uma de suas fundadoras sofreu assédio dentro de um carro de aplicativo. Hoje, a Lady Driver possui cerca de 30 mil colaboradoras cadastradas, opera em São Paulo, Guarulhos e em algumas áreas do Rio de Janeiro e informa que é a única empresa que checa cada passageira na base de dados da Polícia Federal e da Receita Federal. “Verificamos a veracidade de cada cadastro; não entram informações falsas de passageiras em nossa base”, informa a empresa.
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Segundo dados do setor, as mulheres são a maior parte do público que utiliza apps, mas a minoria quando se tratam de motoristas: algo em torno de 15 a 20%.
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A violência das cidades espanta muitas mulheres que gostariam de trabalhar na área, e, as que a enfrentam, se protegem de maneiras, às vezes, também perigosas. A paulista Márcia dos Santos, de 37 anos, por exemplo, comprou spray de pimenta e taser — aparelho que dá choque. Ambos têm uso proibido por civis segundo a legislação brasileira. Apenas agentes de segurança podem utilizá-lo. Márcia, que tem um filho de 10 anos, conta que decidiu “se armar” depois que foi assaltada à noite, perto do parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo.
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“Estava parada no farol e o ladrão deu uma pancada com alguma coisa pesada no vidro. Veio muito vidro em cima de mim. Eu pensei que alguém tivesse batido no meu carro porque ele balançou inteiro. Puxei o freio de mão para descer e ver o que havia acontecido. Nessa hora, o ladrão entrou no carro, puxou meu celular e sumiu”, conta a motorista.
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Márcia sofreu uma segunda violência. Numa madrugada, meses mais tarde, um passageiro passou a mão em sua perna durante uma viagem numa estrada. “Encostei no primeiro posto de gasolina que vi e pedi para os frentistas o tirarem do meu carro”, conta.
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Motorista de aplicativos há dois anos, Juliana de Oliveira Dantas, de 32 anos, também foi vítima de assédio e duas vezes. Com medo de passar por isso de novo, mudou o jeito de se vestir para trabalhar. “Não fico com as pernas de fora. Sempre uso calça ou saia comprida”, disse. “Também evito usar regata e maquiagem. Notei que, quando usava, os homens ficavam mais engraçadinhos”.
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Outro problema apontado por ela e outras motoristas ouvidas pela reportagem é que a maior parte dos aplicativos não divulga o destino dos passageiros antes que eles entrem no carro. “Como é que vou saber se é área de risco ou não? Não posso me submeter a esse perigo”, diz Anna Toddai.
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Em nota, o aplicativo Uber informou que “segurança é uma prioridade” da empresa. Diz o texto que os motoristas que usam o app podem compartilhar sua localização com quem quiserem e ligar para a polícia por meio de uma ferramenta desenvolvida pelo aplicativo.
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Por meio de sua assessoria de imprensa, o app 99 informa que a plataforma faz mapeamento de zonas perigosas das cidades. Afirma ainda que investiu na montagem de uma equipe com 70 pessoas que trabalham 24 horas por dia a fim de garantir a segurança do serviço que oferece. A empresa comunica que está fazendo testes com câmeras de segurança instalados dentro de seus carros. “O equipamento será diretamente conectado à Central de Segurança da 99, onde os dados serão processados e mantidos em confidencialidade”, diz a nota.
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Sem a garantia de segurança pelos aplicativos, um grupo de motoristas paulistanas decidiu criar um grupo independente no WhatsApp. São 40 mulheres que ficam conectadas o tempo todo para se proteger. Denise Silva Santos, de 57 anos, é uma delas.
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Há mais de três anos trabalhando como motorista, ela diz que existe um código dentro do grupo na hora de se comunicar. “‘Você pode fazer um favor para mim’? Quando alguém faz essa pergunta é porque está em perigo”, conta Denise. “A motorista então manda a localização dela para o grupo. Quem estiver mais perto vai seguindo o carro e tentando procurar ajuda da polícia enquanto isso”.
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