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Muito usado para justificar feminicídio, ciúme é sempre tirano e limitador

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Veja publicação original:   Muito usado para justificar feminicídio, ciúme é sempre tirano e limitadorf

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Por Regina Navarro Lins

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Em São Paulo, das 364 denúncias de feminicídio protocoladas pelo MPSP entre março de 2016 e março de 2017, 30% delas tiveram como justificativa “ciúme, sentimento de posse ou machismo”. Em Goiás, o TJ-GO informa que há mais de 67 mil processos em tramitação relacionados à Lei Maria da Penha. Dentre eles, a palavra “ciúme” foi usada mais de 50 mil vezes em atos judiciais, despachos e sentenças.

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Não há dúvida de que a relação amorosa entre homens e mulheres sempre foi prejudicada pelo ciúme. Inicialmente o do homem estava ligado ao medo de falsificação da descendência — dar o próprio nome e criar um filho que não fosse seu. Esse temor serviu para justificar a extrema violência que as mulheres sofreram nas sociedades patriarcais. Para elas, que só podiam exprimir dedicação e obediência, esse sentimento era proibido de se manifestar, caso existisse.

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Não são poucos os que defendem a existência do ciúme nas relações amorosas. A maioria acredita que ciúme é prova de amor. Mas de qualquer forma o ciúme é sempre tirano e limitador. Sua origem é cultural, mas é tão valorizado, há tanto tempo, que passou a ser visto como parte da natureza humana. Mulheres que buscam refúgio em abrigos para mulheres agredidasrelatam quase invariavelmente que seus maridos fervem de ciúme.

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Num estudo sobre mulheres espancadas, muitas das quais necessitaram de cuidados médicos, a mulher típica relatava que o marido “tenta limitar meu contato com amigos e família” (a tática da ocultação); “insiste em saber onde estou a todos os momentos” (a tática da vigilância) e “me xinga para me rebaixar e para que eu me sinta mal a respeito de mim mesma” (a tática de minar a autoestima).

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O ciúme dos homens coloca as mulheres em risco de serem assassinadas. O psicólogo americano Vincent Miller acredita que em alguns casos o ciúme se torna negro e perigoso, numa erupção vulcânica súbita de ansiedade de abandono, que algumas pessoas mantêm contida enquanto possuem o controle sobre seus parceiros.

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Um não se sentir dono do outro, as pessoas saberem que estão juntas por prazer e não por qualquer outro motivo, só enriquece a relação. Mas muitos acreditam que, numa relação amorosa, só controlando o outro há a garantia de não ser abandonado. Existem pessoas que preferem até abrir mão da própria liberdade, desde que seja um bom argumento para controlar a liberdade do parceiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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