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Moda, arte e feminismo asiático com Caroline Ricca Lee

Saiu no site REVISTA ELLE:

 

Veja publicação original:    Moda, arte e feminismo asiático com Caroline Ricca Lee

 

A artista é uma das participantes do projeto Melissa Meio-Fio, que reúne jovens criativos de São Paulo para repensar a cidade e quebrar estereótipos.

Por Nathalia Levy

 

Para Caroline Ricca Lee pintar o rosto é autoconhecimento e cuidar da pele é conexão. Se a maquiagem, assim como a moda, pode ser uma poderosa ferramenta de expressão, para indivíduos racializados ela ganha outras nuances. “Gosto de me maquiar porque é uma relação comigo de amor e cuidado. Ligo uma música, me olho e me expresso. Não tenho isso de querer abrir meu olho, deixar meu rosto mais fino. Meu mood às vezes vem do batom e a partir disso vou construindo essa emoção”, ilustra a artista visual sino-japonesa que fundou a Plataforma Lótus, um espaço de encontro e vocalização para brasileiras descendentes de asiáticos e imigrantes, que nasceu como um grupo de estudos e agora reúne cerca de mil mulheres se conectando e trocando vivências.

 

Com um corte de cabelo curtinho, delineados gráficos e roupas cheias de detalhes, Ricca não costuma passar despercebida nos lugares que frequenta. Hoje, seu visual desafia os estereótipos nos quais muitas mulheres de ascendência asiática são enquadradas, mas isso também revela uma construção de estilo intrinsecamente ligada a esse olhar do diferente que sempre foi colocado sobre o seu corpo. “Eu era platinada aos 15 anos porque gostava de usar meu corpo como expressão. Se eu ia chamar atenção por ser asiática, então resolvi que ia ser a asiática mais doida”, relembra rindo. Naturalmente, a ligação com as roupas e consequentemente com a moda foi surgindo, principalmente porque sua mãe possuía um armário recheado de materiais a serem explorados por uma jovem em processo de autoentendimento.

Caroline-Ricca-Lee-melissa-meio-fio

Uma faculdade de moda e diversas experiências com figurino depois, ela atualmente se considera uma “costureira freestyle” e em seu trabalho experimenta com saberes manuais como o tricô, a tapeçaria e o tear. “Uso essas técnicas para elaborar minha pesquisa de memória, raça e gênero. A roupa é nossa pele sintética, a gente não se apresenta para o mundo sem ela já que a nudez ainda é totalmente criticada. Nada é livre de significado, o vestuário não está isento e isso me emociona”, explica ao se afastar da ideia de que esses processos precisam ser associados ao feminino de uma forma limitadora. “Isso não me prende. Ao contrário, é o que eu uso como matéria-prima de voz”.

A militância em prol do feminismo interseccional asiático e as criações com tecidos, bordados, figurino e performance levaram Ricca à segunda temporada do Melissa Meio-Fio, iniciativa da marca que mapeia a cena artística efervescente de São Paulo, e propõe um novo olhar para a cidade. Todos foram convidados a mostrar suas rotinas no Instagram, e, na sua vez, ela levou os leitores à Liberdade, onde mora, e quis mostrar a pluralidade imigracional do Brás e do Bom Retiro, lugares que ama e frequenta. “É quase como entrar em um recorte de tempo e espaço. Eu acho lindo ir ao restaurante judaico, ao café sul-coreano, jantar no filipino. É uma sensação inspiradora de alteridade e de se sentir parte do todo”.

Relembre a primeira edição do Melissa Meio-Fio

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Há meses dentro do Meio-Fio, fotógrafas, maquiadoras, designers, performers e mais criativos estão debruçados em projetos que serão apresentados no fim deste ano. O mix é complexo e há pessoas de diferentes contextos reunidas, mas essa troca é definitivamente o que há de mais valioso nesses encontros. Foi ao entrar em contato com outras vivências, inclusive, que Ricca passou a compreender melhor como o preconceito e a estereotipização influenciaram a sua trajetória.

“Eu tinha medo de me destoar quando era mais nova, me achava estranha e me perguntava por que eu era diferente já que era a única asiática na minha sala. O Riot Grrrl me ajudou a não aceitar as restrições de gênero e o movimento negro me auxiliou a perceber que eu não era negra, mas também não era branca, e que essa vivência causou, sim, consequências na minha vida”, relembra. “A violência contra corpos negros é algo incomparável e temos que compreender nossos privilégios, mas isso não pode se tornar uma desculpa para não sermos nada. A Lotus não é sobre separação, é uma questão de encontrar os nossos locais de pertencimento com a nossa própria história. O que é esse corpo amarelo? É ir contra a fetichização e dizer ‘eu não sou um item colecionável’.

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Essa multiplicidade de referências também acabou se refletindo na forma como Ricca se apresenta por meio de seus diversos trabalhos artísticos e uma palavra definitiva que a explique sua atividades não é algo que ela está procurando. “Minha criação é cheia de ruídos e acho que isso se reflete no meu gosto pelo rasgado, emaranhado de reunir tudo num bordado só. Eu escolho o caos como processo, um caminho e não como efeito colateral”. Vale ler o texto que ela escreveu sobre isso no FFW e, assim como ela, perceber que a beleza pode estar naquilo que não é óbvio.

 

 

 

 

 

 

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