Saiu no site G1:
Veja publicação original: Mulheres devem ficar de fora da disputa pelo governo em 8 estados
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Por Gabriela Brito e Rafaela Putini
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Em Alagoas, Amapá, Amazonas, Ceará, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul e Rondônia só há candidaturas de homens ao Executivo. Chapas ainda podem mudar.
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A disputa pelo governo nas eleições de 2018 deverá se dar apenas entre homens em 8 estados brasileiros: Alagoas, Amapá, Amazonas, Ceará, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul e Rondônia, segundo um levantamento do G1 com 186 nomes confirmados após as convenções partidárias.
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Em 7 desses estados, nenhum partido político lançou uma candidata para a chefia do Executivo estadual durante o período de convenções – primeiro passo para a oficialização das candidaturas –, que terminou no domingo (5). No Rio Grande do Sul, havia uma, do PCdoB, mas a legenda desistiu do nome na segunda-feira (6).
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O cenário ainda pode mudar, pois os partidos ainda precisam registrar as candidaturas até o dia 15 e têm até o dia 17 para fazer alterações nas chapas. Nesse período, podem ocorrer desistências e substituições.
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O número de estados sem mulheres candidatas ao governo em 2018 é menor do que o registrado em 2014. Naquele ano, foram 10 estados (Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco e São Paulo), de acordo com os registros do Tribunal Superior Eleitoral. Em 2010, foram 13, e em 2006, 9.
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Os dados para os anos anteriores levam em consideração as candidaturas apresentadas ao TSE, independentemente de os candidatos terem ou não obtido autorização para concorrer, pois a Corte também não avaliou as candidaturas deste ano até o momento. As informações foram obtidas no CespespData, que organiza as informações oficiais disponibilizadas pelo TSE.
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A região Norte, assim como em anos anteriores, concentra o maior número de estados sem candidaturas de mulheres ao governo: 4 dos 7 existentes (veja relação abaixo).
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- 2018: Amapá, Amazonas, Pará e Rondônia
- 2014: Acre, Amapá Amazonas e Pará
- 2010: Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins
- 2006: Acre, Amazonas e Amapá e Tocantins
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E, mesmo nos estados do país em que há candidaturas de mulheres (18 estados mais o DF), o número de homens na disputa é sempre maior. Isso se reflete nos números gerais até agora: das 186 candidaturas atuais, 160 são masculinas e 26 são femininas.
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O Brasil não possui legislação que obrigue os partidos a lançarem mulheres para cargos majoritários, como os de governador. A legislação que estabelece o preenchimento de ao menos 30% das vagas por cada gênero só se aplica a cargos proporcionais – deputados, na eleição de 2018. Por isso, as legendas têm total liberdade para deixar as mulheres de fora das disputas pelo Executivo.
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Para Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a inexistência de candidaturas de mulheres ao governo em vários estados do país está ligada a dois fatores interrelacionados:
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- Os partidos não preparam as mulheres para que elas possam disputar com os homens, em pé de igualdade, a vaga de candidato
- O cargo de governador é usado como moeda de troca nas alianças. Por isso, os partidos apostam em nomes mais consolidados – que tendem a ser homens
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“Cargo de governador é muito visado. Então existe uma dificuldade dos partidos de terem mulheres com musculatura eleitoral para a disputa e eles acabam privilegiando as candidaturas masculinas que já tem uma trajetória na vida política”, explica.
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Para Helcimara Telles, professora de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos fatores principais para a falta do que Maria chama de “musculatura política” é que, para participar da política, a mulher precisa dar conta de uma jornada tripla: o trabalho, o cuidado doméstico e a atividade política.
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“[Isso] impede que as mulheres tenham tempo e disponibilidade para participar da mesma forma que homens das atividades dentro dos partidos.”
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Helcimara afirma que, uma vez dentro da atividade política, as mulheres contam com menos apoio — os partidos têm menos interesse em colocar dinheiro nas candidaturas femininas, por exemplo. Maria do Socorro, da UFSCar, lembra que, neste ano, as legendas são obrigadas a investir nas candidaturas femininas 30% do Fundo Eleitoral, uma das principais fontes de financiamento das campanhas.
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“A tendência é que os partidos, especialmente médios e pequenos, que têm mais dificuldade de sobreviver e perdurar, turbinem suas disputas para fazer boas bancadas e aumentar a capilaridade para atrair mais apoio, apostando em candidaturas conhecidas e masculinas”, diz Maria do Socorro Braga, da UFSCar.
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*Estagiárias, sob supervisão de Vitor Sorano. Colaboraram G1 AL, Fabiana Figueiredo, John Pacheco, Lorena Kubota e Rita Torrinha (G1 AP), G1 AM, G1 CE, G1 MT, Gabriela Azevedo e Jorge Sauma (G1 PA), G1 RO e G1 RS.
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