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Movimento #Exposed: mulheres expõem casos de assédio e estupro no Twitter

 

Saiu no site UNIVERSA

 

Veja a publicação original:  Movimento #Exposed: mulheres expõem casos de assédio e estupro no Twitter

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Por Nathália Geraldo

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Jovens que foram assediadas, estupradas, que viveram um episódio de abuso sexual criaram um movimento no Twitter — o #Exposed somado ao nome da cidade em que cada uma mora — para falar sobre o que as manteve caladas por muito tempo: ter sido vítima de um agressor, por vezes, conhecido em determinados grupos, o que faz com que a mulher sinta vergonha, medo ou dificuldade de revisitar o episódio traumático.

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“Exposed” é um termo usado nas redes sociais especialmente quando alguém é denunciado por uma ação que antes ninguém sabia. No Twitter, os relatos partiram de São Paulo, Joinville, Londrina, Curitiba, Porto Seguro, Aracaju, entre outros estados e cidades.

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#JustiçaPorTodasNós: no Twitter, jovens usam hashtag para relatar abusos

Mudam as localidades, se repetem alguns detalhes: os abusos acontecem após as mulheres terem dito “não” ao agressor; por vezes, elas tinham bebido e, portanto, se tornaram alvo de abusos e atitudes sem consentimento até mesmo de alguém com quem estavam se relacionando. Há ainda quem tenha vivido um estupro — e só anos depois conseguiu erguer a voz para dividir as dores decorrentes da situação. Aliás, nem sempre é fácil encarar o fato de que ser mulher no Brasil machuca. É por essa razão que a união feminina do “Exposed” tem tanta força.

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Exposed de abusadores no Twitter: entenda movimento

Com a hashtag “Exposed”, usuárias do Twitter estão reportando casos — e seus desdobramentos emocionais, especialmente — de quando foram abusadas por homens. Há situações em que elas foram abordadas na rua, em festas, por ex-parceiros, exposição de nudes na internet. Todas as ações são crimes previstos em lei. Além da hashtag por localidade, também foram criadas a #MeuAbusadorSecreto, em que elas falam sobre comportamentos machistas e abusadores sem revelar o nome dos autores, e a #JustiçaParaTodaNós.

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Uma das primeiras movimentações de mulheres neste sentido aconteceu em 2015, com o #MeuAmigoSecreto, que ocupou as redes sociais com relatos de quem sofreu com atitudes machistas e violentas de homens conhecidos.

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Falar sobre o trauma pode ser um dos caminhos para que a pessoa “valide o seu sofrimento”, disse o psiquiatra do Ambulatório de Sexualidade Humana do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, Thiago Dornela Apolinário, em entrevista para Universa.

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“Existe muito medo do julgamento, o que faz com que a mulher não consiga expor o que aconteceu. Ao contar para alguém e perceber que a pessoa valida o seu sofrimento, ela entende que foi, de fato, um trauma e que merece apoio e cuidado”. A decisão de expôr o caso, no entanto, depende da condição emocional de cada mulher. “Isso tem que ser respeitado. Às vezes, o estupro é tão dolorido que as vítimas não conseguem verbalizar.”

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Cinco anos depois de um estupro, Marcela*, de 20 anos, resolveu falar sobre o que tinha sofrido. Em um relato que contribuiu para a #ExposedLondrina, ela conta de quando foi chamada para uma “social” por um homem mais velho com quem conversava na casa de um amigo dele. Em um momento em que ela foi ao banheiro, ele a fechou no quarto ao lado e disse que ela só sairia de lá depois de “dar” para ele.

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Tudo que aconteceu depois dali ficou como um ‘blur’ na minha cabeça (…) Fiquei parada, deitada na cama até ele terminar, disse que estava doendo, não adiantou.

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Para Universa, Marcela disse que foi difícil escrever sobre o episódio. “Fiquei três horas pensando se deveria ou não, eu estava com medo de ser recebida negativamente ou ser perseguida novamente, como fui na época”, disse. “Ter que lembrar alguns detalhes dolorosos me deixou abalada e nervosa, como se eu estivesse voltando no tempo e encarando todos aqueles sentimentos novamente. Com o compartilhamento de sua história, como aconteceu com vários relatos do movimento “Exposed”, a jovem recebeu apoio virtual de outras mulheres.

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“Eu senti um alívio muito grande por ter falado, parece que tirei um peso de mim, porque as pessoas nunca entendiam o porquê da minha depressão e agora eles conseguem entender um pouco mais sobre a minha condição”. Marcela diz que faz tratamento psiquiátrico e psicológico desde 2016, “quando a ficha caiu” que havia sido vítima de estupro.

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“Ainda tenho pensamentos de culpa mas tento me policiar quanto a isso. Minha saúde mental é como uma montanha russa, às vezes estou bem e às vezes entro em um buraco negro; apesar de sentir que isso se deve a fatores mais atuais. Sobre o ocorrido, ainda enfrento algumas limitações durante relações sexuais e tenho problemas de insegurança quanto ao meu corpo e até quanto às minhas capacidades acadêmicas”.

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Marcela diz que não fez boletim de ocorrência sobre o caso, “porque já fazia muito tempo”. “Já tinha se passado quase dois anos, eu não tinha provas contra ele, apenas minha palavra”.

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Uma informação: graças à chamada “Lei Joanna Maranhão”, de 2012, o prazo de prescrição de abuso sexual de crianças e adolescentes é contado a partir da data em que a vítima completa dezoito anos. Assim, as vítimas têm mais tempo para denunciar e punir seus abusadores.

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Acolhimento, união feminina e o sentimento de não estar sozinha

Mulheres se unem e ficam em alerta para comportamentos de abusadores; movimento na internet prova que "não estamos sozinhas" como vítimas de abuso sexual - Ponomariova_Maria/Getty Images/iStockphoto
Mulheres se unem e ficam em alerta para comportamentos de abusadores; movimento na internet prova que “não estamos sozinhas” como vítimas de abuso sexual

Imagem: Ponomariova_Maria/Getty Images/iStockphoto

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Falar sobre ter sido assediada — e denunciar isso a autoridades policiais e dar seguimento ao caso judicialmente — pode ser bem difícil. Universa reporta com frequência, infelizmente, casos de abuso sexual em que há repetição de padrões comportamentais dos abusadores; por outro lado, há a triste constatação de que as mulheres se sentem coagidas a relatar o caso (o que se agrava durante a pandemia de coronavírus), tendo ele acontecido pontualmente, dentro de relacionamentos abusivos, ou em um ambiente comum a ela, como na família ou na escola.

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Por essa razão, o movimento “Exposed” gera acolhimento entre as mulheres e serve de ferramenta para incentivar a denúncia dos abusos — afinal, a vítima nunca tem culpa e pode se sentir mais segura ao saber que o autor do crime responderá judicialmente.

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Se eu sou amiga do seu agressor, me avise

No movimento, algumas mulheres identificaram que foram vítimas dos mesmos abusadores. Por essa razão, parte delas fez uma lista com nomes em comum; outras se propuseram a conversar com quem foi vítima de alguém conhecido de muitas — o que acontece, por exemplo, em grupos e ambientes fechados, como em escolas. A ideia é que as mulheres formem uma rede de apoio e proteção contra agressores — que já fizeram vítimas ou potenciais.

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mariana x@marixcamaraa

Mulheres, por favor me avisem se eu sou amiga do seu estuprador/abusador. Se voce nao quer postar o nome, me chama na dm, me conta. Eu nao quero ser amiga de estuprador, eu nao quero ser proxima e eu quero me proteger e proteger quem eu amo! É importante falar.

168 pessoas estão falando sobre isso

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Como denunciar violência sexual

Além de uma gama de aplicativos e canais de apoio e proteção à mulher, há os atendimentos oficiais: ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência) e o e-mail ligue180@spm.gov.br. Já o Disque 100 é um telefone para denúncia de casos de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.

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Pela internet: quase todos os estados adotaram o Boletim Eletrônico de Ocorrência, com um campo específico para violência doméstica. Não deixe de avisar no registro se é necessária a medida protetiva. Presencialmente, busque Delegacias da Mulher ou — se você está sendo alvo de violência agora — Casas da Mulher Brasileira.

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